sábado, 7 de setembro de 2024

Dora Kramer - O jogo recomeça

Folha de S. Paulo

A ideia na Câmara é construir consenso capaz de reduzir estresse com o Planalto

À primeira vista a cena da sucessão na presidência da Câmara ficou mais obscura, mas à luz da realidade da Casa a coisa clareou e se encaminha para a tentativa de construir um consenso. Não como previsto no roteiro até então apresentado ao público. Nele, Arthur Lira (PP-AL) colocaria o deputado Elmar Nascimento (União-BA) debaixo do braço e goela abaixo do governo e demais políticos a ele resistentes.

Agora o jogo é pela busca da acomodação de forças de governo e oposição em torno de Hugo Motta (Republicanos-PB). Não foi bem uma reviravolta clássica, porque o nome dele figurava há pelo menos três meses como uma espécie de reserva técnica para o caso de não se chegar a um entendimento forte o suficiente para não representar risco de derrota para Lira.

Amigo de Elmar, o presidente da Câmara é, antes de qualquer coisa, um pragmático. Percebeu que a hora é de aliviar tensões.

Até para manter intactos os interesses dos deputados num Legislativo poderoso, é preciso observar limites para evitar que em algum momento a corda excessivamente esticada arrebente em forma de escândalos.

O cenário hoje é muito diferente daquele em que Arthur Lira venceu o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na base do enfrentamento e, assim reeleito, manteve-se desde então reafirmando sempre sua liderança interna na base do confronto. Ora implícito, ora explícito.

Das várias candidaturas iniciais, sobraram as de Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antônio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento. O primeiro desistiu, o segundo é arma de negociação de Gilberto Kassab (PSD-SP) e o terceiro padeceu por força da sede ao pote e de confiança na amizade de Lira. Seria também um perfil agressivo, inadequado à necessidade do momento.

Daí retirou-se da prateleira o nome de Motta, dono de quatro mandatos apesar da pouca idade (34 anos), de figurino moderado, com trânsito no baixo clero (veio de lá) e, sobretudo, agora o preferido dos mandachuvas que apostam nele para inaugurar uma fase, senão de paz absoluta, ao menos que permita a troca da pressão constante pelo hábito da negociação permanente.

 

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