Folha de S. Paulo
Há distância entre a fama de protagonista e a
realidade ambiental no Brasil
Em abril/maio o Rio Grande do
Sul ficou debaixo d’água e agora, em setembro, o Brasil, em
parte, arde em
chamas e sofre os efeitos do fogo. Nada disso aconteceu de repente
ou por acaso. É obra de muita negligência e negação, o que soa incongruente num
país tido e havido como potência ambiental.
Há um claro distanciamento entre a imagem vendida e a realidade vivida. Na prática, poder público e sociedade dão muito pouca atenção e valor às questões ambientais. Elas fazem bonito nos discursos, mas no cotidiano só são lembradas e (mal) tratadas quando as calamidades batem à porta. Despertam solidariedade, provocam susto, mas logo se muda de assunto até que no ano seguinte as enchentes e a seca voltem a provocar desastres cada vez mais graves.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) mostram que de 2015 para cá os focos de incêndio no país mais
que dobraram. Eram 69 mil há nove anos e já são mais de 180 mil nos nove meses
de 2024. Foram quatro governos diferentes no período —Dilma, Temer, Bolsonaro
e Lula.
Vê-se, portanto, que o descaso não tem
ideologia. Tampouco diz respeito apenas ao Poder Executivo. A indiferença se
alastra ao Legislativo e se reproduz na sociedade.
Se a população estivesse realmente
sensibilizada e mobilizada em torno do problema, o Congresso não estaria entre
a inércia e o modo contravapor, dedicado a prover os interesses de suas
altezas.
É só olhar para a agenda eleitoral das
disputas municipais. À exceção de cidades gaúchas, o tema das mudanças
climáticas não entrou na pauta dos palanques como se esperava
no auge da tragédia no Sul.
Verdade que hoje o presidente da República
não teria ambiente para repetir a piada da "perereca" que, na visão
dele de 15 anos atrás, atrapalhava a execução de obras. Ainda assim, o Lula 3
cedeu a pressões para ignorar o compromisso de campanha de criar uma autoridade
climática e só o fez agora em meio ao sufoco do fogaréu.
Terá de se esforçar muito mais se não quiser
fazer feio na COP30.
Falta pouco mais de um ano.
Muito bom! A sociedade é complacente com o agronegócio, que há décadas queima e desmata para ampliar suas áreas ocupadas. Nos últimos anos, muitos antigos desmatadores e incendiários reduziram seus crimes ambientais, pressionados pelos importadores europeus e pela imprensa, mas os agrotrogloditas continuam realizando seus tradicionais crimes ambientais, até porque ainda eram estimulados a isto no DESgoverno Bolsonaro, onde o crimoso ambiental Ricardo Salles impedia e dificultava fiscalizações e punia/demitia fiscais que agissem para cumprir suas funções quando desagradassem a cúpula do MMA ou o próprio GENOCIDA (punido por pesca ilegal no RJ).
ResponderExcluirPerfeito.
ResponderExcluirIncêndios acontecem à revelia de qualquer governo.
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