O Estado de S. Paulo
Brasil e China atendem a ‘chamado’ de Putin e
voltam a articular acordo entre Rússia e Ucrânia
Depois do excesso de ambição e sucessivos
fracassos na tentativa de recuperar o protagonismo do Brasil e o prestígio
internacional de Lula, o governo agora trabalha com a China, em silêncio e
comedidamente, na busca de algum acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia.
O momento é propício, já que os dois lados dão sinais de exaustão diante de uma
guerra que se prolonga sem perspectiva de vitória para um ou para o outro.
O primeiro sinal de abertura da Rússia ao diálogo foi dado por Vladimir Putin, quando citou Brasil, China e Índia como potenciais mediadores. A partir daí, a diplomacia voltou a agir. Na semana passada, o chanceler russo, Serguei Lavrov, conversou com o brasileiro Mauro Vieira em Riad, e depois com o assessor internacional Celso Amorim, em Moscou. E Amorim já engatou contatos com seu correspondente chinês.
Essa sinalização, ou convocação, de Putin
ocorreu após a reação considerada “branda” de Moscou aos ataques ucranianos ao
território russo, também entendida como sinal de inflexão de Putin e
esgotamento da guerra. Juntando as pontas, Brasil e China puseram-se a postos,
mas a Índia, nem tanto, ao menos até onde a vista alcança e os ouvidos captam.
O pano de fundo para as conversas tem sido a
ampliação dos Brics. Essa também foi a pauta oficial do telefonema de Putin
para Lula na quarta-feira, mas mal disfarça os avanços nas conversas sobre a
guerra RússiaUcrânia, que têm até cronograma e rascunho com quatro condições
para os dois países.
O próximo passo será na semana que vem, com
mais uma rodada de conversas entre Brasil e China, em paralelo à abertura da
Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. E a proposta rabiscada prevê preservação
de alvos e cidadãos civis e troca de prisioneiros, compromisso de não uso de
armas atômicas e uma conferência de paz que inclua Ucrânia e Rússia.
Embrionária, essa construção exige paciência,
mas uma coisa é certa: é uma faca de dois gumes para Lula. O envolvimento
direto confere status a ele e ao Brasil, reduzindo as legítimas críticas de
muito falatório, pouca ação. Mas a articulação tende a aumentar as suspeitas
sobre os rumos dos Brics, da política externa brasileira e de suas alianças com
China e Rússia, que, de democracias, não têm nada.
Bem, o fato é que não só a Rússia e a Ucrânia
dão sinais de exaustão com a guerra, mas também o mundo todo, agora mais focado
no potencial devastador da escalada de Israel contra Líbano. Assim, é melhor
haver articulações de paz do que não haver nada em relação a Putin e Zelenski.
Pode ser.
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