O Globo
Resistência a novo órgão uniu os que
pretendiam defender o meio ambiente, mas protegem antes seus quadrados de
poder, e os agrotrogloditas que se beneficiam do status quo
Não se sabe o formato que terá a Autoridade
Climática anunciada por Lula em Manaus, mas sabe-se como a ideia foi queimada
em 2023, depois de ter sido prometida durante a campanha eleitoral.
Contra a criação dessa entidade militaram
dois grupos com interesses quase antagônicos. De um lado estavam os que
pretendiam defender o meio ambiente, protegendo seus quadrados de poder na
burocracia. De outro, estavam os interessados em preservar um estado de coisas
que mantinha a defesa do ambiente no mundo do palavrório. Nenhum dos dois
queria a Autoridade Climática. Prevaleceram e continuam detestando a ideia.
Passados quase dois anos, o tamanho da crise
refrescou a memória de Lula e a Autoridade Climática vem aí. Para a turma que
queimou-a em 2023, trata-se de desonrá-la. Como? Reciclando os movimentos de
2023.
Antes da posse, tratava-se de decidir onde ficaria a Autoridade Climática. Poderia ser ligada à Presidência ou ao Ministério do Meio Ambiente. Colocá-la no organograma do ministério seria uma girafa semelhante à ideia de se jogar a Agência de Vigilância Sanitária dentro do Ministério da Saúde.
Como a criação da Autoridade Climática era um
promessa para os primeiros cem dias, em abril de 2023 a ministra Marina Silva
informou:
“Se Deus quiser, em breve, como parte dos
compromissos do presidente Lula de criar a Autoridade Nacional do Clima, e isso
vai acontecer à medida que tenhamos um melhor desempenho fiscal.”
Como se viu, Deus não quis. Na frase da
ministra havia um alerta: “Vai acontecer à medida que tenhamos um melhor
desempenho fiscal.” A promessa de campanha havia subido no telhado. Em agosto a
criação da Autoridade Climática foi sumindo e queimou-se.
Como explicou a ambientalista Samyra Crespo,
“divergências quanto a quem se submeteria ou responderia essa Autoridade
Climática acabaram por obstaculizar a sua criação. (...) agora é correr atrás
do prejuízo: mais de 3 milhões de hectares de mata nativa queimada.”
Tudo o que Lula disse e fez nas últimas
semanas poderia ter sido feito em 2023 e, por ainda estar no mundo das
palavras, continua precisando ser feito.
Os interessados em bloquear a Autoridade
Climática continuam nos mesmos lugares. Dada a emergência, estão na defensiva
encastelando-se na possibilidade de barrar uma Medida Provisória que pretenda
criar a entidade. Sem o apoio da turma que matou a ideia para preservar seus
quadrados de poder dentro da burocracia, poderão ser isolados os
agrotrogloditas que defendem o atual estado das coisas. Quarta-feira
completa-se uma semana da reiteração da promessa de 2022. Até as cinzas sabem
que a criação da Autoridade Climática terá dificuldades para passar pelo
Congresso.
A tragédia imposta ao país constrangeu Lula.
Se ele apressar o envio da MP, poderá obrigar parlamentares a defender causas
indefensáveis.
A Síndrome da Reivindicação Sucessiva
Imagine-se um magano interessado em bloquear
a criação da Autoridade Climática. Ele não é doido para combater a ideia.
Afinal, ela foi engavetada por quase dois anos sem que uma só alma pusesse a
cara na vitrine. Hoje, restam-lhe dois caminhos. Num, trata-se de desossá-la.
No outro, argumenta-se que, antes da criação dessa Autoridade, é preciso fazer
isso ou aquilo.
É a Síndrome da Reivindicação Sucessiva. Para
se fazer A, é preciso antes fazer B e antes de B, precisa-se de C. Assim, não
se faz C, nem B ou A. Não fazendo nada, preserva-se o poder.
Essa síndrome funciona às maravilhas na
questão da legalização de lotes urbanos. Não se pode dar escritura a quem vive
numa favela porque a terra não está titulada, falta a infraestrutura e não há o
arruamento legal.
Trabalhando com uma equipe pequena, ajudada
por prefeitos e cartórios, a Corregedoria Nacional de Justiça regularizou
dezenas de milhares de propriedades. Num só dia, entregou 180 escrituras no
Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.
Dino quer explicações
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal
Federal, deu até o dia 19 para que os governadores de dez estados expliquem que
providências tomaram para prevenir o fogaréu. Ele bem que poderá editar um
volume com as respostas. Servirá de manual para gestores interessados na arte
da enrolação.
Dino corre o risco de cair nas garras de um
governador malvado, capaz de lembrar que de 2023 até fevereiro deste ano pediu
socorro ao Ministério da Justiça, sem grandes resultados.
Nesse período, Flávio Dino era o ministro da
Justiça, sob cuja jurisdição fica a Polícia Federal.
Futurologia
Um dia o Brasil se livrará de polarizações
irracionais e recuperará velhas alegrias.
A geração de Lula, e ele, com quase toda
certeza, orgulhou-se quando viu a fotografia de Friedrich Wilhelm Schultz-Wenk,
presidente da Volkswagen, dirigindo um Fusca sem capota, ao lado do presidente
Juscelino Kubitschek. O carro era alemão e Schultz-Wenk, como dezenas de
milhares de alemães, havia terminado seus dias na Segunda Guerra como
prisioneiro num campo russo. Nada disso importava, pois o Brasil fabricaria
automóveis.
A alegria voltará quando um líder político
conseguir a conciliação do país com o agronegócio, separando-o dos
agrotrogloditas.
Lula quer mudar a ONU
Lula está sem assunto.
Voltou a falar na necessidade de mudança de
organismos internacionais como a ONU, o FMI e o Banco Mundial.
Tarefa para marqueteiros
Os marqueteiros de Ricardo Nunes estão
quebrando a cabeça para resolver um problema. Com o apoio do governador
Tarcísio de Freitas, ele pode ganhar a eleição numa cidade que em 2022 votou em
Lula.
Marcado como candidato de Bolsonaro, ele pode
perdê-la.
Boa notícia
Enfim, uma boa notícia para o Rio. O repórter
Rennan Setti informa que no início de outubro serão postos à venda os últimos
68 apartamentos do velho prédio do Hotel Glória. Inaugurado em 1922, era o
hotel preferido de políticos como José Sarney. Hospedou Albert Einstein e a
atriz Marilyn Monroe.
Numa época de delírios, o Glória foi comprado
por Eike Batista, que cultivava o desejo de incorporar ao hotel a Marina do
Aterro e tinha poderosos apoios.
Eike quebrou, e Glória virou um elefante
branco, memória de um surto.
Reforma tributária
A reforma tributária tem sido vendida como
uma inovação simplificadora da cobrança de impostos. Simplificadora ela pode
vir a ser, mas inovadora, não.
Exceções e benefícios fiscais estão sendo
negociados no escurinho de Brasília pelos métodos convencionais. Os piores
métodos.
O povo não é bobo
No Rio e no Recife vive-se a demonstração de
que, quando é dada aos eleitores uma escolha razoável, eles não se enganam. Os
prefeitos João Campos e Eduardo Paes marcam mais de 50% das preferências nas
pesquisas.
O caso de Paes é ilustrativo. Ele prevalece
na cidade que foi o berço político de Jair Bolsonaro e o ex-presidente faz
campanha para o candidato Alexandre Ramagem.
" De um lado estavam os que pretendiam defender o meio ambiente, protegendo seus quadrados de poder na burocracia. De outro, estavam os interessados em preservar um estado de coisas que mantinha a defesa do ambiente no mundo do palavrório. Nenhum dos dois queria a Autoridade Climática. Prevaleceram e continuam detestando a ideia. "
ResponderExcluir" Os interessados em bloquear a Autoridade Climática continuam nos mesmos lugares. Dada a emergência, estão na defensiva encastelando-se na possibilidade de barrar uma Medida Provisória que pretenda criar a entidade. Sem o apoio da turma que matou a ideia para preservar seus quadrados de poder dentro da burocracia, poderão ser isolados os agrotrogloditas que defendem o atual estado das coisas. Quarta-feira completa-se uma semana da reiteração da promessa de 2022. Até as cinzas sabem que a criação da Autoridade Climática terá dificuldades para passar pelo Congresso. "
" Como se viu, Deus não quis. "
😏😏😏
Quantos assuntos,fica até difícil comentar,rs.
ResponderExcluirDeus não quis, Lula não quis, Marina se omitiu.
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