O Globo
O aprendizado psíquico sobre o candidato é
essencial, da mesma maneira o entendimento do fascínio que ele exerce
Assisti ao debate Kamala xTrump como se
estivesse num laboratório. Meu tema de pesquisa: como neutralizar candidaturas
que o milionário inspira nos trópicos. Lendo “Os bastidores”, livro de Martin
Amis, encontrei a lei que na realidade inspira minha pesquisa. É a Lei Barry
Manilow. Amis a formula assim: todas as pessoas que conheço detestam Barry
Manilow, e todas as pessoas que não conheço gostam dele. As que não conheço são
muito mais numerosas.
Cada vez que um candidato desse tipo avança
nas pesquisas, há duas tendências: falar mal dele entre nós ou tentar entender
o que acontece. Elas podem coexistir. Mas, considerando a Lei Barry Manilow,
não adianta apenas falar mal.
Um dos argumentos que dinamizam certos candidatos de fora da política é se apresentarem como empresários de sucesso. Eles e seus eleitores ignoram que as leis que regem uma empresa privada, com seu conselho diretor, são diferentes das leis que movem a máquina pública e as câmaras legislativas. A experiência não pode ser transplantada mecanicamente. Há um talento específico para governar, que nem sempre existe no empresário.
Kamala Harris foi
mais objetiva do que estou sendo. Conhecendo a psicologia de Donald Trump,
ela o atacou naquilo que mais o desequilibra: o ego. Duvidou de seu êxito
empresarial, afirmando que foi apenas o bebê de um empresário muito rico e
encontrou um caminho já construído.
Outra questão bem trabalhada foi desmontar as
mentiras. Os jornalistas contribuíram para isso. Trump falou de imigrantes
comendo cães e gatos em Springfield. Foi desmentido. Falou de governadores
democratas que permitem o assassinato de bebês recém-nascidos. Também foi
desmentido. Claro, essas mentiras podem ser recortadas e circular pelas redes
sociais. Mas nada impede que o recorte dos desmentidos também seja.
Trump, durante todo o tempo, parecia triste,
e isso combinava com sua visão apocalíptica caso perdesse a eleição: a eclosão
de uma Terceira Guerra Mundial. Kamala esteve todo o tempo radiante e
sorridente. Considerando o peso das imagens, levou vantagem a maior parte do
tempo, mesmo porque poucos acompanham áudio em todos os detalhes.
Ela procurou se mostrar como uma candidata do
futuro e escapou habilmente de se identificar com o statu quo. Trump estava
preparado para combater Joe Biden.
Ela disse:
— Não sou Joe Biden.
Kamala Harris venceu por pontos. Da mesma
forma, um simples debate não oferece um aprendizado completo. Mesmo porque o
debate não assegura a vitória nas eleições. Mas é valioso diante do desafio da
Lei Barry Manilow. O caminho do aprendizado psíquico sobre o candidato é
essencial, da mesma maneira o entendimento do fascínio que ele exerce sobre as
pessoas.
Um exemplo tropical. Quando alguém tem pavor
de tomar vacina e de falar fino, quando alguém encontra um japonês por acaso e
faz piada sobre o tamanho do pênis, quando esse alguém se diz seriamente
preocupado com o fato de os homens terem o pênis amputado por falta de limpeza.
Enfim, quando alguém manifesta tantos sintomas, é razoável deduzir que tem
intensa angústia de castração. Não quer dizer muito, mas pode melhorar a
maneira como contestamos sua prática. E entender um pouco a atração que exerce
sobre o mundo masculino.
Sinto que avancei alguns milímetros nesse
tema, na verdade continuação da coluna
de segunda-feira passada sobre a Teologia da Prosperidade e seu
fascínio na política. Mas é devagar e com cuidado que vamos encontrar uma
alternativa diferente da luta na lama, tipo de luta em que não há de fato
vencedores.
A estrutura política do país, com a elite de
costas para a sociedade, contribuiu muito para a produção de aventureiros. Mas
a fórmula também pode envelhecer. A bala do cavaleiro solitário contra um
sistema corrompido não dispara mais, a pólvora molhou. Restam outras, como a do
empresário de sucesso tentando tornar o governo um negócio produtivo.
Mas é preciso reconhecer que algo precisa
mudar no universo político. Senão, viveremos em sobressalto com a constante
aparição de aventureiros.
Barry Alan Pincus, mais conhecido como Barry Manilow, (Brooklyn, 17 de junho de 1943) é um cantor e compositor americano, muito conhecido pelos seus hits dos anos 70 " I Write the Songs ", " Mandy " e " Copacabana ".
ResponderExcluir( Wikipedia )
😏😏😏
Entender o problema não é suficiente, mas necessário para sua solução. Gabeira no alvo, como sempre.
ResponderExcluirAcabei de ouvir o cantor americano citado,rs.
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