Folha de S. Paulo
Novo livro de Yuval Noah Harari analisa os
impactos de redes de informação e da inteligência artificial
Vale a pena ler "Nexus", o novo
livro do historiador israelense Yuval Noah Harari. A exemplo do que fez em obras anteriores,
ele discute coisas relevantes e escreve maravilhosamente bem.
O tema desta vez são as redes de informação e
a inteligência artificial. Mestre das generalizações, Harari discorre sobre
esses tópicos encaixando-os numa narrativa totalizante. O mundo é o que é em
larga medida por causa das diferentes formas como lidamos com informações e as
realidades imaginárias que elas geram.
A diferença entre democracias e ditaduras é que as primeiras imprimem transparência ao fluxo de informações, permitindo que elas sejam avaliadas pelos cidadãos e eventualmente corrigidas, enquanto as últimas buscam apenas controlar os dados para controlar a sociedade.
Outro ponto alto de Harari é que ele
entremeia a narrativa principal com interessantíssimas subtramas e anedotas. Em
"Nexus", ele faz ótimas observações sobre religiões, seus livros
sagrados e epifenômenos como a caça às bruxas, além de contar boas histórias
como a do pombo-correio Cher Ami, herói da 1ª Guerra Mundial.
As virtudes de Harari acabam escondendo
alguns defeitos. A narrativa límpida dá a sensação de que tudo o que o autor
diz já é dado como líquido e certo pela ciência, o que não necessariamente é o
caso. Ele até diz que as coisas são mais complicadas, mas raramente dá voz a
argumentos contrários. Falta ao texto um pouco daquela humildade meio forçada
do discurso acadêmico, mas que ajuda a mostrar que modelos e
chaves-explicativas têm limites.
Outro ponto fraco é o caráter altamente
especulativo de teses apresentadas sobretudo nas partes finais do livro, que
tratam da IA. Harari não esconde que especula. Mas falta alertar para os
riscos. Em seus livros anteriores, ele destacava a ameaça que a IA representava para os
empregos; neste ele afirma, sem maiores explicações, que as novas tecnologias
que eliminam empregos acabam criando novas funções.
O mundo é mesmo complicado, mas isso não
elimina o prazer que é ler Harari.
Interessante! Como historiador, Harari é mesmo um grande autor e leitura bem proveitosa. Como futurólogo, Harari é muito especulativo, como o colunista aponta.
ResponderExcluirDesconheço tal autor,aliás,desconheço tanta coisa,rs.
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