quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Humberto Saccomandi - Sempre no ataque, Kamala dominou Trump no debate nos EUA

Valor Econômico

Sondagens rápidas apontam para uma vitória clara da vice-presidente democrata sobre o ex-presidente republicano, que poucas vezes pareceu tão velho e tão passado

A democrata Kamala Harris provavelmente melhorou suas chances de chegar à Presidência dos EUA no debate de ontem à noite (10) com o republicano Donald Trump. Constantemente no ataque, Kamala tomou a iniciativa, comandou o show e teve talvez a performance mais sólida de um político num debate contra Trump até hoje.

Objetivamente não é fácil aferir quem ganhou um debate eleitoral. O melhor indicador são as pesquisas de intenção de voto que serão feitas a partir de agora. Mas alguns dados apontam para uma vitória clara de Kamala. Uma pesquisa rápida (e por isso menos confiável) da TV CNN indicou que Kamala venceu para 63% dos entrevistados, contra 37% que viram vitória de Trump. Pesquisa qualitativa do jornal “The Washington Post” também apontou a vitória de Kamala por ampla margem. A plataforma de previsões políticas PredictIt indicou um aumento nas chances de Kamala vencer as eleições, sugerindo assim que ela ganhou o debate. As ações da plataforma de mídia social Thuth, de Trump, caíram 7% logo após o debate, também num sinal de que o republicano foi mal.

Ao contrário do presidente Joe Biden, que começou mal o debate de junho já ao entrar no palco parecendo frágil, Kamala deu o tom desde o começo. Ela entrou no palco e se dirigiu diretamente a Trump para cumprimentá-lo. O republicano parecia não esperar por isso e foi para o seu púlpito. A democrata foi atrás dele, estendeu a mão e se apresentou.

Kamala tinha desde o início uma grande vantagem: não ser Biden. Para quem acompanhou o desempenho terrível do presidente em junho, qualquer comparação lhe seria favorável. Mas, com sua experiência de promotora de Justiça, ela se mostrou o mais duro adversário que Trump já enfrentou.

A grande maioria dos eleitores americanos já decidiu o seu voto e não deve mudar de opinião por causa desse debate. Mas há cerca de 15%, segundo pesquisas, que ainda não sabem em quem votar. Numa eleição que se apresenta hoje em situação de empate técnico, são esses 15% que definirão o resultado. O debate foi para eles.

Nesse sentido, Kamala parece ter conseguido atingir alguns objetivos de sua campanha no debate. Em primeiro lugar, apresentar-se a uma parte do eleitorado que pouco a conhecia. Em segundo lugar, defender, porém distanciar-se de Biden em questões nas quais o governo atual é mal avaliado, como imigração (“você está concorrendo comigo, não com Biden”, chegou a dizer a Trump). Em terceiro, expor algumas de suas propostas, especialmente aquelas relativas ao apoio à classe média e às pequenas empresas. Por fim, apresentar-se como o novo, como a candidata com o olhar para o futuro, contra um Trump que poucas vezes pareceu tão velho e tão passado.

Como era esperado, Trump insistiu na questão da segurança e imigração ilegal, sempre repetindo que o governo Biden e os democratas estão destruindo o país. Mas, mesmo nesse tema, ele se atrapalhou e se deixou logo conduzir para outro assunto. Ele também bateu na tecla de que Kamala é uma esquerdista radical.

Já Kamala focou em algumas poucas propostas, repetindo à exaustão que tem um plano para governar os EUA (a mensagem subliminar é que não é o plano de Biden). Mas focou também em bater em Trump. Em quase todas as suas respostas, a democrata buscava um modo de atacar Trump pessoalmente, retratando-o como desequilibrado, não confiável, fraco, inepto para governar o país. Ela, por exemplo, relatou que líderes militares americanos com quem conversou (não identificados) disseram considerar Trump “uma desgraça”. O republicano pareceu surpreso com o fluxo de ataques, foi ficando irritado e passou a responder a eles, fazendo com que Kamala conduzisse a discussão. De modo geral, Trump pareceu estar a maior parte do tempo na defensiva, mesmo em temas que deveriam lhe favorecer.

Trump também ajudou a corroborar a imagem que Kamala pintava dele com uma série de mentiras. A mais bizarra possivelmente foi dizer que imigrantes ilegais estavam roubando e comendo cães e gatos de estimação em Ohio.

O debate acabou sendo vago em propostas e nos detalhes de como realizá-las. Kamala, por exemplo, não relatou o custo de seus planos de apoio nem disse como pretende financiá-los, num momento em que o déficit público americano já está num nível muito alto. Os dois candidatos disseram que pretendem acabar com as guerras na Ucrânia e em Gaza, mas não deram nenhuma dica de como pretendem fazer isso.

Gestualmente Trump lembrou vagamente o Biden perdido do debate de junho. Ficou sério e carrancudo o tempo todo, olhando apenas para a frente, quase nunca para a democrata. Kamala, ao contrário, olhou quase sempre para Trump, gesticulou muito, algumas vezes beirando a arrogância.

Historicamente os debates costumam ter pouca influência nas eleições presidenciais americanas. O debate de junho, porém, destruiu a candidatura Biden. Todos os olhares estarão voltados agora para as pesquisas nos próximos dias.

 

Um comentário:

  1. "As ações da plataforma de mídia social Thuth, de Trump, caíram 7% logo após o debate," porque, perdendo a eleição presidencial, Trump voltará a comandar seus negócios, o que é péssima notícia pra seus sócios, acionistas e funcionários!

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