Folha de S. Paulo
Em tese, ao eleitor cabe analisar propostas e
agregar múltiplas dimensões, como biografia do candidato e cenários futuros
O processo de
escolha do voto é cognitivamente exigente. Em tese, ao eleitor
cabe analisar cada proposta, ponderá-las, prever seus impactos e agregar entre
múltiplas dimensões, como biografia do candidato e cenários futuros. A solução
para nossas limitações cognitivas é a utilização de uma série de
"atalhos" para tomada de decisões.
O apelo de Pablo Marçal (PRTB)
junto à parcela do eleitorado, que causou surpresa inicial devido a sua
inexperiência política e inconsistência de propostas, precisa ser entendido sob
esse prisma.
Um atalho comum é a comparação com uma figura conhecida. Para eleitores de extrema direita, Bolsonaro (PL) seria o padrão-ouro. Na comparação direta com Bolsonaro, se Marçal for percebido como igualmente autêntico e mais competente que o ex-presidente, pode ser preferido ao rival Ricardo Nunes (MDB) —visto apenas como mais competente.
Outro atalho útil é substituir questões
complexas —como avaliação de propostas— por outras mais simples, próximas do
problema. A repetição de que Marçal é um excelente comunicador nas redes
sociais, e que ganhou muito dinheiro sendo um "self-made man", pode
levar à conclusão de que suas propostas devem ser boas. Afinal, quem fez tudo
isso deve ter boas propostas. Por outro lado, o incidente da cadeirada pode
criar rachaduras nessa imagem de infalibilidade.
Um terceiro atalho previsível é a negligência
da fonte comum. Tendemos a tratar conteúdos da mesma origem como independentes,
superestimando sua credibilidade. Os "cortes" (vídeos curtos)
divulgados pelos seguidores
de Marçal e recompensados financeiramente por ele produzem esse
efeito, distorcendo a percepção sobre o candidato. Ele tende a parecer mais
apreciado, e sob luz mais favorável, do que de fato o é.
Se imprensa, candidatos e formadores de
opinião não entenderem as heurísticas empregadas pelo eleitorado, que nem
sempre são processos conscientes, não informaremos o eleitor adequadamente para
que este tome as melhores decisões. Um equívoco que já fizemos no passado.
Muito bom! Estes "atalhos" são realmente usados, e devem ser melhor reconhecidos e mostrados pela imprensa e pelos comunicadores. O autor fez um bom trabalho neste pequeno artigo. Parabéns a ele, e ao blog por divulgar seu trabalho.
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