O Estado de S. Paulo
Onde um personagem com essas características pode florescer, se não num ambiente de desesperança na vida comunitária e na ação conjunta dos cidadãos, ou seja, na política?
O entusiasmo em torno da figura de Pablo
Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo quando da redação deste texto, tem
algo de paradoxal. Afinal, é um entusiasmo que parece florescer não na
esperança, mas na desesperança dos seus adeptos quanto à ação política.
Assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro,
Marçal se declara antissistema. Também como Bolsonaro, que teve sua candidatura
à Presidência em 2018 viabilizada pelo então inexpressivo Partido Social
Liberal (PSL), Marçal se candidata à Prefeitura paulistana pelo Partido
Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), comandado até 2021 pelo falecido Levy
Fidelix, proponente do “aerotrem”.
Ao contrário de Bolsonaro, porém, Marçal é realmente um outsider. O ex-presidente, como se sabe, vive da política há cerca de 30 anos. Ele próprio confirma sua procedência: “Eu sou do Centrão (...), eu nasci de lá” (22/7/2021).
Bolsonaro está aninhado nas instituições
desde sempre. Marçal não. Ele é um fenômeno do mundo digital despreocupado não
só em articular-se politicamente, mas também em construir uma plataforma de
governo crível. Devaneia teleféricos na periferia e edifícios de mil metros de
altura; ele mesmo, em entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL, tratou suas
propostas como “sonhos”. Tem condenação penal, desvios mil. Ora é agressor, ora
é vítima; conciliador, nunca. Seu mantra é o empreendedorismo individual: na citada
entrevista, prometeu a adoção da disciplina “empresarização” nas escolas
(Marçal trata propostas como ‘sonhos’ em sabatina Folha/UOL e admite não
cumprilas em mandato, 4/9/2024).
Onde um personagem político com essas
características pode florescer, se não num ambiente marcado pela desesperança
na vida comunitária e na ação conjunta dos cidadãos, ou seja, na política?
Projetos políticos dignos do nome partem do
pressuposto de que, numa comunidade política, “todos estão no mesmo barco”.
Esses projetos têm diagnósticos e objetivos claros; objetivos a serem buscados
coordenando-se, tanto quanto possível, a diversidade de preferências e visões
presentes na população.
Marçal, ao contrário, apoiase num “voto
punição”, como escreveu o colunista deste jornal Carlos Andreazza: “Vote – não
para eleger – para punir. Não por realizações estruturais de governo. Por forra
instantânea” (Campanha de Pablo Marçal oferece o voto punição, e dane-se o
mandato, 9/9/2024).
Marçal não demonstra interesse por ideias bem
construídas e propostas realizáveis. Seu repertório é infinito, no entanto,
quando o objetivo é desqualificar seus adversários: o usuário de drogas, o
assediador, o agressor e, claro, todos comunistas (a direita destes últimos
anos, infelizmente, vive com a cabeça virada para trás). Marçal, como diz
Andreazza em sua coluna, quer “desmascarar o bando. O município, a qualidade de
vida do cidadão, será detalhe”. É o circo sem o pão. É a degeneração como único
caminho para qualquer melhora futura (fator também presente na adesão a
Bolsonaro).
E aqui Marçal é algo coerente: em seu
desprezo pelo entendimento e pela ação conjunta, ele enaltece a determinação
individual, a iniciativa empreendedora. É essa a perspectiva que ele oferece ao
eleitor. Sua mensagem cifrada é de que os cidadãos não dependem uns dos outros.
Ao contrário, sua ideia de comunidade pressupõe vencedores e perdedores –
cidadãos atomizados, portanto. Daí a única missão política do candidato:
“servir de agente (...) à penalização do establishment” (Andreazza).
Essa disseminada aversão ao establishment,
notadamente à política, muitas vezes passa por cima da distinção entre os
políticos e a política. É elementar que a atuação dos políticos profissionais
tem sido frustrante sob qualquer ótica republicana. Menos considerado, porém, é
o fato de que isso, em certa medida, é responsabilidade do próprio eleitor: é
ele que elege o político; é ele que não acompanha o exercício do seu mandato;
às vezes, nem se lembra do candidato em que votou. A democracia representativa
não é uma via de mão única. Seu sucesso depende também de cidadãos bem
informados e ativos.
Além disso, como apontado anteriormente,
política é sinônimo de vida comunitária. Sem a política, a comunidade
entrega-se ao “cada um por si”; impulsos e paixões são despejados, em sua forma
bruta e não raro extrema, na esfera pública. Como diz o professor e colunista
deste jornal Marco Aurélio Nogueira, a política “solicita uma concessão difícil
de ser feita: ela pede que os indivíduos e os grupos saiam de si mesmos,
moderem-se, ultrapassem-se”. A política necessita, portanto, de mentalidades
alargadas, que tomem em consideração a diversidade de pessoas e ideias
presentes no corpo social, visando a “criar as condições para que se passe da
defesa dos interesses particulares para a construção e a defesa do interesse
geral” (Em Defesa da Política). Daí o valor, numa política que mire a
construção de um futuro comum, do respeito, da moderação, da empatia, da
civilidade. Características que Pablo Marçal não tem.
Palavras bonitas mas falou Mal do Marçal do começo ao fim , nenhuma palavra para o candidato da extrema esquerda Guilherme Boulos, apoiado por Lula e o PT, teve sua trajetória política sempre em cima de invasões de propriedades privadas e invasões de prédios públicos com depredação e até incêndios
ResponderExcluirFoi preso três vezes por esses crimes e sempre se utilizando da população mais carente e frágil da sociedade Nada tem a propor de bom para essa cidade tão importante como São Paulo
Vcv é um merda, além de covarde. MAM
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