domingo, 15 de setembro de 2024

Pacelli Henrique Silva Lopes - A cultura política mineira e as eleições municipais de 2024

Há cem anos, a presidência do Brasil era exercida pelo mineiro Arthur da Silva Bernardes, que se destacou na renovação do Partido Republicano Mineiro na sua segunda geração. Bernardes enfrentou intensas batalhas políticas com grupos rivais dentro de seu próprio partido.

Na época, a bancada mineira na câmara federal era conhecida como carneirada, por votar em bloco, tinha fortes conflitos no seu seio. Os grupos políticos eram obrigados a negociar acordos que envolviam as candidaturas nos níveis municipais, estaduais e federais.

As fontes históricas da Primeira República mostram que adversários de uma mesma localidade chegaram a acordos várias vezes. Esses pactos contemplavam candidaturas municipais e estaduais, evitando assim os conflitos políticos.

Hoje em pleno 2024, vemos a ausência do vivere civile. A ausência de polarização política ilustra a força do nosso Riobaldo de Guimarães Rosa ao dizer que “uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... Tanta gente – dá susto de saber – nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza…”[1]

É neste mundo concreto do personagem que vemos as nuvens reais e densas de fumaça fruto das queimadas que assolam nosso país.

Em Contagem e no Rio de Janeiro vemos candidaturas, cada uma à sua maneira, com propostas palpáveis, pautadas no centro político democrático, com diálogo com o mundo evangélico.

A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), conta com uma quantidade significativa de aprovação do seu primeiro mandato, acima de 70%, um indicativo de que vencerá no primeiro turno. Essa bem poderia ser a de Dirceu, já compreendeu que suas lutas passam pelo mundo de Riobaldo, e que assim como ele que esteve com os conjuradores, precisará se ater à construção de uma política de distribuição fiscal de republicana de novo tipo compatível com a grave crise das Minas Gerais, uma vez que, a atual em e breve encontrará seu fim via STF e o desiderato da reforma tributária.

Em cidades como Juiz de Fora e Muriaé, Margarida Salomão (PT) e Marcos Guarino (PSB), podem seguir o bom exemplo de Contagem e fazer uma campanha benfazeja, para onde seus opositores não constroem alternativas viáveis. Entretanto, na experiência de Juiz de Fora, se reeleita a prefeita terá que fazer aggiornamentos.

Parafraseando Tancredo Neves: “Só há pátria com democracia.” E em ambas é necessária a negociação política. Aos poucos, a realidade corrige o curso de todos distinguindo entre o útil e o mal compreendido no dizer de Tocqueville,

Para isso, será necessário não perdermos mais oportunidades de fortalecer a Frente Democrática vitoriosa em 2022, o que ficou evidente nas negociações que deram origem às chapas para concorrerem à prefeitura de Belo Horizonte.

Teremos uma nova chance no segundo turno. Isso ocorre porque os belo-horizontinos estão rejeitando os dois candidatos das fantasiosas narrativas alienígenas a Riobaldo. Assim, uma nova rodada de negociação se abrirá em breve. Tem-se algo que o fiel da balança pode nos ensinar é que as disputas políticas quando praticadas dentro das regras republicanas permitem que os adversários de ontem, sejam os aliados de hoje. Para isso, é necessário que a linha civilizatória seja traçada.

Portanto, nossa população anseia por cidadania, mesmo se sentindo desorientada em um mundo sem explicação histórica. Até aqui a atual campanha municipal tem deixado claro a preferência do eleitor por uma prefeitura colada nos seus municípios e munícipes que sejam capazes de se apresentar como exemplares cuidadores da saúde, educação e mobilidade urbana.

E para enfrentar o vazio populista, nossos líderes exemplares para ensinar a cidadania que zelam pelo povo significa garantir acesso à esses serviços, o que perpassa por fortalecer a cultura política democrática mineira. Em um país que se move pela emoção e não somente pela razão, só conseguiremos esses feitos se tocarmos a alma da mineiridade, tornando nossos municípios garantidores do bem-estar social.

[1] ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Editora Companhia das Letras, 2019. P.08.

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