segunda-feira, 28 de outubro de 2024

As eleições de 2024 e as de 2026 - Ivan Alves Filho*

Escrevo logo após o encerramento do segundo turno das eleições de 2024. Ainda que de forma esquemática, convém observar, desde já, no tocante a essas eleições:

O grau considerável de abstenções, votos nulos e em branco nas grandes capitais, sobretudo no primeiro turno, atingindo a ordem de 40%;

em cidades importantes - e podemos citar Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Recife, Porto Alegre e, também, São Paulo - onde a polarização lulismo × bolsonarismo não aconteceu, houve vitórias do Campo Democrático;

Inversamente, onde essa polarização lulismo × bolsonarismo se deu, o lulismo foi derrotado, a exemplo de Cuiabá e Natal. A única exceção foi Fortaleza.

Importante observar ainda que em Goiânia, João Pessoa e Manaus o campo conservador se dividiu, e, nas três cidades, os candidatos do bolsonarismo foram derrotados. Bolsonaro já não monopoliza esse campo. Eis o que provavelmente tem que ver com a manutenção da inelegibilidade do ex-presidente e/ou até mesmo com uma eventual prisão sua.

Finalmente,

 O peso da máquina administrativa foi tão real quanto as próprias alianças eleitorais e convém destacar que prefeitos se reelegeram em cidades importantes como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

No geral, o cenário apresenta muitas incertezas. Bolsonaro poderá se candidatar ou permanecerá inelegível? As urnas de 2024 parecem, ademais, apontar para um novo fator, qual seja, o surgimento de candidaturas potenciais no terreno do próprio bolsonarismo, ou da direita de corte mais tradicional, conforme já sugerido acima. Do lado da atual situação, a realidade tampouco é estimulante: o lulismo está em declínio, e isso tem tanto que ver com a não-renovação das lideranças no campo do PT quanto com os magros resultados desse terceiro governo Lula.

Naturalmente, as eleições de 2026 não terão as mesmas características daquelas de 2024. Mas 2024 revela algumas tendências. A questão das alianças corretas é uma delas. Outra, a necessidade de o país se armar, em 2026, de um projeto de nação, consubstanciado no Plano de Metas de JK, nas Reformas de Base no período Jango, na Frente Ampla que elegeu Tancredo, no Plano Real de Itamar.

O Campo Democrático está perplexo, senão desorientado, e o caminho pode ser novamente a união de forças formada em torno de uma candidatura como a de Eduardo Campos em 2014. "Este é um país que escolhe entre o pior e o menos mau", li em um livro do grande educador Cristovam Buarque, intitulado Jogados ao mar". Um personagem da obra - um belo romance - se expressava assim. Até quando? É exatamente com isso que precisamos romper.

Na pauta, questões como as mutações que se verificam no mundo do trabalho, com o alastramento do trabalho por conta própria e o surgimento de inovações tecnológicas como as materializadas na robótica e no recurso à inteligência artificial. Isso, sem aludir à necessária extensão da Democracia a todos os setores da vida, à defesa intransigente da Ética, da Justiça Social e ao estabelecimento de um programa voltado para a preservação do meio ambiente, com a consequente redefinição da questão agrária. No mesmo plano, precisamos colocar os problemas relativos à Educação e à Cultura, tão ligados à identidade brasileira. O baixíssimo investimento de recursos públicos tem estrangulado a infraestrutura do país, cada vez mais ultrapassada.

São esses os nós que precisamos desatar. Não existe luta à parte, tudo é parte da luta, uma vez que as demandas todas se cruzam. Há, portanto, um imenso espaço político para ser trabalhado até 2026, a meu juízo.

O primeiro passo nesse sentido pode ser dado pela criação de uma Federação integrada por partidos progressistas do Campo Democrático.

É preciso refundar a nação

* Ivan Alves Filho, historiador.

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