Folha de S. Paulo
Mais que um teste de força, líderes terão que
definir novos rumos e reavaliar métodos
As eleições devem empurrar a direita e a
esquerda para um ciclo de reorganização. Mais que um teste de força de líderes
nacionais, a disputa marcada pela fratura do
bolsonarismo e pelos resultados
modestos esperados pelo PT torna inevitável
uma revisão de métodos, plataformas e alianças nos dois blocos, ainda que em
graus diferentes.
A esquerda entrou na campanha com uma dose
razoável de realismo. Estabeleceu como meta uma recuperação pouco pretensiosa
após o mau desempenho em duas eleições
municipais e fez concessões importantes a partidos aliados.
Isso não evitou dissabores e sinais de resistência em parte do eleitorado.
A influência duradoura do antipetismo e o distanciamento de eleitores das periferias apareceu em centros urbanos considerados estratégicos. Nenhum dos dois fatores é novidade, mas a falta de remédios foi relatada com alguma preocupação em diversas regiões ao longo da campanha.
Tentativas de reeditar apelos ao
antibolsonarismo também apresentaram efeitos limitados, ao menos no primeiro
turno, tanto pela lógica localista como pela mudança de patamar da ameaça
representada por um ex-presidente fora do poder e inelegível.
A reavaliação que estará na mesa da esquerda
será trivial perto da ruptura na direita. Seja qual for o placar, a campanha
deste ano representa mais um sismo neste campo político depois da
desorganização provocada pela ascensão de Jair
Bolsonaro.
A contestação interna à liderança do
ex-presidente se deu na esfera local, em cidades como Goiânia e Campo Grande, e
principalmente com o pano de fundo das pretensões nacionais de Pablo Marçal.
O influenciador não desafiou apenas a escolha eleitoral ou a hesitação de
Bolsonaro em São Paulo. Ele transformou essa divisão numa questão existencial
para a direita.
O caminho mais provável é o reagrupamento do
grupo sob a esperada bandeira da unidade, com o objetivo de enfrentar a
esquerda. Pode ser uma trégua temporária ou uma aliança estratégica. Qualquer
cenário deixará o domínio da direita muito mais próximo da agressividade de
Marçal e Bolsonaro do que de personagens vendidos como moderados.
Concordo.
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