Folha de S. Paulo
Vitória em números não diz tudo sobre o
ambiente político e as preferências dos brasileiros
Os relatos sobre a vitória do centro
nas eleições municipais
são um pouco exagerados. O crescimento do PSD de Gilberto
Kassab e o bom desempenho do MDB refletem
máquinas partidárias fortes e estratégias eleitorais inteligentes, mas não
dizem tudo sobre o ambiente político nacional e as preferências dos brasileiros
de forma geral.
O ranking das prefeituras, encabeçado pelos dois partidos, poderia parecer um sinal de que o eleitor optou pela moderação e decidiu renegar a polarização entre esquerda e direita. A identificação de alguns sintomas é precisa, mas o diagnóstico falhou.
É impossível dizer que o país tomou um desvio
em direção ao centro como uma escolha ideológica. Os partidos-ônibus que formam
esse bloco tiram proveito de sua amplitude para oferecer assentos a candidatos
com perfis variados. Eles podem ser premiados por suas propostas e gestões, mas
poucos representam bandeiras políticas claras.
Os números oferecem uma interpretação mais
complexa, que diz respeito a uma reorganização partidária. PSD e MDB ganharam
301 cadeiras —alta de 21% em relação a 2020. O núcleo da direita (PL, PP e Republicanos)
ampliou seu domínio em 448 municípios, um crescimento de 36%. Parte da mudança
se deveu à desidratação do PSDB e de outras legendas que tinham espaço na
centro-direita.
É preciso evitar a tentação de enxergar as
disputas municipais como um jogo em que o vencedor leva tudo. O MDB liderou por
anos a tabela de prefeituras e, com essa capilaridade, manteve bancadas fortes
no Congresso para exercer influência sobre a vida política nacional. Não teve
fôlego, no entanto, para protagonizar eleições presidenciais, determinar a
posição da régua ideológica nacional ou evitar a polarização entre direita e
esquerda.
A situação pode mudar, mas não como
consequência das eleições deste ano. Quantos votos terá o governador
paranaense Ratinho
Júnior caso o PSD decida lançá-lo à Presidência em 2026 como um
desafiante de centro, turbinado pelas prefeituras conquistadas? Se o partido
encampar uma candidatura de Tarcísio de Freitas, quantos votos a sigla levará e
quantos já estariam com ele, de qualquer jeito, pela direita?
Talvez o assistencialismo populista do tal Centrão, turbinado por emendas Pix, tragam mais votos do que questões ideológicas, especialmente no âmbito municipal, da micropolítica.
ResponderExcluirO anônimo acertou em cheio.
ResponderExcluir