Folha de S. Paulo
Itamaraty entra em modo de contenção de danos
na relação com a Venezuela e não vê ida de Lula a nova posse
A cúpula do governo não admite agora, mas
praticamente jogou a toalha em relação à fraude de Nicolás
Maduro. Mesmo sem reconhecer a vitória do regime nas urnas, a diplomacia
brasileira incorporou o cenário de permanência do ditador no
poder.
Há gente no Planalto que nem mesmo gostaria de ver Maduro pelas costas. Ainda assim, chegou a sonhar com uma negociação que tornasse o processo eleitoral menos obsceno e menos desonroso para o governo Lula.
O Itamaraty,
por sua vez, levou a sério a busca por um diálogo entre Maduro e a oposição.
Ainda que fossem baixíssimas as chances de convencer o presidente venezuelano a
deixar o cargo, os brasileiros agiram para que a exigência de apresentação das
atas eleitorais deixasse o ditador sem saída, obrigando-o a se sentar para
discutir alternativas.
Alguns elementos mudaram o cálculo dos
brasileiros. Dois deles têm relação com a pressão interna sobre Maduro. O
candidato opositor, Edmundo
González, deixou o país, diminuindo as expectativas de que pudesse
assumir o poder, e os protestos contra a fraude se tornaram menos frequentes
nas ruas de Caracas.
Além disso, Maduro passou a tocar os negócios
como de costume, fazendo pouco caso das tentativas de mediação. Na segunda
(14), o cão de guarda do ditador sugeriu que Lula foi
aliciado e se tornou um agente da CIA.
Aos poucos, o Brasil entra num modo de
contenção de danos. Como qualquer ruptura está descartada, o Itamaraty mantém
canais abertos para negociações objetivas, da importação de
energia até a busca por um salvo-conduto para remover, num
avião da FAB, opositores asilados na embaixada da Argentina.
Ainda que o Itamaraty insista publicamente em
algum diálogo em sentido contrário, o quadro mais provável inclui uma nova
posse de Maduro em 10 de janeiro. Lula não deverá comparecer, e muitos
diplomatas acreditam que ele nem será convidado.
No dia seguinte, o governo Lula não terá
apenas um vizinho incômodo. A Venezuela servirá
como lembrete de que o país pagou caro pelas concessões feitas ao regime e
ainda saiu com um prejuízo adicional nas suas ambições de liderança regional.
Pode ser.
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