O Globo
‘Achamos, senhor presidente, que não será
possível equilibrar as contas com o aumento da receita que seu governo tem
aplicado’
Eis o recado que o mercado tem enviado a Lula
em encontros formais (como a reunião do presidente com os principais
banqueiros), conversas informais com ministros, sobretudo com Fernando
Haddad, e nos documentos preparados pelos departamentos econômicos
das instituições financeiras. Com a devida licença, lá vai:
“Senhor presidente, nós também não estamos gostando dos elevadíssimos juros do momento. Entre outras coisas, porque muitos de nossos investidores caíram no vermelho. Carregam papéis com juros de 10%, que pareciam muito bons quando adquiridos, mas agora estão no negativo porque os novos títulos do governo pagam 13% e pouco.
Admitimos que há aqui um motivo particular,
mas é preciso notar que esses investimentos financiam negócios da economia
real. Investimentos menos rentáveis levam a menos negócios. Além disso, senhor
presidente, juros elevados aumentam o risco de crédito. E isso reduz o número
de pessoas e empresas dispostas a tomar crédito. É preciso ter um negócio
excepcional, coisa rara hoje em dia, para arcar com juros tão elevados.
Isso vai ao contrário do que o senhor deseja
presidente, que seria um aumento do crédito. Nisso concordamos. Nós, do mercado
bancário, gostaríamos de poder dar mais empréstimo, mas isso fica muito
arriscado, para as duas partes, quando a taxa de juros sobe demais. Em resumo,
senhor presidente, esses juros de hoje são ruins para os negócios, travam o
crescimento econômico, não interessam ao governo. E nem ao mercado.
A questão, portanto, é saber por que os juros
são altos no Brasil, estruturalmente, e por que subiram ainda mais nas últimas
semanas. E aqui, senhor presidente, com o perdão da palavra, a culpa é do
governo. Mais exatamente, da alta constante do gasto federal e, pois, da dívida
pública.
Portanto, ao contrário do que o senhor disse
algumas vezes, não achamos que a culpa dos juros altos seja do Banco Central.
Os movimentos do BC reagem à conjuntura econômica e aos tais ruídos — situações
em que autoridades atacam e agem contra a economia privada. Quem vai investir
num ambiente hostil?
Também achamos, senhor presidente, que não
será possível equilibrar as contas com o aumento da receita que seu governo tem
aplicado. Primeiro, porque a carga tributária já é elevada. Segundo, porque
aumentar ainda mais essa carga inibe investimentos nacionais e estrangeiros.
Todos concordamos que é preciso cobrar mais
impostos dos ricos. No nosso meio, muitos consideram interessante e simples
essa proposta de cobrar um imposto mínimo de quem ganha mais de R$ 1 milhão por
ano. Mas é preciso tomar cuidado para não duplicar impostos. Tome-se o exemplo
dos dividendos recebidos pelos acionistas, isentos do Imposto de Renda. Na
verdade, os acionistas pagam, indiretamente. Isso porque, no governo FH, a
Receita decidiu cobrar o IR na pessoa jurídica. É por isso que a tributação dos
lucros das empresas — IR e CSLL — é de 34%, uma das mais altas do mundo.
Era mais fácil cobrar uma só vez, na empresa,
que de cada acionista. Hoje, é fácil cobrar dos acionistas. E seria até mais
justo, pois permitiria cobrar progressivamente, aumentando a alíquota quanto
maior o dividendo. Mas é preciso combinar isso com a redução do IR das
empresas.
Estamos esperançosos, senhor presidente, com
as declarações de seu ministro da Fazenda segundo as quais ele prepara um plano
de corte de gastos nas despesas obrigatórias. Sabemos quanto é difícil mexer
nos gastos, perdão, nos investimentos sociais e nas transferências de renda às
famílias. Mas acredite, senhor presidente, se seu governo apresentar um plano
viável de corte de gastos, e começar a praticá-lo, os juros cairão, o dólar cairá,
a Bolsa subirá, o crédito aumentará e, pois, crescerão os investimentos.
Pode apostar nisso. Opa! Perdão de novo.
Apostar, não, que isso é coisa de especulador indesejável. Pode confiar.
Atenciosamente.”
Pô, Carlinhos! Os banqueiros cobram juros de 400% e reclamam da taxa de juros do governo?
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