sábado, 5 de outubro de 2024

Carlos Andreazza - Moody’s e o voo de galinha

O Estado de S. Paulo

A Moody’s que dá é a mesma que tirará. Já vimos essa fita. Serve-nos aqui o clichê da comparação entre fotografia e filme. A agência aumentou o grau de confiança no Brasil observando o impulso da galinha ao disparar seu voo. Boa foto.

A galinha alçou-se tirando mais as patas do chão do que se projetava. Salto que surpreende; surpresa cujo encanto faz negligenciar o fato de ser uma galinha quem se lança. Galinha manjada. Que já deu seus pulos no passado.

A Moody’s deu pouca importância ao fato de ser uma galinha quem se alavanca, donde talvez a pouca relevância ao exercício de memória sobre como fora a aterrissagem do bicho quando da armação artificial de voo anterior. Não foi bem uma aterrissagem. Pagamos por ela até hoje. Catamos as penas até hoje.

Faltavam – como ora faltam – os fundamentos. Inexistente a capacidade de sustentar o arremesso. O plano de voo não fecha; porque não fecha a conta. Gasta e gasta – e controla gastos com pente-fino.

A Moody’s que melhora a nota de risco do Brasil – priorizando o crescimento insustentável da economia brasileira – é a mesma que a rebaixará, quando afinal considerar, com os devidos pesos, os elementos estruturais em razão dos quais deveria ser mais prudente-cética agora. A galinha está inchada.

O caso do país cujo endividamento cresce e cresce, ao mesmo tempo – matemática de Haddad – cumprida a meta fiscal, bulido, vilipendiado, o corpo morto do menino arcabouço. Pouca a transparência? Interessa é que crescemos.

O crescimento brasileiro corrente tem base precária forjada nos gastos públicos; na jorração de dinheiros públicos para induzir a atividade econômica, via consumo, e compensar a insuficiente potência do investimento entre nós, ausentes os meios para incrementar a capacidade produtiva. Estamos em pleno emprego. Contrata-se pressão inflacionária. Conjunto que é a própria definição do voo de galinha.

Voo de galinha não dura, embora essa turma saiba adiar o pouso. Que nunca é pouso.

Sobre a doença do jogo, o vício da aposta, o presidente Lula declarou: “Tem muita gente se endividando. Tem muita gente gastando o que não tem”.

O Brasil gasta o que não tem e se endivida em ritmo vigoroso. O governo Lula também joga um jogo e faz aposta. Casou, casa e ainda casará muitos bilhões em que o voo da galinha mantenha seu esplendor até 2026, quando soltará uma PEC Kamikaze para chamar de sua. O pouso – que pouso não será – fica para 27. Posa-se.

A Moody’s, contemplando a fotografia, melhorou a nota de crédito de quem raspa o tacho de tostões privados esquecidos em bancos e contabiliza esse desespero arrecadador como receita primária. É assim que batemos nossas metas.

 

2 comentários:

  1. Será que a Moody's vai aprender com os ensinamentos do colunista? Será que ela precisa deles? Serão mesmo ensinamentos?

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  2. A Moodys colocou agora o Brasil no patamar de Botswana, Cazaquistão e Chipre. Se continuar assim, talvez em 2026 o Brasil alcance o mesmo nível do Paraguai. Que bom, não é?

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