quinta-feira, 10 de outubro de 2024

César Felício - PL se torna o que o PT foi antes de chegar ao poder

Valor Econômico

Sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro se assemelha em perfil com o que o PT foi antes de chegar pela primeira vez ao poder

O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro sai das urnas como o partido menos dependente dos pequenos e médios municípios para garantir sua relevância. O partido saiu das urnas no domingo com um prefeito de cidade média (entre 50 a 200 mil eleitores) para cada seis das cidades com micro e pequenos eleitorados (até 50 mil eleitores). Apenas o Podemos, um partido de direita sem uma referência política nacional, tem perfil semelhante entre os 12 que mais elegeram prefeitos. O levantamento feito pelo Valor Data não considera os 103 municípios com grande eleitorado, acima de 200 mil habitantes, já que haverá segundo turno para 50 deles.

Nos grandes municípios o PL já conquistou dez e disputa o segundo turno em outras 23. A depender da sua taxa de sucesso, se caracterizará como um partido dos grandes centros urbanos, bem distribuído em todo País à exceção do Nordeste, um pouco parecido com o que o PT foi entre os anos 90 e o fim do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. A conquista feita pela sigla de municípios médios já aponta para essa direção.

O que o PL não se tornou nessa eleição é dominante em muitos Estados. A sigla está capilarizada onde governa, como na Santa Catarina de Jorginho Mello e no Rio de Janeiro de Claudio Castro, mas em São Paulo e Minas Gerais, Estados que reunem 27% dos municípios do País, o PSD prevalece na maioria das faixas das cidades até 200 mil eleitores. O PL é o quinto em Minas Gerais entre os micromunicípios ( até 10 mil eleitores) e o sexto entre os pequenos ( entre 10 mil e 50 mil eleitores). Nos médios municípios, divide o protagonismo com o PSD. Em Minas, o governador Romeu Zema (Novo) optou por um modelo diferente do adotado por todos os seus colegas e não criou uma base zemista. Tem o apoio de siglas como o Republicanos, o Podemos e o próprio PL, mas com compromisso para 2026 ainda a ser pactuado.

Em São Paulo, o PL fica atrás do Republicanos e do PSD entre os menores municípios e perde do PSD entre os pequenos e mesmo entre os médios. Isso mostra que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se apoia em uma federação de partidos para governar, e não no PL. Tarcísio e Bolsonaro politicamente estão juntos, mas o primeiro depende menos do segundo no momento.

O PL está forte também no Paraná, mas também não prevalece sobre o PSD do governador Ratinho Júnior. É o terceiro partido entre micro e pequenos municípios e o segundo entre os médios. Os dois partidos estão coligados em Curitiba, em torno de Eduardo Pimentel (PSD), vice-prefeito, mas Bolsonaro fez um jogo duplo, fazendo acenos para a jornalista Cristina Graeml (PMB), o equivalente local ao fenômeno de Pablo Marçal, terceiro colocado na eleição paulistana.

Na Bahia, o grupo político comandado pelo PT perdeu as eleições nos grandes e médios municípios, mas seria precipitado por esse resultado entender que o ciclo de poder aberto por Jaques Wagner em 2006 e atualmente gerenciado por Jerônimo Rodrigues está em seu último giro. Nos micro e pequenos municípios, o PSD predomina, junto com o próprio PT e com o Avante, um partido nanico na maior parte do Brasil mas forte no cenário baiano, e do mesmo modo que o PSD, parceiro local dos petistas.

O União Brasil do ex-prefeito de Salvador Antônio Carlos Magalhães Neto ainda vem atrás do PP e do MDB entre os municípios menores. Na Bahia o PL não existe entre os municípios abaixo de 200 mil eleitores. Conquistou apenas uma prefeitura.

No Rio Grande do Sul o PP e o MDB se mantêm como os partidos dominantes em todas as camadas no Estado, colocando em segundo plano tanto o PT de Lula, quanto o PL de Bolsonaro, quanto o PSDB do governador Eduardo Leite . O PL contudo aparece com força entre as cidades médias e tende a ter predomínio entre as grandes. Venceu em Canoas e Caxias do Sul, foi ao segundo turno em Pelotas e disputa a vice de Porto Alegre na chapa de Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição. Na dinâmica eleitoral gaúcha é comum a vitória de candidatos a governador que foram prefeitos em grandes centros ( Olívio Dutra em 1998, Tarso Genro em 2002, Germano Rigotto em 2010, Pedro Ivo Sartori em 2014 e Leite em 2018).

Pernambuco é um Estado em que o governo estadual foi claramente derrotado. Não pela derrota do candidato da governadora Raquel Lyra (PSDB) no Recife, que já era esperada, mas pelo bom resultado do PSB nos municípios menores. Predominou na faixa dos pequenos e ganhou em três cidades médias, onde não houve uma sigla dominante. É um resultado que surpreende porque o PSB perdeu o controle do governo estadual em 2022. Ainda assim, não murchou nas cidades menores.

A diluição da força do PL no conjunto de municípios não surpreende, dado à força excepcional do fenômeno da reeleição este ano. De acordo com levantamento divulgado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) nesta quarta-feira já no último domingo foram reeleitos 2.444 prefeitos, o maior número desde 2000, primeira eleição em que a recondução foi permitida. Nada menos que 81% dos prefeitos que tentaram um segundo mandato venceram as eleições.

O PSD foi o partido que mais atraiu filiações de prefeitos durante a janela para troca de filiação partidária, encerrada em abril. O movimento foi forte sobretudo em São Paulo, em que a maior parte da base que estava no PSDB migrou para a sigla de Gilberto Kassab, secretário de Governo e coordenador político de Tarcísio.

 

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