sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Eliane Cantanhêde – Ajoelhou, tem de rezar

O Estado de S. Paulo

Nas capitais e com evangélicos e banqueiros, Lula entra nas campanhas de 2024 e 2026

O presidente Lula fez dois movimentos importantes nesta semana, além de entrar na campanha do segundo turno. Na terça, sancionou o projeto criando o Dia da Música Gospel, com direito a reunião no Planalto, foto e cantoria com evangélicos. Na quarta, se reuniu por uma hora e meia com representantes dos quatro maiores bancos privados brasileiros, com pauta em aberto e foco no equilíbrio fiscal, ou melhor, no corte de gastos.

Se há algum ponto em comum entre evangélicos e o setor financeiro é a resistência ao PT, à esquerda e, por extensão, ao próprio Lula. Logo, há um esforço de Lula para vencer essas resistências, construir pontes e, no caso dos evangélicos, abrir dissidência, deixando uma pergunta no ar: quando será a rodada de conversas com o agronegócio, outro setor nada, nada, amigável?

A estrela do evento gospel de Lula foi o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), pastor da Assembleia de Deus Missão e Vida e mais uma dessas figuras para lá de polêmicas que ganharam exposição e microfones com a ascensão do bolsonarismo. Só que, agora, é todo elogio para Lula, depois de Jair Bolsonaro impedir que se candidatasse à prefeitura do Rio em favor do neófito Alexandre Ramagem.

Não é um motivo nobre, que demonstre grandeza pessoal e preocupação com o País, mas confirma a brigalhada que se instalou na extrema direita no rastro das eleições municipais. Bolsonaro já ouviu poucas e boas do pastor Silas Malafaia, está se estranhando com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, não esconde o ciúme do governador Tarcísio de Freitas e mais essa: racha nos evangélicos da sua base, o Rio de Janeiro.

Na reunião de quarta, com o setor financeiro, Lula também deixou de lado as críticas e ironias contra “o mercado” e “a Faria Lima”, não fez cara feia para defender gastos e usou um figurino oposto ao da antecessora Dilma Rousseff. Ouviu muito, prometeu “fazer tudo para o Brasil crescer com equilíbrio fiscal” e deu o aval mais esperado da tarde: ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava presente, tem bons canais no meio e tem sua “total confiança”. Agora, é ver se tudo o que foi dito e prometido era para valer ou só para banqueiro ver.

Lula também viajou nesta semana para o Nordeste e está desembarcando em São Paulo para o segundo turno da eleição municipal, além de abrir o leque e ganhar fôlego para os dois últimos anos do terceiro mandato e as prévias de 2026. Tomara que não se anime com seus próprios improvisos na reunião dos Brics e estrague tudo.

 

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