O Estado de S. Paulo
Quem será punido pelo apagão em São Paulo e a contaminação por HIV no Rio? Só as vítimas?
Afinal, de quem é a culpa pelo apagão que atingiu e há dias continua atingindo tantos milhares de paulistas após o temporal de sexta-feira? No jogo de empurra-empurra, a Enel, a Aneel, a Prefeitura, o governo estadual e o governo federal jogam no colo uns dos outros e acusam São Pedro, coitado, a chuva, as árvores, os postes, os cidadãos. Então, ficamos assim: segundo os culpados, a culpa é da vítima, uma idiota que só sabe reclamar, ficar de mimimi e nem consegue ligar um disjuntor.
São famílias inteiras, trabalhadores,
motoristas sem semáforos, donos de escolas, lojas, hotéis, restaurantes e
hospitais, que perderam – e continuam perdendo – alimentos, insumos e remédios,
sem celular, internet, televisão. E informação. O telefone “de emergência” não
atende ou atende mal, a concessionária promete um horário e não aparece,
promete outro e não aparece de novo, ninguém resolve nada. Postes e árvores
jogados dia após dia. Um perigo!
Já até compararam o temporal ao furacão
Milton na Flórida, mas a prevenção lá funcionou, os alertas de segurança foram
disparados, as famílias puderam se proteger, a assistência foi rápida, a
reconstrução envolve prefeitura, governo estadual, governo federal e iniciativa
privada. Se alguma coisa é parecida com o que ocorreu nos EUA é a briga
política, com o furacão invadindo o debate eleitoral e as fake news correndo
soltas.
A comparação possível é no próprio Brasil,
onde as concessionárias recebem bilhões de reais, mas cortam investimentos e
pessoal e mantêm equipes enormes de propaganda. O usuário que se dane. A versão
da culpada prevalece sobre a realidade da vítima, tratada pelas redes
alimentadas pelas concessionárias (inclusive como eu já fui) como idiota que
“não sabe ligar o disjuntor”. É assim em São Paulo, DF e por aí afora.
A Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel), serve para o quê? Fiscalizar? Prevenir? Punir? Ou para atrair as
chuvas e trovoadas dos poderosos quando a tempestade vem, destrói e mata? Um
dos piores vícios do Brasil é empurrar culpas com a barriga. Ninguém é
responsável por nada, desde que tenha poder, dinheiro, mandato, salário alto e
costas largas.
E os seis receptores de órgãos contaminados
por HIV? Milhões de reais de recursos públicos foram despejados num laboratório
mequetrefe para testes em órgãos de doadores, a maior parte sem contrato e,
depois, com contratos sem licitação. Os donos, ora, ora, são familiares do
então secretário de Saúde, hoje deputado federal. Quem vai ser punido pelo
crime contra os que buscavam saúde e vida e encontraram corrupção e um vírus
que pode ser letal?
Quanta coisa errada!
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