Folha de S. Paulo
Fatos e padrões que marcaram primeira etapa
do processo eleitoral não são apagados na segunda
Uma das frases mais repetidas em colunas de
opinião e análises nas primeiras segundas-feiras de outubro de anos
eleitorais é que o segundo turno é uma outra eleição. Receio
que não seja bem assim. Segundos turnos são, como indica o adjetivo numeral,
uma continuação do primeiro.
É claro que só o fato de o processo eleitoral ainda não ter sido encerrado mantém aberto o espaço para contingências, mas os fatos e padrões que marcaram a primeira votação não são simplesmente apagados.
Assim, candidatos que ficaram a um ou dois
pontos percentuais de atingir a metade dos votos válidos, como os prefeitos de
Porto Alegre, Sebastião
Melo (MDB, 49,72%), e de João Pessoa, Cícero Lucena (PP,
49,15%), estão praticamente com o diploma na mão.
É muito raro candidatos perderem votos do
primeiro para o segundo turno e é muito difícil que não consigam entre os
eleitores que ficaram "órfãos" a fração de pontos que faltou para a
vitória. Foi o caso do próprio Lula em 2022, que saiu do primeiro turno com
48,43% dos votos válidos.
Outra característica que não vai embora é a
rejeição. Um marqueteiro competente até consegue suavizá-la um pouco na curta
campanha de segundo turno, mas dificilmente muda o quadro geral.
Em São Paulo, isso é um
problema para Guilherme Boulos, cuja rejeição no
último Datafolha foi de 38%, contra 25% de Ricardo Nunes.
Não é impossível para o psolista reverter o quadro, mas será um enorme desafio,
especialmente porque os eleitores de Pablo Marçal,
que agora estão sem candidato, tendem mais a Nunes do que a Boulos.
Não estou com essas observações, que são de
natureza probabilística e não determinística, sugerindo que não há em eleições espaço
para imponderáveis, muito pelo contrário. Em São Paulo, a disputa foi
tão acirrada entre os três primeiros colocados que acho que dá
para descrever como um golpe de sorte o fato de termos nos livrado do infame
Marçal. E ele delinquiu tanto que é altamente provável que o TSE o torne
inelegível por oito anos.
Neste caso específico, os deuses favoreceram
a democracia.
Tomara,Marçal transformou sua campanha em lamaçal,rs.
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