Folha de S. Paulo
Reforma política felizmente deixou de ser
vista como panaceia; mudanças incrementais são válidas e podem trazer bons
resultados
Não muito tempo atrás, não importa qual fosse
o problema que o país enfrentasse, da corrupção à pobreza, alguém levantava a
bandeira da reforma
política, de preferência sob uma constituinte exclusiva, como
solução infalível para a mazela.
Basta, porém, olhar para o estado de algumas
democracias ao redor do globo para concluir que as coisas são mais complicadas.
Se existe solução ao alcance de uma reforma, precisaríamos reformar o ser
humano, não a política.
Daí não decorre que não haja nada a aprimorar no plano institucional. Pelo contrário, às vezes pequenas mudanças podem ter consequências muito positivas.
Precisamos apenas recalibrar as expectativas.
A própria ideia de solução tem de ser repensada. Frequentemente, o que vemos
como problema é o objeto de desejo de outras nações. Se aqui alguns se queixam
do voto proporcional para o Legislativo,
que gera bancadas
temáticas como as do boi, da Bíblia e da bala, países que adotam o
voto distrital puro sonham com um sistema mais parecido com o nosso, que
favorece candidaturas de causas e permite mais diversidade no Parlamento.
Acho também que devemos ser menos ambiciosos
em relação à pauta. O parlamentarismo é
melhor que o presidencialismo, mas não vejo condições objetivas para mudança
nas próximas décadas.
Eu guardaria as energias para alterações mais
simples, como uma cláusula de barreira mais efetiva, o fim do teto para
bancadas estaduais na Câmara (que
impõe forte sub-representação aos paulistas), adoção de segundo turno em todos
os municípios (no longo prazo, buscaria implantar o voto
valorativo) e a abolição dos cargos de vice.
A única reforma de que intelectualmente não
abro mão é o fim do voto
obrigatório. Sei que existem bons argumentos sociológicos a favor
desse instituto, mas penso que ele de alguma forma viola o próprio pacto do
Estado liberal, que faculta a cada cidadão decidir o que é importante para si e
agir de acordo. Como deixar de comparecer à urna não representa perigo imediato
a terceiros, não pode ser uma obrigação.
Verdade,obrigar o sujeito a votar não é nada democrático.
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