Valor Econômico
Separado do 2º turno por apenas 57 mil votos,
candidato estava condenado a cair na justiça
A derrota de Pablo Marçal pelo voto livrou a eleição da cidade mais importante do país de uma interferência decisiva da Justiça Eleitoral na campanha mais disruptiva de todas as capitais brasileiras. Era isso que estava contratado se o candidato do PRTB tivesse tido 57 mil votos a mais e passasse para o segundo turno. Fora do jogo, a encrenca que o candidato do PRTB se meteu com o laudo falso contra o candidato do Psol, Guilherme Boulos, poderá, no limite, levá-lo a fazer companhia ao ex-presidente Jair Bolsonaro na inelegibilidade, configurando o impedimento eleitoral das duas principais lideranças da extrema-direita do país. Está afastado, porém, um conflito adicional à corda já esticada com o Judiciário.
A cartada final de Marçal com o laudo falso
se deu num momento em que os “trackings” das campanhas já apontavam o avanço do
prefeito Ricardo Nunes (MDB) sobre o eleitorado bolsonarista, que acabaria
confirmado pelo Datafolha. Além do laudo da noite de sexta-feira, que visava a
demonstrar a disposição de Marçal ao “vale-tudo” num confronto contra Boulos no
segundo turno, o candidato do PRTB fez dois movimentos para conquistar o
eleitorado bolsonarista depois que o ex-presidente, também na noite da antevéspera
eleitoral, pediu explicitamente, pela primeira vez, voto para Ricardo Nunes.
Os dois movimentos de Marçal tiveram por alvo
o ministro Alexandre de Moraes. O candidato do PRTB declarou-se, pela primeira
vez, favorável ao impeachment de Moraes, também na noite da sexta feira e, no
sábado à tarde, postou o laudo falso no X, rede banida do Brasil pelo ministro.
Se o laudo comprometeu sua eleição, o avanço contra Moraes contribuirá para sua
inelegibilidade como demonstra a decisão que o multou e apontou abuso do poder
econômico.
Ameaçado de inelegibilidade, Marçal busca
blindagem com apoio a Nunes
Com 28% dos votos, porém, o capital eleitoral
conquistado por Marçal será decisivo para o segundo turno. A busca de uma
blindagem ante o cerco da justiça, que pode comprometer sua elegibilidade e, no
limite, até sua liberdade, parece ter sido decisiva à declaração do candidato
de que estaria disposto a apoiar Nunes.
Não é possível cravar o peso do laudo falso
no resultado final mas a rejeição, acima da média de indecisos - 18% segundo o
Datafolha e 30% segundo a Quaest - sugere que a trapaça tenha sido determinante
para estancar sua arrancada final. O cerco da justiça, do Tribunal Regional
Eleitoral de São Paulo ao Supremo Tribunal Federal, parece ter deixado claro ao
eleitor que seu voto poderia ser inútil, uma vez que o candidato estava fadado
a ser barrado pela justiça.
O porta-voz mais eloquente deste desfecho foi
Tarcísio Freitas. “Se o Brasil fosse sério, Marçal seria preso”, disse o
governador, confirmando, na reta final, a condição de principal cabo eleitoral
de Nunes. A determinação de Freitas em desmascarar a farsa de Marçal levou, com
inaudita rapidez, a um irrefutável laudo pericial da Polícia Civil de 28
páginas. A ver como se comportará esta animosidade agora que Marçal acena para
Nunes.
A derrota de Marçal é mais decisiva para
Tarcísio do que a vitória de Nunes. A ameaça que pairava sobre o governador
acabou por torná-lo um cabo eleitoral mais determinante para a ida do prefeito
ao segundo turno do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o foi para a
Boulos. Uma derrota de Nunes cobraria um preço mais alto para o governador do
que a do candidato do Psol para Lula porque Marçal se firmaria como uma ameaça
à sua liderança na direita.
O peso relativo de Lula para a votação de
Boulos se traduziu no mapa eleitoral da cidade. O candidato do Psol ganhou em
zonas eleitorais lulistas, mas foi Nunes quem levou o sudoeste da cidade,
região que o presidente levou em 2022. Este peso relativo do presidente pode
ditar seu comportamento no segundo turno. Na primeira etapa de votação, Lula
gravou para o horário eleitoral, fez live, caminhada e dois comícios, um dos
quais o levou a ser repreendido pela Justiça Eleitoral por ter se dado no
período pré-eleições. O comportamento será ditado pelo limiar de ganho para
Boulos e perda para o presidente se a candidatura do Psol, como demonstram as
pesquisas, não se mostrar em condições de vencer.
Considere-se ainda a disposição de o
ex-presidente Jair Bolsonaro de entrar de cabeça na campanha de Nunes neste
segundo turno. Depois de ter mantido uma postura dúbia durante toda a campanha,
inclusive na manhã de domingo, quando disse que, contra Boulos, apoiaria
“qualquer um”, Bolsonaro esperou as urnas se definirem para anunciar que agora
se jogaria na campanha paulistana.
Se o apoio de Bolsonaro teria sido desejável
para garantir uma ultrapassagem mais folgada de Marçal, sua presença ao lado de
Nunes pode criar obstáculos à conquista da maioria do eleitorado no segundo
turno em função da rejeição ao ex-presidente na cidade. Ainda que não se saiba
se a presença de Bolsonaro seja desejável pelo prefeito, esta disposição acende
uma luz amarela para Lula, que não pode correr o risco de aparecer como o
grande derrotado de uma eleição em que o ex-presidente inelegível se exiba como
vencedor.
Marçal levou o Nordeste da cidade, região em
que Jânio Quadros reinou absoluto e que, em 2022, deu vitória a Bolsonaro.
Boulos só terá condições de atrair este eleitor se seu grau de insatisfação com
a atual gestão do município for maior do que a rejeição a Boulos, a terceira
maior da disputa, depois daquela de José Luis Datena (PSDB) e de Marçal.
A cesta de votos mais garantida para Boulos é
aquela da candidata do PSB, Tabata Amaral, que praticamente fechou em dois
dígitos (9,9%) e mostrou ser capaz de segurar o voto útil em direção ao
candidato do Psol no primeiro turno. Tabata declarou seu apoio a Boulos sem
abrir mão da marca de sua campanha, a de reiterar os “projetos absolutamente
diferentes” de ambos. Seu desempenho não se igualou ao de Márcio França (14%),
em 2020, mas o atual ministro do Empreendedorismo já tinha governado o Estado
quando disputou a Prefeitura de São Paulo. A candidata do PSB saiu maior do que
entrou e se firmou como uma opção competitiva da terceira via na política
paulista.
A despeito do impacto disruptivo de Marçal, a
configuração do segundo turno acabou por levar São Paulo a convergir com o mapa
que este primeiro turno desenhou para o Brasil, com o fortalecimento do
Centrão, notadamente do PSD, campeão de prefeitos, o crescimento do PL, que
levou duas capitais e ainda disputa outras nove e, em menor grau, do PT, que,
no geral, elegeu menos da metade dos prefeitos do PL, mas manteve chances em
quatro capitais. Hoje o partido não tem nenhuma.
Marçal perdeu mas o vereador mais votado da
cidade, com uma pauta transfóbica, Lucas Pavanato (PL) é seu apoiador, da mesma
maneira que, no Rio, o campeão de votos foi o 02, Carlos Bolsonaro (PL). Com
mais um a caminho da inelegibilidade, a extrema-direita se reproduz.
Marçal e Bolsonaro, companheiros de luta e de crimes! A mentira acima de tudo e de todos!
ResponderExcluirE onde anda o papagaio bolsonarista que jurava por aqui que os institutos de pesquisa estavam errados e que Marçal venceria a disputa?
ResponderExcluirAboliram,de vez,a vírgula antes da conjunção ''mas''.
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