Folha de S. Paulo
Enquanto isso, a direita deita, rola,
agradece e ganha eleições
Houve alguma reação de pessoas de esquerda,
revoltadas com a performance
da mestranda Tertuliana Lustosa, durante sua participação num
seminário da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mas o barulho foi muito
maior por causa de uma série de anúncios da marca Heinz, veiculados no metrô de
Londres. Sim, a gritaria chegou até aqui.
Enquanto Tertuliana rebolava as nádegas com a calcinha aparente dentro de uma universidade, a pauta mais debatida nas bolhas de esquerda era o "racismo" presente na campanha de Halloween, com referência ao personagem Coringa. Num dos anúncios, um homem negro com a boca lambuzada de ketchup provocou debate sobre "blackface".
No outro, um casal de noivos é rodeado pelos
pais, mas a noiva negra tem apenas a figura da mãe presente. A cena me remeteu
à Meghan Markle e
a família real. Mas, segundo as críticas, trata-se de "reforçar o
estereótipo racial da ausência paterna". Se a ideia foi fazer referência
ao príncipe
Harry e sua mulher, trazer a presença do pai também não daria
certo porque o progenitor de Meghan é branco. Mais confusão. Deixa para lá.
A questão é a seguinte: partidos e políticos
de esquerda terão que rebolar muito mais do que Tertulianas para controlar o
mercúrio retrógrado infinito que virou o identitarismo
na órbita progressista. Nos últimos anos, essa vertente dos
movimentos sociais ficou caricata ao adotar posturas extremas, muitas vezes com
foco em questões individuais e/ou superficiais, em detrimento das pautas que
servem genuinamente para promover justiça social.
Essa radicalização e hiperfocalização só têm
desviado a atenção de problemas estruturais e coletivos, enquanto alimenta,
inclusive, divisões internas e deslegitima o debate público com polarizações
desnecessárias. Se hino em linguagem neutra já deu dor de cabeça, imagine o que
a "pornografia com dinheiro público" renderá até 2026. Eu, que já
frequentei lugares com mais ousadia, me senti uma tia reaça ao assistir e ouvir
trecho do que a mestranda classifica como "pesquisa, educando com o cu".
A direita deita, rola, agradece e ganha
eleições. Mas, silêncio, a esquerda está ocupada com a propaganda de ketchup.
A travesti esqueceu de dizer que a gente só sofre,sentimos apenas dor,a pior dor do mundo e,ainda temos de pagar,quer dizer,eu vivo só.
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