Valor /Econômico
O Brasil não está polarizado, mas politizado.
As pessoas querem ter opinião sobre tudo, fundamentadas, ou não, em fatos. Cada
vez mais influenciadas pela religião, essas posições só poderão ser
conquistadas se a esquerda se mostrar útil na vida das pessoas. No PT há 44
anos, José Dirceu não doura a pílula sobre o desempenho de seu partido nas
eleições municipais.
Com uma anulação de seus processos ainda por ser julgada no Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro ainda aguarda esses desdobramentos para definir se voltará a disputar a Câmara dos Deputados em 2026, quando completa 80 anos. Mas não para se envolver na disputa de rumos do PT. Estabelecido de volta em São Paulo, esteve em Brasília há mais de um mês para uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem não encontrava havia um ano e meio.
Assim como o eleitor, Dirceu também tem
opinião sobre tudo, embora prefira externá-las em conversas ao pé do ouvido com
seus correligionários e nas consultas que lhe são feitas por empresários. Dois
deles ouviram do ex-ministro, no início deste governo, que a direita havia
sequestrado a agenda do país e que seu partido, depois de derrotar um
desqualificado, enfrentaria problemas em 2026 se o adversário não o for.
A correligionários, disse que as eleições
municipais lhe reafirmaram as convicções do sequestro da agenda, mas lhe
trouxeram dúvidas sobre a capacidade de Tarcísio de Freitas liderar a direita
seja por uma gestão que ainda não mostrou a que veio, seja por erros incomuns
numa liderança como a associação do PCC com o voto em Guilherme Boulos (Psol)
no dia da eleição.
Ainda que não tenha dúvida sobre a
consolidação da direita e do PL, não está seguro da candidatura presidencial do
governador. Está ciente de que não lhe falta apoio empresarial, mas vê
divisões, comuns a um campo que se agigantou, entre elas a dúvida sobre o
respaldo de Jair Bolsonaro.
A divisão da direita abre aquela que talvez
seja a derradeira chance para o resgate da frente ampla que elegeu Lula. O
momento é de gravidade - é este o termo escolhido por Dirceu - para a
sobrevivência dessas forças em 2026.
Faz 20 anos que o ex-ministro deixou o
Palácio do Planalto e quase 10 que saiu da prisão pela segunda vez. Muita coisa
mudou, mas não a percepção de que o PT continua a precisar do MDB, que, a
despeito de ter sido ultrapassado pelo PSD em número de municípios, garantiu,
com Ricardo Nunes, a condição de partido com a maior população sob sua
administração local em 2025. A questão agora é saber o quanto o peso de Freitas
para o desfecho em São Paulo pesará sobre o rumo dos emedebistas em 2026.
O resgate da frente ampla de 2022, com a
incorporação do MDB ao núcleo decisório, fortaleceria o governo mas não
evitaria as trepidações deste segundo biênio, impulsionadas pela sucessão das
mesas diretoras, as perspectivas de crescimento das bancadas da banda à direita
do Congresso e pedágios como a mitigação dos poderes do STF.
A indicação de Otto Alencar (PSD-BA) para a
liderança do governo no Senado é um aceno para o partido mais fortalecido nesta
eleição, ainda que os rumos a serem traçados pelo principal estrategista,
Gilberto Kassab, ainda dependam do caminho a ser tomado por Freitas.
De tudo isso depende a pergunta para a qual
não deverá haver resposta antes de abril de 2026: Lula será candidato à
reeleição? Quando dirigida ao eleitor, a maioria diz que não. Ninguém acreditou
quando o presidente disse que faria um governo de transição, mas o fato de ter
parado de tocar no assunto parece mais relacionado ao risco de implosão do
partido do que às suas convicções.
Muito vai depender dos rumos do partido. No
PT, os balanços mais pessimistas são acompanhados de observações como: “Em
qualquer outro país, a direção partidária cairia depois de um desempenho
desses”. Do conceitual ao comezinho, tem muita coisa fora do lugar.
Dirceu tem dito a seus correligionários que,
para fazer diferença no lugar onde se mora, motor da eleição local, o partido
tem que estar presente nos momentos mais dramáticos da vida dos eleitores - dos
crimes que mobilizam as comunidades a tragédias como enchentes, incêndios e
apagões.
Entidades como Rotary, Lions, Clube de
Diretores Lojistas, as igrejas e os partidos de direita o superam. A
mobilização institucional não dispensa a da militância para atuar em mutirão
como o PT fazia em sua origem. A atuação junto à classe média descuidou-se das
entidades profissionais que a agregam. O PT foi varrido da OAB ao Conselho
Regional de Medicina.
Quem quer que tenha acompanhado a campanha de
rua de Guilherme Boulos (PSol) terá visto uma predominância 50+, o que
descredencia o conceito de militância. Sem os jovens, cujo custo de
participação é mais baixo, não se mobiliza. E são as pautas identitárias, mais
que o buraco de rua, que hoje os move.
A visão de que as leis que protegem a
diversidade têm que ser preservadas sem que isso vire a razão de ser do PT é
defendida internamente por Dirceu e publicamente por Lula contra o fermento da
direita pela religião.
O empreendedorismo é outro tema prestes a virar dogma a despeito de 70% do país ainda preferir carteira assinada à selva dos pequenos negócios. E ainda tem o divórcio entre as pautas do governo e as do partido. Sua melhor eleição municipal (2012) se deu no auge de Lula/Dilma Rousseff. O PT incorpora políticas compensatórias, como o pé-de-meia, mas não as estruturantes, como a reforma tributária. Sem levar tudo isso para o divã, não tem culpar a comunicação.
Falando em divã, tenho que fazer algumas confissões:
ResponderExcluir• Como todo jovem que teve o privilégio de participar das Diretas-Já ( estive na Sé e no Anhangabaú), alimentei o sonho de contribuir para a construção de um país melhor
• Fiz questão de participar como mesário das eleições desde a passagem dos anos 80 para os 90, pois isso me dava a sensação de participar da vida política como um cidadão mais ativo
• Desde adolescente procurei envolver-me em temas relacionados à política e influenciar amigos para que pudéssemos fazer o que imaginávamos ser as melhores escolhas em termos de candidaturas
• Como professor, sempre procurei ser o mais honesto possível quanto à abordagem dos conteúdos que trabalhávamos, evitando ao máximo puxar a sardinha para candidatos ou partidos " a ", " b " ou " c ", pois sempre acreditei que as pessoas têm capacidade para fazer suas próprias escolhas. Sempre procurei enxergar o Brasil como um país cujo futuro poderia abarcar menores desigualdades sociais e econômicas, propiciando a mim e minha família melhores condições de vida. Pois bem.
Sem me alongar muito, mas, a certa altura do campeonato, os acontecimentos começaram a escancarar os tais choques de realidade.
• Primeiro, com o esfacelamento da então União Soviética e a queda do Muro de Berlim. Começava a ficar cada vez mais escancarado às nossas vistas que determinados sujeitos, por serem de esquerda, não eram, necessariamente, melhores que outros. E que partidos de esquerda poderiam promover as maiores barbaridades e carnificinas, em regimes tão assassinos como quaisquer outros que abominávamos.
• Após a eleição de Lula e a chegada do PT ao poder, alimentando as maiores expectativas e esperanças de milhões de brasileiros, assistir à entrevista-bomba de Roberto Jefferson foi, para mim, o equivalente a tomar um soco no meio da cara. A raiva que senti naquele contexto foi mais um dos momentos que me fizeram alicerçar a consciência de que opções ideológicas não devem servir de salvo-conduto para quem quer que seja. Pois bem.
E hoje?
• Hoje, não consigo olhar para imagens de figuras como Gleisis ou Dirceus da vida sem sentir certa vontade de virar o rosto.
• Não quero saber de ouvir a voz do Lula.
• Quando bato o olho numa chamada e leio " Janja " saio correndo. Não é para mim.
• Deles todos, nutro simpatia pelo Haddad que, apesar de sua fidelidade canina ao chefe, continua a se mostrar como íntegro, esclarecido e moderno.
Um último ponto: na eleição presidencial passada ( assim como na anterior ), não consegui anular o voto. Tive que votar em Lula ( e Haddad, na anterior ), pois não dormiria tranquilo em saber que, mesmo não valendo nada, meu voto poderia ajudar a colocar na presidência uma aberração política, como, de fato, foi colocado. Entre mortos e feridos, os resultados dessa péssima escolha estão à vista de quem quiser os ver.
De resto, espero que consigamos sair desta para algo melhor.
Tira o cavalo da chuva meu amigo , com o PT não tem salvação é daí pra pior
ResponderExcluirComo dizia o saudoso Teori Savaske
ex ministro do Supremo, o PT é uma organização criminosa que quer implantar uma Claptovracia no país
Lula, Zé Dirceu foram pegos com a boca na botija julgados e condenados por corrupção lavagem de dinheiro e formação de quadrilha há mais de 10 anos de cadeia
São criminosos bajulado pela imprensa esquerdista
O PT talvez não tenha salvação, mas daí pra pior é com o PL e Jair Bolsonaro e seus cúmplices. O PT tem Haddad e alguns outros políticos honestos (ou aparentemente honestos). Nunca fui petista, voto no menos pior, e muitas vezes este é do PT.
ResponderExcluirQuando a colunista escreve, usando palavras do Zé Dirceu, que o PT havia vencido um "desqualificado", ela está xingando todos os seres humanos desqualificados ao igualá-los ao miliciano GENOCIDA.
ResponderExcluirBateu o desespero na colunista favorita do Dirceu??????
ResponderExcluirNão entendi o último parágrafo do primeiro comentário.O Brasil precisa superar essa polaridade entre direita e esquerda,vamos para o centro,o caminho do meio é o melhor caminho.
ResponderExcluirSe há 3 caminhos (centro, direita e esquerda), é porque diferentes pessoas entendem que cada um destes caminhos é o melhor. Talvez a maioria das pessoas até ache que o centro seria o melhor, como pensa o Ademar, mas sempre haverá quem prefira um dos outros 2 caminhos.
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