O Estado de S. Paulo
O Brasil deveria aproveitar a presidência do bloco em 2025 e enunciar sua posição de equidistância dos antagonismos em formação, na defesa de seus interesses
A reunião do Brics, que se realiza as partir
de hoje em Kazan, na Rússia, marca uma nova etapa na trajetória do grupo.
Criado em 2006, por iniciativa da Rússia, o bloco foi constituído por Brasil,
China, Índia e Rússia, e pouco depois incorporou a África do Sul. Em setembro
de 2023, por influência da China, passaram a fazer parte também Emirados
Árabes, Egito, Irã, Arábia Saudita, Etiópia.
A participação do Brics na economia global é uma consequência de seu peso econômico (32,1% do PIB global contra os 29,9% do G-7, metade da população mundial e 25% do comércio internacional). A China tornou-se a segunda potência global, a Índia e o Brasil estão entre as dez maiores economias do mundo, a Rússia é uma potência nuclear e a África do Sul, a maior economia da África.
A gradual ampliação dos países participantes
no Brics era previsível a partir do momento em que a China convenceu o Brasil e
a Índia a aceitar a inclusão de novos membros. Por iniciativa da China, em
Kazan, será criada a categoria de parceiros do Brics para os novos membros, com
a possível fixação de alguns critérios, como a representação geográfica, a
oposição a sanções econômicas unilaterais, o apoio a reforma da ONU,
especialmente a do Conselho de Segurança. Apesar das dificuldades criadas com a
guerra da Rússia com a Ucrânia e da crescente tensão entre a China e os EUA, o
interesse dos países em se juntar ao Brics, estimulado por Pequim, cresceu
fortemente nos últimos meses, e 35 países (inclusive o Afeganistão, do Taleban)
estão pleiteando a participação no grupo.
Na reunião presidencial da Rússia, mais dez
países deverão ser aceitos pelo Brics, entre eles são mencionados Cuba,
Venezuela, Bolívia, Bielorrússia. A decisão de dobrar o número de participantes
de todos os continentes, sob a liderança da China, com a inclusão de países
autoritários e de viés anti-EUA, está tornando o Brics o embrião de um
movimento antiocidental. Com o predomínio da China, o movimento tende a se
ampliar com a grande maioria dos países com uma postura antiamericana e com
viés pró-Rússia. A China e a Rússia veem o grupo como um ponto de confrontação
com o Ocidente, como a inclusão do Irã evidencia.
A contraposição ao Ocidente (conjunto de
países sem delimitação geográfica, integrado pelos EUA, Europa, Japão,
Austrália e outros países em todos os continentes) não é ideológica ou militar,
mas de princípios, valores, na economia, nas finanças e nos avanços
tecnológicos. A tendência de divisão do mundo entre Ocidente e o movimento
antiocidental está aí para ficar. As implicações geopolíticas são evidentes e
poderosas. A guerra da Rússia na Ucrânia representou um problema para o Brics,
como originalmente concebido, pois um país-membro passou a ser visto como um
inimigo ocidental, o que inevitavelmente contaminou a percepção política sobre
o grupo.
Embora sem uma agenda comum, os
países-membros do Brics passaram a ampliar suas relações, tornaram-se mais
conhecidos e passaram a coordenar suas ações nos organismos multilaterais, como
a ONU, em temas de interesse comum. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento
foi o primeiro sinal de uma nova governança global, e a plataforma de desafio à
hegemonia do dólar nas trocas comerciais, com a utilização do renminbi ou
moedas locais, é outro indício da contestação em marcha, com previsível reação
norte-americana, evidenciada pela ameaça de Donald Trump de taxar em 100% os
produtos de países que aderirem. Apesar de existir o potencial para influir ao
longo dos anos na governança global, as limitações internas e externas do grupo
dificultam a ideia de se tornar uma efetiva alternativa à ordem ocidental.
Quais os interesses do Brasil? Como o Brasil
se situa no contexto do novo Brics? O Brics é para o Brasil um espaço
privilegiado de articulação político-diplomática, bem como plataforma de
cooperação em áreas que incluem virtualmente todos os principais temas da
agenda internacional. O Brasil procura usar o Brics como alavanca para uma nova
governança global, em que a multipolaridade prevaleceria sobre a unipolaridade,
sem necessariamente confrontar o Ocidente. A reforma das instituições
multilaterais permanece sendo objetivo central para o Brasil, ao lado do
desenvolvimento de uma plataforma para a promoção do uso de moedas locais como
meio de pagamentos e a expansão e o fortalecimento do Novo Banco de
Desenvolvimento. Apesar de não concordar com a ideia de o Brics ser um vetor de
disputa estratégica ou confrontação geopolítica e um agrupamento que pretende
competir com o G-7 ou substituir as atuais organizações multilaterais, o
Brasil, a exemplo da Índia, deveria permanecer no bloco, mesmo com o risco de
ficar isolado no âmbito dos novos países-membros, com previsível perda de
influência, até mesmo na definição da agenda do grupo.
Em 2025, o Brasil assume a presidência do
Brics ampliado, com a proposta de fortalecimento da cooperação do Sul Global
para uma governança mais inclusiva e sustentável. O Brasil deveria aproveitar
essa oportunidade e enunciar claramente sua posição de equidistância dos
antagonismos em formação entre dois blocos na defesa de seus interesses
econômicos, financeiros e comerciais.
Quanta inocência do jornalista Achar que o Brasil pode participar desse eixo do mal em que a grande maioria são países autoritários que não têm na democracia a base do seu governo e sim em ditaduras Esse é o desejo do PT esse é o desejo do Lula Não adianta botar pano quente e nós vamos sofrer sim as consequências dessa posição anti Ocidente e vai ser já já com a vitória do Trump , é melhor botar as barbas de molho
ResponderExcluirNão se trata de um jornalista e, sim, de um consagrado embaixador do Brasil. Chamá-lo de petista é um exagero absolutamente descabido ...
ResponderExcluir