Folha de S. Paulo
Vivemos em bolhas e, pela primeira vez, vi-me
em meio a um grupo de negacionistas
Um bate-papo na sala de espera de um hospital pode ser mais torturante do que a perspectiva de um exame delicado ou a expectativa por um diagnóstico. Num mau dia, ouvem-se opiniões estarrecedoras. No meu caso, foi na semana passada, pela voz de quatro ou cinco homens e mulheres, todos articulados e com leitura talvez acima da média, num ambiente —um reduto médico— em que, se não acreditamos na ciência, não sei o que estamos fazendo ali.
De repente, falou-se da vacina contra
a Covid. Dois deles admitiram que se vacinaram, mas a contragosto e
só uma vez. Um casal à minha frente declarou que não se vacinou, e o marido
explicou por quê. Eram contra a obrigatoriedade, temiam os efeitos colaterais
—"trombose, AVC, enfarte"— e não acreditavam que uma vacina pudesse
ser fabricada em um ano. A prova estava em que, citando uma estatística,
morreram mais vacinados em 2022 do que não vacinados em 2021.
Outro na roda era um alemão, bem sacudido
para os seus 70 e tal, com leve sotaque no português bem falado. Estava
revoltado com a invasão de muçulmanos na Alemanha, "empesteando-a com suas
doenças e obrigando o governo a sustentá-los à custa dos alemães". Um
exemplo de que a imigração arruinava um país, segundo ele, era a Inglaterra,
tão ocupada pelos indianos que, até há pouco, o primeiro-ministro britânico era
um.
As chuvas em
Porto Alegre, o furacão
nos EUA e os ventos
em São Paulo também não tinham a ver com extremos climáticos.
Sempre aconteceram, a mídia é que não falava neles. E o degelo da calota polar
era mentira —a Groenlândia há dois séculos era um jardim e hoje é uma geleira.
Temo que o leitor não acredite que ouvi esses
disparates numa sala de espera de hospital há alguns dias. Eu também não
acreditava enquanto ouvia. Vivemos em bolhas e ali me dei conta de que, até
então, nunca me vira entre negacionistas hidrófobos. Mas eles existem e não
eram cínicos, pareciam convencidos do que diziam. Perguntei ao alemão se, em
sua opinião, a Terra era redonda ou plana. Ele riu: "Que pergunta é essa?
Estamos falando a sério!". E fiquei sem saber o que ele achava.
"United Kingdom of Ipanema"
ResponderExcluirO colunista fez um bom apanhado das crenças dos bolsonaristas MENOS radicais. Os radicais são como seu líder, defensor(es) da TORTURA e dos TORTURADORES! Acham que Trump não mente, só se engana de 10 em 10 minutos.
ResponderExcluirA humanidade perdeu o eixo,nunca tivemos eixo,sei lá,rs.
ResponderExcluir"United Kingdom of Ipanema"
ResponderExcluirAlém de covarde, invejoso. MAM
Ruy Castro falando sobre música é maravilhoso, mas quando ele envereda pela politica ou sociologia não passa de um extremado à esquerda. O Alemão está errado? Tato quanto ele, que escreveu texto abjeto sobre hippies e não divulgado aqui, portanto, uma raridade. Penso que o alemão acerta ao falar sobre muçulmanos no geral e erra sobre hindus. Alias, tenho medo que Lula esteja enchendo o Brasil de terroristas, direto para Foz do Iguaçu. Extremos climáticos é palhaçada! A Terra está esquentando há 12 mil anos, mas os euro comunistas resolveram substituir a luta de classes pelo calor extremo após os anos 60... Se ele lesse poderia ter derrubado facilmente as argumentações contra a vacina, assim como sobre as estatisticas. Mas ele preferiu fazer piada irônica e ficou sem resposta... MAM
ResponderExcluirMuito bem dito, Ruy Castro deveria se limitar a escrever biografias e falar de musica. Porque ele nao contestou os outros? faltava-lhe argumentos?
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