sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Vera Magalhães - A agenda do pós-eleições

O Globo

Retomada do controle do Orçamento, reforma ministerial e sucessão na Câmara serão temas da volta do mundo político a Brasília

Passado o segundo turno, Brasília volta a funcionar com força total com foco em quatro temas principais, todos interligados: a necessidade do governo de promover um corte estrutural de gastos que mantenha de pé o arcabouço fiscal, o acordo entre os Poderes para disciplinar as emendas parlamentares, a troca de comando na Câmara e no Senado e uma esperada reforma no primeiro escalão do governo.

Uma das coisas que ficaram nítidas nas eleições municipais foi o peso do dinheiro vindo de Brasília nos resultados que inflaram as siglas do Centrão e da direita. São dois os dutos pelos quais jorrou a dinheirama: o fundo eleitoral inflado pelo Congresso e as emendas Pix, que, agora, deverão mudar, a partir da puxada no freio dada pelo Supremo Tribunal Federal.

As várias modalidades de emendas, além da Pix, e seu caráter cada vez mais impositivo tiraram do Executivo uma das principais armas de que sempre dispôs para fazer política. O resultado é que muitos partidos com gabinetes na Esplanada fizeram campanhas completamente dissociadas de Lula ou do governo, sem deles depender e, sobretudo, sem defendê-los, fazendo com que a esquerda saia bem mais enfraquecida do mapa e, assim, largue atrás na montagem de chapas para a Câmara e o Senado daqui a dois anos.

Ainda há reflexos possíveis na montagem de uma coalizão para a sucessão do próprio Lula, por mais que a literatura de ciência política seja sempre muito cautelosa ao ver reflexos claros das eleições municipais na disputa presidencial. Mas é impossível negar: partidos que se articularam em frentes como a paulistana, em que seis siglas com nove assentos no ministério de Lula apoiaram Ricardo Nunes, já falam em repetir a dose lá na frente, a depender de como estiver a avaliação do governo e de quem for o candidato de centro-direita a desafiar o presidente.

O Planalto já percebeu que está numa armadilha, em que dá casa, comida e roupa lavada à base de emendas Pix para legendas que, mais adiante, poderão pegar as trouxas e tomar outro caminho. É urgente para Lula retomar alguma margem de manobra sobre o pouco que resta do Orçamento para fazer política e investimentos. E esse pouco, já em parte loteado pelo Congresso, vai ficando a cada ano menor graças ao crescimento dos gastos obrigatórios, com suas vinculações.

É nesse flanco que o projeto que vem sendo urdido na equipe econômica quer atuar. Para que ele tenha êxito, depende do convencimento prévio do próprio Lula, sempre hesitante diante da ideia de ser ele a cortar gastos em áreas como assistência social, saúde ou educação.

Fernando Haddad terá de fazer prevalecer sua ideia de que o arcabouço fiscal precisa se mostrar hígido para que o Brasil recupere o grau de investimento, os juros possam voltar a cair em 2025, e o mercado doméstico, que anda sobressaltado sem razões objetivas tão claras, sossegue.

Contará com a pressão contrária do PT, que começará a viver a ebulição interna pela troca de comando nacional, acirrada pelos maus resultados do partido nas urnas. Interessa ao grupo de Gleisi Hoffmann estressar ainda mais a relação com a área tachada de “fiscalista” do governo, para tirar do foco o desempenho pífio dos candidatos lançados ou apoiados pelo partido em todo o país, inclusive no Nordeste.

Outro ponto de atenção para a política virá da sucessão de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, também ela influenciada pelas eleições, com potencial de deflagrar ou engordar uma dança das cadeiras nos ministérios. Lira tem dito a aliados que blindará a disputa na Câmara das pautas bolsonaristas mais ruidosas, em reação à esperada ofensiva de Jair Bolsonaro depois do ganho de prefeituras do PL e da iminência de que os inquéritos contra ele e aliados sejam concluídos.

O governo tem de evitar que temas como a anistia aos golpistas avancem sem controle e se tornem compromissos dos postulantes a comandar o Legislativo, justamente em seus dois anos finais de mandato.

 

3 comentários:

  1. Os verdadeiros golpistas Estão no STF que atropelando a Constituição o processo legal Estão instaurando uma ditadura Do Judiciário , tirando o poder do legislativo e do Executivo Esse golpe a imprensa não menciona Está sendo muito bem remunerada pelo Lula

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