Folha de S. Paulo
Psolista não tem voto de 30% dos petistas;
difícil ter Congresso mais esquerdista em 2026
Guilherme
Boulos está em situação difícil. Mais do que do voto de
religiosos, o candidato de PSOL e PT a prefeito
de São Paulo depende
quase do sobrenatural para vencer. Precisa tirar mais de 840 mil votos de Ricardo Nunes (MDB), dados o
número de pessoas que votaram no primeiro turno e o primeiro
Datafolha sobre o segundo turno.
Talvez Boulos ganhe pontos com a campanha na
TV. Talvez Luiz Inácio Lula da
Silva consiga virar o voto dos petistas que preferem Nunes. Mas apenas 15% dos
eleitores dizem que ainda podem mudar o voto; se mudarem, 65% destes votam em
ninguém. Quem sabe o prefeito candidato a reeleição se dê uma cadeirada.
Se perder, Boulos não sairá menor desta eleição, mas vai ficar no porto a ver navios que partiram, assim como o duo PT-PSOL, que fez poucos prefeitos e vai governar cidades de pouca repercussão política e econômica. Por isso também, terá dificuldades de criar lideranças ou puxadores de voto parlamentar em 2026. Mais sobre problemas da esquerda mais adiante.
Nunes ora vence Boulos por 55% a 33%. Não
votariam "de jeito nenhum" em Boulos 58% dos eleitores (a rejeição de
Nunes é de 37%). Na ponta do lápis, o percentual de voto em Boulos é menor até
do que o daqueles eleitores de Nunes que votam no prefeito por "não haver
opção melhor" (68% dos nunistas).
Nunes tem 50% ou mais dos votos não importa
renda, escolaridade, idade, gênero ou cor. O prefeito vence o psolista por 58%
a 32% entre os católicos e por 62% a 25% entre evangélicos, diferença quase
nenhuma no voto por religião.
Votam em
Nunes cerca de 30% dos eleitores que têm o PT como partido preferido,
que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022 ou em
Fernando Haddad (PT) para governador em 2022. Tem ainda o voto de 85% dos que
optaram por Jair Bolsonaro (PL) em 2022; de 83% dos que votaram em Tarcísio de
Freitas (Republicanos) para governador. Leva 84% daqueles que votaram em Pablo Marçal.
A avaliação de Lula e Tarcísio na cidade de
São Paulo diferia pouco, em agosto. De "ótimo/bom", 35% para o
presidente e 32% para o
governador. A de Nunes é algo pior: 26% de "ótimo/bom". No
Brasil, a avaliação de Lula pouco difere da que tem em São Paulo.
A melhoria evidente da renda e do emprego não
fizeram coceira na avaliação de Lula, até agora. Foram irrelevantes, em termos
de variação de prestígio político, mais Bolsa Família, aumento real de salário
mínimo, desemprego em mínima histórica, salário médio no nível mais alto
ou PIB per
capita enfim voltando ao pico de 2013.
O antilulismo, o antipetismo ou o
antiesquerdismo são uma rocha com um tamanho de no mínimo 30% ou de até quase
50% dos votos, a julgar pelo segundo turno para presidente em 2022.
O duo PT-PSOL
teve pouco mais de 10% dos votos para prefeito neste 2024, em todo o
país (9% em 2020 e 19% no pico de 2012). O PT elegeu ou levou para o segundo
turno apenas 261 candidatos. Dos 248 eleitos, 70% são do Nordeste —o partido se
desnacionaliza.
Tendo em vista a política federal e poucos
favoritos na legenda, o PT apoiou outras candidaturas neste 2024. Não tem
histórico bom de cultivar e manter lideranças. Não é impossível inventar novos
nomes, se der um sacolejo grande, mas 2026 é depois de amanhã e o discurso da
esquerda, na forma ou conteúdo, vai mal nas urnas desde 2016 —já são
cinco eleições.
Essa sopa de siglas mais confunde que explica.
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