Folha de S. Paulo
Livro sustenta que dirigentes autoritários de
diferentes países colaboram uns com os outros como se fossem um aglomerado
empresarial
Não é que exista uma sala do mal, onde tiranos inspirados em vilões de filmes de James Bond se reúnem para conspirar contra o mundo livre, mas líderes autocratas estão se organizando e colaborando uns com os outros num modelo próximo do de aglomerados empresariais. Essa é a tese de "Autocracia S.A.", de Anne Applebaum.
O que une os autocratas contemporâneos não é
um projeto ideológico. Não haveria como juntar num plano coerente de ideias o
nacionalismo russo, o comunismo de mercado chinês, a teocracia iraniana e o
bolivarianismo venezuelano. Mas todos eles (e vários outros) têm interesses
pragmáticos comuns em encontrar meios de evitar sanções e reprimendas do
Ocidente, aprimorar sistemas de vigilância e repressão interna e enfraquecer
regimes que possam fazer-lhes oposição.
Segundo Applebaum, essa autocracia S.A. já é
uma realidade. E, em grande parte, por culpa do Ocidente, que errou ao menos
duas vezes. Em primeiro lugar, acreditou, ingenuamente, que bastaria expor
países como Rússia e China à economia de
mercado para que se tornassem democracias.
Em segundo, não criou um ambiente de negócios
e que impeça lavagem de dinheiro e a evasão de sanções, privando-se das armas
que teria para enfrentar tiranos e cleptocratas. Em tese seria possível
fazê-lo, mas não são poucos os atores ocidentais que ganham com a prática. A
autora, que fez extensa pesquisa, mostra vários desses esquemas, dando nomes
aos bois.
De modo análogo, ela faz críticas pesadas à
tibieza do Ocidente na regulação de fake news e
da inteligência
artificial. É por meio delas que países como a Rússia interferem em
eleições e estimulam o crescimento de grupos hostis à democracia.
Chama também a atenção a evolução do
pensamento de Applebaum. Ela era uma autora conservadora que mantinha vínculos
com políticos de direita. Continua conservadora, mas afastou-se de várias
figuras da direita, que deixaram de se importar com a deterioração de
democracias. Em alguns momentos, sua pauta em favor de maior regulação se
aproxima da de grupos de esquerda.
Muito bom!
ResponderExcluirhttps://youtu.be/j8zzL2aBo2M?si=n5NQGAP0XlEOnwvY
ResponderExcluirCapitaneado o maior projeto econômico da história, será que a prioridade da China seria fazer parte de uma confederação ou coalizão de regimes autocráticos?
Integram o BRI (Belt and Road Initiative) dezenas de países cujo sistema é democrático.
Liderado pela China, atualmente, a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) envolve mais de 150 países e cerca de 30 organizações internacionais. Desde o lançamento do projeto em 2013, estima-se que o investimento total em infraestrutura e desenvolvimento econômico alcance cerca de 1 trilhão de dólares, com previsões de longo prazo indicando que os projetos ligados à BRI podem chegar a movimentar até 8 trilhões de dólares em investimentos nas próximas décadas.