Valor Econômico
Primeiro boleto da reforma tributária já vai chegar no ano que vem
Os efeitos mais visíveis da reforma
tributária sobre a economia brasileira ainda vão demorar a aparecer, mas o
primeiro boleto já chegou. No ano que vem, a União terá de aportar cerca de R$
9 bilhões no Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais, criado para viabilizar
o fim da “guerra fiscal”. Será o primeiro pagamento para um conjunto de quatro
novos fundos, numa conta que ultrapassará a marca de R$ 1 trilhão nos próximos
20 anos. É muito? Pode não ser, se forem levados em consideração os ganhos
esperados na arrecadação a partir das mudanças.
Os R$ 9 bilhões deveriam estar previstos no Orçamento de 2025, que está em análise no Congresso. Mas não estão. Além disso, os projetos de lei que vão regular o funcionamento dos fundos ainda nem foram enviados ao Legislativo.
Será preciso cortar despesas para viabilizar
esse pagamento, caso o gasto seja considerado primário. Mas, segundo se comenta
nos bastidores, existe a possibilidade de ser financeiro.
O elevado custo fiscal dos fundos é um
aspecto da reforma tributária que tem recebido pouca atenção, na visão do
ex-secretário da Receita Federal José Tostes Neto. Ele cita estudo elaborado
por Cristiane Schmidt, ex-secretária de Fazenda de Goiás que atuou como
consultora do Banco Mundial, segundo o qual o custo estimado é de R$ 1,057
trilhão até 2046.
“Não há espaço fiscal para a União assumir
esse compromisso tão alto, tão significativo, nesse curto espaço de tempo”,
avalia Tostes. Em tese, o custo vai se estender pela eternidade. “E a mudança
de governo às vezes muda as políticas, as prioridades, a forma de ver as
coisas”, pontua.
A criação dos quatro fundos foi uma
contrapartida cobrada pelo Congresso para aprovar a reforma. São eles: o de
compensação de benefícios fiscais, o de desenvolvimento regional, o de
diversificação econômica da Amazônia e o de desenvolvimento da Amazônia
Ocidental e Amapá.
Esses se somarão aos fundos constitucionais
de Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que já existem hoje e que custarão R$ 64
bilhões este ano. Tostes, que foi secretário de Fazenda do Pará, questiona se,
em vez de criar novos fundos, não seria melhor fazer funcionar os que já
existem.
Autora do cálculo que apontou para o custo
trilionário da reforma tributária, Schmidt lembra que originalmente os fundos
estavam dirigidos para infraestrutura e tecnologia, como é feito na União
Europeia. No entanto, o texto foi modificado de forma que os governadores terão
plena liberdade para alocar o dinheiro.
O impacto fiscal dos fundos é o principal
ponto de crítica da especialista, porque os valores são elevados e não está
claro de onde virão os recursos. É um problema, principalmente levando em conta
o cenário difícil para as contas do governo federal.
Ainda assim, ela considera que a reforma
tributária é positiva. A criação dos fundos, na sua visão, foi uma medida
correta dentro do processo de negociação no Congresso. Porém, é preciso
encontrar fontes de financiamento. Por exemplo, os fundos constitucionais
existentes.
A conta dos fundos assusta, mas é preciso
compará-la com os benefícios decorrentes da reforma, diz Bráulio Borges,
pesquisador do FGV Ibre e economista sênior da LCA Consultores. Ele estimou o
custo dos fundos, com pressupostos diferentes dos utilizados por Schmidt, e
chegou a um total de R$ 1,49 trilhão no período de 2025 a 2050.
Do outro lado da moeda, Borges calculou
quanto a União arrecadará a mais no período. Para tanto, considerou a média
apontada em dez diferentes estudos sobre o aumento do Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro como consequência da reforma: 10,7%.
Considerando que a receita líquida da União
permanecerá em 18,5% do PIB, o ganho de arrecadação no período chegaria a R$
6,1 trilhões.
A conclusão é que, apesar do custo elevado
dos fundos, a reforma tributária será vantajosa para o país. “O custo-benefício
é claramente positivo”, afirma. Os ganhos são 4,1 vezes maiores do que o custo
dos fundos.
Dado que a reforma entrará em operação aos
poucos, no começo do processo a União terá mais gastos do que ganhos. No
período de 2025 a 2030, a diferença será de R$ 48,1 bilhões, uma média de R$
9,6 bilhões por ano. A partir de 2030, a relação se inverte, com a balança
pendendo para o lado da União em R$ 9,1 bilhões. Em 2050, as receitas estarão
R$ 506,7 bilhões maiores, para gastos de R$ 84,8 bilhões.
Borges vê outras vantagens na reforma. Por
exemplo: o uso dos recursos dos fundos terá de estar nos orçamentos dos Estados
e municípios. É uma forma mais transparente do que a atual, baseada na
concessão de benefícios tributários.
Além disso, o Fundo de Desenvolvimento
Regional beneficiará todas as unidades da Federação, e não apenas o Norte, o
Nordeste e o Centro-Oeste, como hoje. Há áreas no Sul e no Sudeste que precisam
de apoio para seu desenvolvimento, aponta.
Os fundos da reforma tributária custarão caro
ao contribuinte brasileiro. Sua regulamentação será uma boa oportunidade para
estabelecer regras que garantam boa alocação dos recursos e transparência na
aplicação.
Tomara que dê tudo certo.
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