O Globo
Sabe-se lá o que vem por aí no pacote de
corte de gastos armado em Brasília. A notícia de que Lula e
o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, reuniram-se com seus colegas da Saúde, Educação e Trabalho
assusta. A lâmina parece apontada na direção errada.
Começando pelo Ministério do Trabalho, sabe-se que, nas últimas semanas, a ekipekonômika andou soprando por Brasília uma tunga engenhosa. Quem fosse demitido sem justa causa perderia uma porção da multa de 40% sobre o FGTS a que tem direito, paga pelo patrão. O engenho da tunga estava em descontar esse dinheiro avançando sobre aquilo que receberia pelo salário-desemprego, outro direito. Exposta, a tunga foi desmentida pelo Planalto e condenada pelo ministro do Trabalho, que ameaçou ir embora.
Olhando para a Saúde, percebe-se que o
governo, assustado, quer cortar gastos. Contudo, em condições normais de
temperatura e pressão, tentou gastar mal. Em junho, o Ministério da Saúde
soltou um edital para a compra de 60 milhões de kits com dentifrício, fio
dental e escova de dentes (enfeitadas com o logotipo do governo federal). Coisa
de até R$ 3 bilhões. Feito o pregão, uma empresa contestou-o, e a compra foi
detonada na Justiça e no Tribunal de Contas. Precisava começar esse programa de
saúde bucal com 60 milhões de kits?
Num primeiro sopro da tunga, revelou-se que,
junto, viria um combate aos supersalários. Boa ideia. Vinda de um governo que
pretende cortar gastos, seria exemplar. É verdade que seria uma economia de
clipes, mas pelo menos sete ministros (e mais alguns assessores afortunados)
têm assento em conselhos de estatais para fazer pouco, ou nada, por falta de
qualificação.
Em 2022, cada ministro do governo anterior
com assento no conselho da hidrelétrica de Itaipu faturou cerca de R$ 500 mil
entre jetons, participação nos resultados, abono, mais plano de saúde (da
Eletronorte) e seguro de vida. A carga de trabalho incluía reuniões mensais
presenciais e outras, poucas, por videoconferências.
A Viúva banca viagens ao exterior de
ministros do Supremo Tribunal Federal, em alguns casos acompanhados por
assessores e seguranças. O Executivo não pode cortar no orçamento do tribunal,
mas os doutores poderiam oferecer bons exemplos. Faz pouco tempo, um jatinho da
FAB levou um ministro mais cinco pessoas à cidade argentina de Mendoza, para um
encontro de magistrados do Paraná, que fica no Brasil. O avião esperou pelo
doutor por dois dias para trazê-lo de volta.
Cada mordomia do andar de cima ampara-se em
normas e portarias. Tudo bem, mas não se deve reclamar quando ameaça cair sobre
a cidade de São Paulo um asteroide chamado Pablo Marçal.
Por questão de Justiça, deve-se lembrar que o
Brasil já elegeu um presidente que tinha a vassoura como símbolo. Como lembrava
um conhecedor dos costumes do andar de cima, Jânio Quadros, debilitado por
problemas neurológicos, foi levado pelas ruas de Genebra para tentar localizar
o banco onde guardava sua conta suíça.
Jesus!
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