O Globo
Engana-se quem espera que reforma ministerial
vá trazer uma mudança radical de rumosou a troca de ministros que não
apresentaram resultados
Uma reforma ministerial na virada de 2025
começa a ser desenhada nas conversas de Lula com os principais auxiliares, mas
se engana quem espera uma mudança radical de rumos ou a troca indiscriminada de
ministros que não apresentaram resultados robustos.
O entorno do presidente reconhece a necessidade de promover uma “virada” no governo, acolhendo demandas que emergiram com força das urnas e amarrando partidos fortalecidos no pleito municipal, mas Lula não fará isso rifando aliados mais leais que têm ligação histórica com ele.
Por mais que falte entrega ao Ministério do
Trabalho e o empreendedorismo tenha sido um dos temas mais presentes nas
disputas nos municípios, ninguém acredita que Luiz Marinho esteja com a vaga no
primeiro escalão ameaçada, mesmo que fosse um posto considerado estratégico
para acolher Guilherme Boulos e dar a ele um cargo no Executivo, algo muito
cobrado na campanha.
A saída de Marinho não significaria desalojar
apenas um companheiro dos tempos do sindicalismo do ABC, mas vários. A vaga do
ministro na Câmara hoje é ocupada por Vicentinho da Silva, do mesmo grupo. E,
no Trabalho, também atuam nomes como Carlos Alberto Grana, Gilberto Carvalho e
Chico Macena.
Também é enganosa a versão segundo a qual
Lula se esquivaria de contemplar Gleisi Hoffmann com um ministério. Se a
presidente do PT quiser, e ela sempre demonstrou querer, integrar o governo,
Lula a nomeará. O desenho mais provável, hoje, é dar a ela um dos assentos no
Planalto e a missão de articular os movimentos sociais.
Embora o principal flanco eleitoral de Lula
não seja a esquerda, a avaliação feita depois do segundo turno é que esses
grupos estão desmobilizados e desmotivados. Precisam se aproximar do governo
para dar capilaridade à campanha presidencial daqui a dois anos e enfrentar a
direita nas ruas e nas redes sociais.
A reforma também deverá redimensionar a
participação dos partidos do Centrão que saíram turbinados das urnas. Algumas
siglas deverão ganhar mais espaço, outras podem manter a mesma quantidade de
cadeiras, mas passar a ocupar pastas mais vistosas.
Na avaliação pós-eleitoral, o governo chegou
à conclusão de que, além das emendas, que equivalem a pouco mais de R$ 60
bilhões, contribuiu fortemente para o alto percentual de reeleição ou
continuidade dos mesmos grupos políticos nas prefeituras o volume de recursos
em repasses diretos do Executivo, calculado em cerca de R$ 67 bilhões. Lula
teria de se apropriar desse ativo, ressaltando a visão municipalista de seu
mandato e aproximando, assim, os prefeitos do Planalto.
A mudança de nomes e a dança das cadeiras no
ministério serão casadas com a negociação para a divisão de espaços na sucessão
das Mesas do Legislativo. PSD e União Brasil podem ser compensados por terem
sido preteridos para comandar a Câmara.
Mas Lula não pretende fazer isso sem
condicionar a “virada” no governo ao apoio a sua reeleição. Quem conversa com o
presidente não tem dúvida de que ele será candidato, e a convicção é que, se a
economia estiver bem, nomes hoje colocados como potenciais adversários não se
animarão a enfrentar uma disputa incerta. Seria esse o caso de Tarcísio de
Freitas.
Lula e seus ministros avaliam que o
governador de São Paulo será pressionado por agentes políticos e econômicos,
mas só trocará uma reeleição segura por um voo nacional caso Lula esteja com a
popularidade muito abaixo da atual e a economia esteja em queda.
A ideia é fidelizar quanto antes os grandes
partidos que estiveram no palanque de Ricardo Nunes em São Paulo. PSD ou MDB
não escondem que querem ter o candidato a vice-presidente para fechar com o PT.
Não será tão simples, no entanto, desalojar Geraldo Alckmin, que desencorajou
em conversas recentes sondagens a respeito de concorrer ao Senado ou ao governo
paulista.
Pois é.
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