domingo, 24 de novembro de 2024

O cruzado que Trump escolheu para a Defesa – Dorrit Harazim

O Globo

É uma temeridade deixar Pete Hegseth, um extremista, comandar um orçamento militar anual de quase US$ 900 bilhões

Aos 44 anos, o veterano Pete Hegseth mantém o corpanzil sarado dos tempos em que foi soldado de elite do Exército americano. Prestou serviços no Iraque, no Afeganistão e na abominável prisão militar de Guantánamo antes de se tornar personalidade cultuada da Fox News. Ali ancorava um dos programas de maior audiência e estridência do canal, até ser pinçado por Donald Trump para ocupar o cargo de futuro secretário da Defesa.

Em condições mínimas de razoabilidade, a indicação de Hegseth teria poucas chances até de chegar ao Senado, ainda menos de ser aprovada na sabatina — os legisladores democratas, somados a alguns republicanos pensantes, pareciam decididos a impedir tamanha insânia. Antes, porém, era preciso abortar outra indicação de Trump: a do agora ex-deputado federal Matt Gaetz como procurador-geral. A pressão contra Gaetz funcionou. Detestado por seus pares e retratado como predador sexual contumaz em relatório da Comissão de Ética da Câmara, ele desistiu do cargo antes de precisar ser sabatinado.

À primeira vista, uma derrota indigesta para o triunfal vencedor da eleição de 5 de novembro. Mas só à primeira vista. É possível que Trump tenha usado Gaetz como isca calculada. Os republicanos dificilmente correrão o risco de implodir também, de forma tão frontal e acelerada, mais um candidato do firmamento Make America Great Again (Maga). Trump não perdoaria a infiel reincidência, e da ira vingativa do futuro presidente muitos no Senado já provaram.

Para explicar quem é e o que significaria Hegseth chegar ao comando do Departamento de Defesa, vale começar pelas tatuagens que traz no corpo. Cobrindo boa parte do tórax direito, está a Cruz de Jerusalém (também conhecida como Cruz das Cruzadas). Apesar de datar da Idade Média, ela voltou a ser cultuada por extremistas de direita e protofascistas. Na cerimônia de posse do democrata Joe Biden em 2021, Hegseth chegou a ser excluído da equipe que fazia proteção presidencial por causa dessa tatuagem. Explica-se: duas semanas antes, no fatídico 6 de Janeiro, supremacistas e trumpistas inconformados haviam tentado impedir pela força a diplomação de Biden no Capitólio.

— Este momento de nossa história clama por uma Cruzada Americana — escreve Hegseth num de seus livros mais perturbadores.

Tem mais. Na parte interna do braço esquerdo, a tatuagem de uma sinuosa serpente evoca a libertação americana da Inglaterra; no antebraço, uma frase em latim: Deus Vult (Deus o quer), apropriada das Cruzadas por neonazistas como grito de guerra contra a disseminação do islamismo. Uma bandeira dos Estados Unidos, uma imensa cruz com espada e dizeres em hebraico, um “We the People”, do preambulo da Constituição americana, em letras gigantes, também fazem parte do ideário gravado no corpo de Hegseth. Seus disparates verbais também assustam:

— Germes não existem. Não consigo vê-los, portanto não são reais — sustentou do sofá curvilíneo que ocupou por uma década no programa Fox & Friends.

Certa vez Hegseth rasgou seu diploma de Harvard ao vivo e leu um trecho do livro “American Crusade” em que desanca as universidades de elite que “envenenam a mente de nossos filhos”. Na vida real, porém, adora mencionar, en passant, que tem graduação em Princeton e pela John F. Kennedy School of Government (Harvard).

É sua obra mais recente, “War on Warriors” (guerra contra guerreiros), que aponta melhor para a temeridade de deixar Hegseth comandar um orçamento militar anual de quase US$ 900 bilhões, um arsenal nuclear e convencional sem paralelo na História, um pessoal ativo de 1,36 milhão de fardados, 811 mil reservistas, um poderio global com 800 bases militares espalhadas pelo planeta, e muito mais.

— Enquanto patriotas da geração do 11 de Setembro lutaram contra inimigos lá fora, permitimos que os inimigos em casa dominassem nosso território cultural, espiritual e político. Nossa retaguarda ficou exposta, e o inimigo avançou — avisa ele.

Lutar contra “extremistas domésticos” como o ex-presidente Barack Obama, os democratas e liberais seria a segunda etapa de uma guerra pela liberdade. O livro é de 2020, mas há poucas chances de os fantasmas de Hegseth terem sumido. Com visão apocalíptica da sociedade, vê no outro uma ameaça existencial. Por isso exorta outros cruzados a “desprezar, humilhar, intimidar e esmagar” o inimigo interno.

— O tempo está acabando para o país — anuncia. — Será uma guerra sagrada de 360 graus pela causa da liberdade (...) até a aniquilação total da esquerda. Nos veremos na zona de combate! Juntos, com a ajuda de Deus, salvaremos a América. Deus vult!

Socorro.

8 comentários:

  1. Temerário é eleger um ex condenado há mais de 20 anos por corrupção e lavagem de dinheiro que comandou uma quadrilha que desviou mais de 1 trilhão de reais dos cofres públicos do suado imposto brasileiro
    Isso ninguém fala nada , parece Alice no país das maravilhas
    Os jornalistas estão que nem criança no parquinho todas felizes é golpe é golpe é golpe

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  2. Será porque? $$$$$$

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  3. Se preparem!
    nada será como antes Vocês nem imaginam o que virá por aí

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  4. “ faremos uma guerra sagrada pela causa da liberdade….
    Lutaremos pela aniquilação da esquerda no mundo “
    O cara não está pra brincadeira,
    Eu gostei do fetiche do jornalista em relação às tatuagens do futuro secretário de Estado da defesa , sei lá…
    Mas se ele é cruzado moderno, é muito bem-vindo

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  5. Jornalista está com medinho do Pete Hegseth
    Ele é muito Fortão e cheio de tatuagens cristãs
    ai meu Deus!!
    Kkkkkk

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  6. No meu entender a grande guerra que estávamos travando foi vencida com a ajuda de Deus e a favor da democracia , quando Com ajuda divina o Trump, que sobreviveu milagrosamente ao atentado , se elegeu e venceu a transloucada Woke Kamala Harris
    Ali o destino do mundo foi delineado , graças a Deus!!!
    Vencemos!!!🙏🏼🙏🏼

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  7. O que o anônimo bolsonarista acima escreve é um breve retrato da mente doentia desse "povo" e do que nos aguarda. Sobra motivos para temer o futuro...

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