Financial Times / Valor Econômico
Sondagens eleitorais não estariam apontando com precisão o sentimento do cidadão dos EUA de que sua vida melhorou
Ainda faltam quatro dias, mas nem a melhor
das coberturas da eleição presidencial dos EUA consegue nos dar qualquer ideia
do rumo que ela vai tomar. Se você acreditar nas pesquisas, a corrida está
cabeça a cabeça. Se você acreditar nos chamados modelos de previsão, Donald
Trump tem ligeira vantagem sobre Kamala Harris.
Eu não acredito nem nas pesquisas nem nos modelos. Decidi começar a tratar as pesquisas como desinformativas após as eleições americanas de meio de mandato de 2022, nas quais muitas pessoas, cuja opinião sobre política dos EUA eu respeito mais do que a minha, previram a partir delas uma onda republicana.
Isso não ocorreu, e não vi nenhuma explicação
convincente para voltar a confiar nas pesquisas dos EUA. Os erros das pesquisas
em 2022 se somaram aos de 2016 e 2020. É claro, os institutos de pesquisa têm
quebrado a cabeça sobre como se aproximar mais do resultado real desta vez.
Nada disso, contudo, me faz pensar que seja sensato acreditar que as pesquisas
trazem mais informação além do simples fato de que não sabemos muito sobre o
resultado.
Uma “previsão” de quase 50-50 não diz nada -
ou não diz nada além de: “não sabemos nada” sobre quem vencerá, em uma
linguagem que finge dizer o contrário.
Portanto, no caso das eleições de 2024,
procure aquelas dispostas a dar razões sobre por que fazem uma previsão
falseável, mas definitiva, de que Trump vencerá ou de que Kamala vencerá (ou de
que nenhum dos dois vencerá, algo concebível, embora implausível).
Prevejo que Kamala vencerá, e por uma margem
sólida. Por quê? Em grande parte, porque acredito que o fator determinante da
eleição “ainda é a economia, estúpido” - e por achar que os eleitores dão mais
valor à força da economia dos EUA do que é captado pelas pesquisas eleitorais.
(Além disso, acredito que a questão do aborto, que ajudou os democratas a
superar as previsões há dois anos, na verdade, hoje está mais forte.)
A charada sobre o descompasso entre os fortes
resultados econômicos (crescimento real de salários, um mercado de trabalho
sólido, um boom industrial) e a falta de apoio ao governo atual nas pesquisas
eleitorais pode ser resolvida de duas maneiras: questionando os dados
econômicos ou os resultados das pesquisas eleitorais.
Considero mais plausível questionar as
pesquisas eleitorais. Isso não se deve apenas aos erros recentes das pesquisas.
Também se deve aos muitos eleitores que parecem estar, de fato, satisfeitos com
a economia. O índice de confiança do consumidor de Michigan, ajustado
corretamente para mudanças metodológicas, mostra clara tendência de alta desde
o pico da inflação no verão americano de 2022, e alcançou níveis similares aos
de quatro anos atrás. O indicador de confiança do consumidor do Conference
Board também teve uma recuperação bastante forte.
Nesta questão, os leitores mais alertas
poderiam, acertadamente, perguntar por que acredito nessas pesquisas e não nas
eleitorais. E eu não teria uma resposta convincente - além de apontar que, ao
contrário de pesquisas eleitorais passadas, as de confiança têm retratado em
grande medida aquela que era a realidade econômica do momento, mostrando
pontuações altas quando o emprego estava bem, a inflação, baixa e os salários
reais, em alta.
Também citaria o maravilhoso relato do meu
colega Robert Armstrong sobre sua visita a um shopping center, onde ele
observou que, não importa o que possam dizer, os americanos estão consumindo
como se os tempos fossem bons (foi o consumo deles que sustentou mais um
trimestre de forte crescimento nos dados divulgados na quarta-feira). E, acima
de tudo, os fatos falam por si, inclusive aqueles que sempre foram os mais
pertinentes no comportamento dos eleitores dos EUA. Este é o preço médio
nacional de um galão (3,785 litros) da gasolina em termos nominais: há um ano,
ele custava US$ 3,478; há um mês, era US$ 3,216; hoje é de US$ 3,131.
Em um ano, um trabalhador precisava cumprir
perto de entre 7 e 8 minutos de trabalho para comprar um galão do combustível.
Hoje, precisa de pouco mais de 6.
Em outras palavras, não pode haver muita
dúvida de que grande parte dos americanos está em situação melhor do que há
quatro anos. Sou da crença de que isso, no fim das contas, influenciará o voto.
Um colega me perguntou se isso não seria uma
expressão de meu desejo. E, sem dúvida, é. Mas é uma expressão de desejo ligada
a alguns compromissos intelectuais.
Tem uma galera aqui que não vai gostar da coluna.
ResponderExcluir😁
Vim do futuro pra dizer que adorei a coluna, envelheceu tão rápido....
ExcluirÔ se tem...
ResponderExcluirEu gostei,rs.
ResponderExcluirGalera de um (semianalfabeto) é galera mesmo??
ResponderExcluirTambém acredito, e torço! Torço muito, mais até do que acredito.
ResponderExcluirSó você observar seu texto e perceberá quem é o (semi)analfabeto aqui.
ResponderExcluirA propósito, um dos significados de galera :
" Torcedores das arquibancadas e das gerais; torcida: A galera do meu time fica deste lado. "
( Michaelis)
Entendeu ? Torcedor.
Explico meu comentário. Questionei se galera de um é mesmo galera. Como definiste, galera é um conjunto de pessoas. Galera de um talvez não seja galera. Por que "um"? Por que só um comentarista neste blog tem repetidamente, e mentirosamente, apoiado entusiasticamente a eleição de Trump. Tal comentarista é o semianalfabeto que digita descuidadamente seus comentários, o que indiquei entre parênteses. Tentei ser sintético, mas não fui claro. Mas continuo torcendo cada vez mais, sim!
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