O Estado de S. Paulo
Militares golpistas queriam acabar com o Alto-Comando do Exército por sua oposição à ruptura
A história do golpe bolsonarista ganhou uma
nova face: a das mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel
Reginaldo Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete. Elas mostram detalhes
cruciais para entender a empreitada, como a resistência do Alto-Comando do
Exército.
Vieira escreveu a Fernandes, em 19 de dezembro de 2022: “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente”. Ambos reclamavam do Alto-Comando do Exército (ACE). Queriam mudar a forma como as decisões são tomadas no colegiado, estabelecer uma chefia de Estado-Maior Conjunto, como nos EUA, e acabar com o ACE. “A lição que a gente deu para a esquerda é que o Alto-Comando tem que acabar. Se cria um general de cinco estrelas (...), mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade.”
Fernandes diz ao subordinado: “Tem o
dissidente, tem os filha da p... lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que
é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (...) Cara, o
presidente tem que decidir e assinar esta m...” Em diálogos anteriores, o
coronel havia revelado ao general seu estado de ânimo diante da indefinição
sobre o golpe: “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o car...
Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão
vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência
nossa”.
Em 4 de novembro, Fernandes escreveu ao
colega de governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Revelou a ligação entre o
Plano Punhal Verde e Amarelo, os acampamentos em frente aos quartéis e os
ataques de 8 de janeiro. É que o golpe exigiria clamor popular, como em 1964,
para que o Exército o apoiasse.
“O senhor tem que dar uma forçada de barra
com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes (então comandante do
Exército), com o general Paulo Sérgio, porra (...) Tá na cara que houve fraude,
porra (...). E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra
que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez, seja isso que o Alto Comando,
que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em
64. Porque como o senhor disse mesmo, boa
parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou
não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela
sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à
Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha
turma (de 1986, da Academia das Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto.” É
preciso acrescentar alguma coisa mais?
Bolsonaro levou a política pra dentro das Forças Armadas, estimulou ao máximo a politização dos militares, esperando contar com o apoio deles pro golpe militar que planejou desde o início do seu mandato. Agora, seus filhos dizem que esta tentativa de assassinatos nem deveria ser investigada!!! A normalização da violência política pelo bolsonarismo é chocante, nojenta! O nível a que chegam os bolsonaristas é sempre surpreendente! Quando se acha que já mostraram o pior (apoio a torturas, roubo de joias, tentativa de golpe militar, etc.), os canalhas conseguem NORMALIZAR planejamento de assassinato de adversários políticos por agentes do Estado!!!
ResponderExcluirÉ tudo muito grave!
ResponderExcluirA Constituição nunca foi respeitada por Bolsonaro.
ResponderExcluirSó piora
ResponderExcluirEsses marginais devem cumprir penas por seus crimes. Não há outra alternativa.
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