O Globo
O general Walter Braga Netto fez uma correta
carreira militar. Chegou a general de quatro estrelas e começou a perder-se em
2018, quando foi jogado na função de interventor na segurança pública do Rio de
Janeiro.
Logo nos primeiros dias, outro general foi
inspecionar um quartel de batalhão da PM, e a guarda que o recebeu não lhe deu
continência. Ninguém desconfiou de que o gesto teatral da intervenção acabaria
em fracasso. No Planalto, dizia-se que havia sido “um golpe de mestre”. Certo,
golpe de mestre-sala de escola de samba.
Viviam-se dias estranhos de renascimento da
vivandagem nos quartéis, e o ex-capitão Jair
Bolsonaro elegeu-se presidente da República. Encheu a
administração de generais, coronéis e oficiais amigos. E lá foi Braga Netto.
Tornou-se chefe da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa da
eventual reeleição de Bolsonaro.
Nessa nova encarnação, pouco tinha do oficial que ralou nos quartéis. Mandava recados de que, se o voto não fosse impresso, não haveria eleição. Houve, e ele perdeu. Deu-se a armações impróprias com o chefe da ajudância de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. Meteu-se em redes sociais ativando ódios e fofocas. Finalmente, segundo Cid, entregou dinheiro “do pessoal do agro” para algo que a Polícia Federal sustenta ter sido uma tentativa de golpe a ser desfechado em dezembro de 2022.
Desde os primeiros meses de seu governo, o
ex-capitão Bolsonaro sonhou com um apocalipse que acordaria os cavaleiros do
golpismo. Fez isso publicamente.
Do dinheiro arrecadado por Braga Netto,
conhece-se apenas o destino de uma parcela. No dia 7 de dezembro de 2022, o
major Rafael de Oliveira comprou um iPhone 12 por R$ 2.500 e colocou-o em nome
da mulher. Podia ter comprado um aparelho mais barato porque, em tese, serviria
apenas para campanar o ministro Alexandre de
Moraes.
Bolsonaro nunca passou de capitão. Governou
descumprindo regras elementares do meio militar. Deu alguns meses de fama a seu
ajudante de ordens. Erro. Foram três os governos desastrosos que deram
holofotes a alguns desses oficiais: João Goulart,
Costa e Silva e João Figueiredo. O atual comandante do Exército, Tomás Paiva,
foi ajudante de ordens de Fernando
Henrique Cardoso, e ninguém notou.
Cada força do Exército tem seu patrono. Os
palacianos teriam o seu. É o general Argemiro de Assis Brasil, que montou o
dispositivo militar de Goulart. Acabou deixando o presidente deposto numa
quebrada do Pampa gaúcho, para se apresentar ao novo governo.
A turma do golpe de 2022/23 certamente achava
que poderia reeditar a façanha do general Jayme Portella, chefe da Casa Militar
de Costa e Silva. Em 1968, ele costurou um lado da crise do Ato Institucional
nº 5. Um ano depois, fabricou uma junta militar e tornou-se virtual dono da
República por algumas semanas. Eleito o general Emílio Médici, foi para o
Ministério do Exército seu colega Orlando Geisel. Portella viu-se defenestrado
para a Região Militar de Fortaleza, comando de muita mesa e pouca tropa. Acabou
a carreira sem ganhar a quarta estrela.
Braga Netto conseguiu ser candidato a
vice-presidente numa chapa derrotada. Como general palaciano, achou que
mandava. Está preso numa unidade da tropa que comandou ao tempo em que era um
oficial que não se metia em política nem em palácio.
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