Público (Portugal)
Economia brasileira cresce 0,9% no terceiro
trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores. Produto
Interno Bruto foi puxado por investimentos e está no maior nível da história.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil terá,
neste ano, o melhor resultado dos últimos 10 anos, com exceção de 2021, quando
houve a recuperação da pandemia do novo coronavírus. Dados divulgados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a soma de
todas as riquezas produzidas pelo país registrou avanço de 0,9% no terceiro
trimestre ante os três meses imediatamente anteriores. Na comparação anual, o
salto foi de 4%. Esse forte crescimento está conjugado com o menor índice de desemprego
da história (6,2%).
Chama a atenção a qualidade da expansão do PIB: está sendo puxado por investimentos, ou seja, a formação bruta de capital fixo. Significa dizer que os empresários decidiram ampliar as fábricas porque têm a certeza de que, mais à frente, terão para quem vender seus produtos. Capacidade maior de oferta resulta em menor pressão inflacionária no futuro. Pelos cálculos do IBGE, os investimentos aumentaram 2,1% entre julho e setembro frente ao trimestre anterior e 10% sobre os mesmos três meses do ano passado.
O crescimento do Brasil está sendo puxado
pelo mercado interno e não está dependente do agronegócio, como vinha se
falando. Muito pelo contrário. No terceiro trimestre, a agricultura e a
pecuária recuaram 0,9% sobre os três meses anteriores. Já o setor de serviços,
que é o maior empregador no país, avançou, na mesma base de comparação, 0,9% e
a indústria, 0,6%. Com mais dinheiro no bolso dos trabalhadores, o consumo das
famílias teve impulso de 1,5%. As exportações recuaram 0,6% e as importações
cresceram 1%.
Todos esses números me levam a perguntar:
cadê a crise do Brasil, tão propalada por analistas do mercado financeiro? Eles
que, no início do ano, diziam que o PIB brasileiro cresceria 1,75%. Os erros de
projeções desses especialistas têm sido tão gritantes, que, agora, estão
correndo para refazer as contas e apostar em uma alta de até 4% do PIB no
encerramento de 2024. Pelos levantamentos do IBGE, o PIB está no nível mais
elevado da história. Mais: entre os países que integram a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil teve o sexto maior
crescimento trimestral, ao lado de China e Israel. De novo, pergunto: cadê a
crise?
Com todos esses números, é difícil
compreender porque tanto pessimismo entre os agentes financeiros em relação ao
Brasil, a ponto de empurrarem o dólar para acima de R$ 6. Não há dúvidas de que
há problemas no país, sobretudo no que se refere às contas públicas. Mas,
convenhamos, o Brasil está muito longe do precipício alardeado pelos
pessimistas. Quando assumiu o governo, em janeiro de 2023, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva herdou um deficit fiscal de mais de R$ 200 bilhões (31,8
bilhões ou mil milhões de euros). O país deve encerrar o ano com um rombo
próximo de R$ 30 bilhões (4,8 bilhões ou mil milhões de euros).
Os pessimistas alegam que essa redução no
rombo das contas públicas se deu basicamente por causa do aumento de receitas,
pois não houve um corte efetivo de gastos. O que há é uma promessa de redução
de despesas de até R$ 70 bilhões (11,1 bilhões ou mil milhões de euros), pacote
que, em parte, depende de apoio do Congresso, que vem gastando como nunca por
meio de emendas parlamentares.
Os mesmos pessimistas vão chamar a atenção
para o aumento da dívida pública, mas se esquecem de dizer que parte do salto
se deveu ao volume de precatórios (débitos reconhecidos pela Justiça) que não
foram pagos durante o governo de Jair Bolsonaro. Esses analistas, inclusive,
veem a inflação, que está em torno de 4%, em disparada e forçam o Banco Central
a aumentar os juros, que estão em 11,25% e podem passar de 13% ao ano se a
instituição sancionar as apostas do mercado.
Resta saber se a população brasileira, que
anda raciocinando muito mais pelo que se diz nas redes sociais e nos grupos de
mensagens, perceberá o quanto o Brasil avançou nos últimos dois anos, com o
menor índice de desemprego da série histórica, o maior número de trabalhadores
com carteira assinada que já se viu no país, a renda mais elevada do trabalho e
o crescimento econômico fortalecido.
Ao longo dos tempos, se convencionou dizer
que a parte mais sensível do ser humano era o bolso. Nesses tempos de fake
news, essa máxima parece não se confirmar mais. De qualquer forma, pergunto
novamente: cadê a crise do Brasil?
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