Folha de S. Paulo
Câmaras corporais de PMs deveriam ser do tipo
que faz gravação ininterrupta, mas STF avança o sinal ao criar obrigação não
prevista em lei
Não é preciso mais do que dois neurônios
operacionais para perceber que as câmeras corporais da polícia devem
ser do tipo que faz a gravação contínua.
Aparelhos que só filmam após acionamento pelo
agente da lei talvez funcionem bem em países com boas polícias, mas este não é
o nosso caso. Por aqui, precisamos é de mecanismos que evitem que maus PMs se valham de estratagemas, como deixar acabar a
bateria, para impedir gravações que poderiam complicá-los.
A política de segurança pública de Tarcísio de Freitas é nada menos do que desastrosa. Sob comando do coronel Guilherme "a Rota é Muito Mole" Derrite, a secretaria da Segurança Pública parece ter emitido uma licença para matar, que parte dos PMs utiliza com alegria.
As chamadas mortes em confrontos explodiram,
e as autoridades perderam o controle sobre a tropa. No que diz respeito às
câmeras, o governo estadual pegou um programa (da gestão anterior) que
funcionava bem e parece empenhado em destruí-lo.
Isto dito, confesso que fiquei chocado com a
liminar do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que não
apenas obriga a PM paulista a utilizar câmeras "em operações" como
também define o modelo a ser usado.
Não discordo do conteúdo da medida, que, como
disse, reflete o que deveria ser óbvio, mas da base jurídica para fazê-lo, que
me parece precária. Nem a Carta nem nenhuma lei federal estabelecem a obrigatoriedade de câmeras. Um governador que nunca as tenha
adquirido está totalmente dentro da lei.
Para tentar justificar sua decisão, Barroso
recorreu aos princípios da dignidade da pessoa humana e da moralidade da
administração pública, que são os coringas da Justiça. Com base apenas nessas
ideias, qualquer magistrado reescreve qualquer norma do país. Não tem como dar
certo.
O episódio revela a necessidade de três
medidas urgentes: a exoneração de Derrite a bem da segurança pública; a aprovação de lei
federal que crie a obrigação de câmeras corporais por PMs; e segurar a onda do
STF, que não pode converter-se no bedel universal que resolverá todos os
problemas do país.
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