O Estado de S. Paulo
Sem correção de rumos nas contas do governo em 2025, o que aconteceu em 2015 será fichinha
O mercado brasileiro encerra 2024 sob um
estresse agudo, com o governo Lula no meio de uma grave crise de credibilidade
fiscal, mas o pior é que ninguém afasta o risco de 2025 ser ainda mais
turbulento, numa repetição de 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma
Rousseff.
Naquela ocasião, o ambiente econômico se deteriorou de tal forma e velocidade que acabou contribuindo para o processo político de impeachment da ex-presidente no ano seguinte. Só para lembrar: a inflação subiu 10,67% em 2015, mas a projeção do mercado no início daquele ano era de uma alta de 6,56%. Já o PIB registrou queda de 3,8%, enquanto o consenso das projeções, no início do ano, apontava um crescimento de 0,5%. E o dólar, que fechou 2014 cotado a R$ 2,6550, encerrou 2015 a R$ 3,9601, alta de 48,9%.
A novela parece se repetir. Os números de
2024 já são bem distintos em comparação com o desempenho do ano passado, quando
investidores estavam otimistas e ainda num clima de lua de mel com o governo
Lula. No início deste ano, os analistas projetavam uma inflação de 3,90% para
2024. A estimativa mais recente é de uma alta de 4,91%. O estímulo fiscal,
incluindo os programas de transferência de renda, deve contribuir para um
crescimento da economia de 3,49%, conforme a última previsão. No início do ano,
essa estimativa era de 1,52%. E o dólar já acumula ganho em 2024 acima de 27%,
com a moeda americana ao redor de R$ 6,18.
A perspectiva para 2025 não é nada animadora.
No último Relatório Trimestral de Inflação, o Banco Central previu que a
inflação subirá até 5,1% no terceiro trimestre, mas fechará o ano em 4,5%, no
teto da meta. O Copom já anunciou um choque de juros, prometendo elevar a taxa
Selic até 14,25% na sua reunião de março, porém os investidores precificam que
os juros poderão superar 16%. Não à toa, um dos temas mais recorrentes nas
últimas semanas entre analistas é o risco crescente de dominância fiscal no Brasil,
fenômeno que muitos atribuem ter ocorrido no governo Dilma.
No cerne de tudo, está novamente uma crise
fiscal. Mesmo com a aprovação do pacote de cortes de gastos no Congresso, que
diluiu a proposta original, o diagnóstico de quase todos no mercado é de que o
presidente Lula precisa fazer novo ajuste urgentemente. Caso contrário, a
dívida pública entrará em trajetória explosiva. A Instituição Fiscal
Independente, do Senado, prevê que a dívida pública atingirá 91% do PIB em
2027. Se não houver correção de rumos nas contas do governo em 2025, o que
aconteceu em 2015 será fichinha. •
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