O Estado de S. Paulo
Dirigentes do PT dizem que presidente é como a Bíblia, que cada um interpreta como quer
A cirurgia sofrida pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na madrugada de ontem jogou luz sobre a sucessão de 2026
para o Palácio do Planalto. Muito antes de Lula ser submetido à drenagem de um
hematoma provocado por hemorragia intracraniana, porém, o assunto já
movimentava os bastidores da política e até da economia.
Nem mesmo nas fileiras do PT há certeza de que o presidente concorrerá ao quarto mandato, daqui a dois anos. Além disso, para cada interlocutor ele afirma uma coisa. Tanto é assim que dirigentes do partido produziram há tempos uma frase para definir o seu estilo. Diz o PT que “Lula é como a Bíblia: cada um interpreta como quer”.
Prestes a completar 45 anos em 10 de
fevereiro, o PT precisa de Lula para dar continuidade a seu projeto de poder.
Uma ala da sigla jura que ele é “candidatíssimo” – mesmo porque nunca deixou
nenhuma prata da casa ascender –, e chama de preconceituosos os que se referem
à sua idade. Hoje com 79 anos, o presidente terá 81 em 2026. Outro grupo
observa, no entanto, que essa definição depende do cenário até lá: não só da
saúde de Lula, mas de como estará o governo e, principalmente, a economia. Esse
segundo time, mais cauteloso, já dizia isso antes de o presidente levar um
tombo no Palácio da Alvorada, em outubro.
Embora tudo caminhe para a rápida recuperação
de Lula, não são poucos os petistas que consideram provável ele próprio começar
a montar um “plano B” para a sua sucessão.
Todas as apostas, nesse caso, recaem sobre o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em 2018, quando estava preso, Lula queria
que Jaques Wagner fosse candidato à Presidência no seu lugar. Wagner pediu
tempo para pensar, mas Lula antecipou o que ocorreria. “Vamos chamar o Haddad
porque o Alemão não quer”, avisou ele a amigos, referindo-se a Wagner. A partir
daí, Lula se aproximou cada vez mais de Haddad, que, apesar de enfrentar
críticas no próprio PT, é, até agora, o seu herdeiro natural.
Em um país onde até o passado é incerto, como
dizia o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, não dá para cravar nada. A
esquerda não sabe quem será seu candidato em 2026, o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) está inelegível até 2030 e não quer deixar a grama conservadora
crescer ao seu redor e o centro continua “apagado”.
Lula sabe que a briga por sua cadeira começa
a ficar mais quente na segunda metade do governo. Mas é somente a partir de sua
decisão sobre ser ou não ser candidato que as peças do jogo de 2026 vão se
mover. E todos os partidos estão à espreita. Como diria Chacrinha, esse
programa só acaba quando termina.
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