Folha de S. Paulo
Décadas de estudos mostram as condições em
que governantes podem convencer a população a aceitar medidas impopulares
Javier Milei foi
à TV para exaltar o que chamou de sacrifício da população argentina.
No primeiro aniversário de governo, o presidente lembrou que seus planos para
impor alguma ordem à economia previam uma boa dose de
sofrimento. Não era exagero: o arrocho controlou o câmbio e a
inflação, ao custo de uma disparada da
pobreza no país.
Milei nunca escondeu a tolerância com as consequências de um ajuste amargo. Ainda assim, a celebração do aperto das contas é um estranho privilégio de presidentes em situações muito específicas. Décadas de estudos políticos e eleitorais mostram as condições em que governantes podem convencer a população a engolir medidas impopulares.
Um presidente tem mais chances de obter apoio
a um aperto de gastos se anunciar esse caminho durante a campanha. Não é uma
iniciativa muito popular entre políticos e marqueteiros, e só funciona quando
há uma demanda clara por esse tipo de medida. O custo de aparecer de surpresa
com um arrocho, por outro lado, costuma ser alto demais.
Um fator foi determinante para lançar os
eleitores na direção de Milei e explicar a sustentação das medidas adotadas até
aqui: a hiperinflação argentina. Reformas com um custo social elevado são
aceitas com menos resistência pela população e pelas forças políticas quando
são vendidas como a única maneira de recuperar perdas violentas e evitar ainda
mais prejuízos.
A celebração de resultados do arrocho de
Milei fez com que alguns entusiastas apontassem o contraste entre o tratamento
de choque argentino com a resistência de Lula a
um ajuste fiscal mais modesto. Politicamente, a comparação é tão previsível
quanto equivocada. Os dois presidentes estão montados em bichos completamente
diferentes.
Milei testa os limites do mandato que recebeu para enfrentar circunstâncias dramáticas, sabendo que será julgado pelos resultados. Lula se equilibra entre a decisão de entregar um programa consistente e o risco dos efeitos negativos da inflação. Pode ser doloroso para os críticos de cada um, mas as escolhas do argentino e do brasileiro têm uma explicação simples: os incentivos e as restrições da vida democrática.
Cada presidente está montado em bichos diferentes ?
ResponderExcluirque conversa é essa rapaz?
Antigamente costumava dizer que esse jornalista é um vaselina
ResponderExcluirEscorrega pra não ter uma posição clara
Argentino gosta de sofrer,os americanos também.
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