O Globo
Combate eficiente ao crime se faz com
inteligência financeira e operacional, respeitando o devido processo legal
As palavras, na política, têm peso e
normalmente implicações práticas. O governador Tarcísio de Freitas foi bastante
incisivo em março deste ano ao defender as ações da Polícia Militar de São
Paulo, que, já então, chamavam a atenção da própria Ouvidoria da polícia, do
Ministério Público e de entidades de defesa dos direitos humanos pela explosão
da letalidade e do uso de violência em operações.
— Nós temos muita tranquilidade com o que
está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio
que o parta que eu não tô nem aí.
O dar de ombros orgulhoso daquele que, no fim das contas, é o chefe maior das polícias, foi lido como licença para acelerar. Àquela altura, a Operação Verão, deflagrada na Baixada Santista para combater o crime organizado nas cidades do litoral, havia resultado em 39 mortes de civis por militares. Foi encerrada oficialmente um mês depois, com 56 civis e dois policiais mortos.
Não foi o único episódio rumoroso na política
de segurança de Tarcísio e seu secretário da área, o policial militar e
ex-deputado do PL Guilherme Derrite. As últimas semanas, no entanto, têm sido
marcadas pela revelação de graves casos de envolvimento de policiais com o
próprio crime organizado, cujo combate foi usado por Tarcísio para justificar o
“não tô nem aí” para as denúncias de abusos.
Na mesma entrevista em que desdenhou as
evidências, o governador foi categórico em dizer que não existia “bandido na
polícia” do estado. Nesta semana, um ex-integrante de sua própria segurança foi
afastado da corporação diante de evidências de envolvimento com o Primeiro
Comando da Capital (PCC). Pouco antes, a ousada execução a tiros de fuzil de um
delator do PCC em pleno aeroporto de Guarulhos escancarou a infiltração das
polícias, no plural, pela principal facção criminosa em atividade em São Paulo.
Licença para matar não é, nem nunca foi,
sinônimo de eficiência no combate ao crime organizado. Isso se faz com
inteligência financeira e operacional, respeitando o devido processo legal. Sob
a justificativa da “defesa da ordem” feita pelo governador no mesmo discurso,
se permitiu por longos meses, entre o fim de 2023 e o primeiro trimestre deste
ano, que a polícia aumentasse em 400% a letalidade de suas ações no litoral.
Nem todos os que morreram nessa escalada eram bandidos. E, mesmo que se trate
de suspeitos, a lei determina que sejam presos e que as investigações resultem
no enfraquecimento da estrutura das organizações criminosas a que estão
ligados.
Nas últimas semanas, casos inadmissíveis de
violência gratuita, até mesmo de sadismo puro e simples, têm vindo à tona, com
imagens que não foram captadas pelas fardas dos mesmos policiais, como o
assassinato de um estudante de medicina, a execução à queima-roupa de uma
pessoa com 11 tiros pelas costas ou, o mais recente, a inacreditável cena em
que um policial, diante de colegas coniventes, atira um suspeito num córrego na
capital paulista.
Diante desses casos, que geraram ampla
divulgação e certa comoção, Tarcísio e Derrite reagiram com indignação.
Disseram que tais comportamentos são incompatíveis com o que se espera da
corporação. Mas de que forma o endosso anterior funcionou como sinalização de
que a violência é um expediente aceito e até encorajado? Pesquisas
provavelmente captariam apoio de parcela considerável da sociedade ao aumento
da violência policial contra o crime organizado. Isso não dá aos governantes e
gestores a licença para transigir com a barbárie.
Os casos de São Paulo e também de Bahia e Rio
de Janeiro mostram que, a despeito da escalada de violência das polícias, as
organizações criminosas avançam em várias frentes, de setores da economia à
infiltração no tecido político. É preciso ação coordenada de instâncias de
governos e também da Justiça para conter a mexicanização do Brasil, e não a
decretação de uma licença geral para o olho por olho, dente por dente.
Perfeito.
ResponderExcluirConcordo. Licença para matar geralmente encobre a incapacidade de atuar com inteligência e planejamento, o que, aliás, acontece com o mauricinho da rota e seu chefete carioca.
ExcluirBrasil hoje é comandado por um quadrilha de criminosos flagrados no Grande assalto aos cofres públicos brasileiros revelados pela lava jato, aqui onde se prende senhorinha de Bíblia ajoelhada e rezando pedindo melhoras pro Brasil e solta chefe de facção criminosa que sai pela porta da frente da penitenciária
ResponderExcluirSó não vê quem não quer, nos governos do PT a violência só aumentou e as facções criminosas se proliferaram
O Judiciário cada vez mais brando com os criminosos
Certo,se não ficaremos todos cegos e banguelas.
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