Folha de S. Paulo
O quanto antes o Congresso decidir por
afastar militares da política, melhor
Um general de
quatro estrelas preso, oito
militares detidos e 25 indiciados por suspeita de formar
organização criminosa para tramar atentados contra o Estado de Direito não é
algo trivial em lugar algum do mundo.
Ocorrência menos usual ainda; na verdade, inédita em nossa República instituída mediante um golpe, e que atravessou o século 20 acossada por diversas sublevações fardadas nas quais civis foram coadjuvantes ativos.
Os autores das ofensivas tentadas e/ou
concretizadas nunca sofreram o peso da legalidade, quando restituída. No levante mais
duradouro, de 1964 a 1985, os golpistas por algum tempo foram tidos
como revolucionários em versão light do acontecido.
Ao fim do período, valeram-se de uma anistia
camarada negociada sob a égide política como arte do possível.
Decorridos quase 40 anos da redemocratização,
não haveria mais como o país contemporizar com ações de sedição, sob o risco de
se pôr a perder o esforço de recuperação institucional ao custo de vidas,
reputações, carreiras e muitos erros até o desfecho.
A Lei da
Anistia de 1979 não será revisada, conforme decisão do Supremo
Tribunal Federal. Refere-se ao passado e não incluiu intentonas presentes.
Estamos assim combinados em relação a isso, mas precisamos nos precaver quanto
ao futuro.
A respeito dessa indispensável precaução é
que falam as atuais punições de militares, cujo espírito diabólico comandado
pela matriz autoritária de Jair
Bolsonaro quase nos levou à debacle democrática.
A higidez das instituições atuou como
barreira de contenção. É preciso mais. É necessário consignar que as atividades
militar e política são incompatíveis. Daí o imperativo de o Congresso aprovar a
PEC que impede integrantes das Forças
Armadas de disputarem
eleições e continuarem nos quarteis.
Não é discriminação. Há vantagens específicas
aos militares que os civis não têm. Trata-se, portanto, da necessária separação
de funções, em nome da preponderância do poder civil sobre quaisquer ordens
presidenciais que não atendam aos preceitos da legalidade.
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