O Globo
Sempre que o governo reconhece que tem um
problema de comunicação, ele tem um problema, mas não é de comunicação. O velho
Chacrinha dizia que “quem não se comunica se trumbica”. Certo, mas quem se
trumbica não se comunica, e é esse o problema.
A ekipekonômica e o Planalto fizeram um
pacote mal-ajambrado, tentando embrulhar uma vassoura, bananas e uma gaiola, o
dólar passou os R$ 6, e o problema estaria na comunicação.
Paulo Pimenta,
ministro-chefe da Secom, não é nenhum Washington Olivetto, mas não é dele a
responsabilidade pela encrenca. Indo aos fatos.
A ekipekonômika começou a divulgar o pacote plantando notícias de uma tunga sobre o salário-desemprego dos trabalhadores demitidos sem justa causa. Começaram a soprar essa tunga sem ao menos conversar com o ministro do Trabalho, coisa de onipotentes mal-educados.
Quando chegou a hora de divulgar as medidas,
Lula jogou o ministro Fernando Haddad na frigideira. Uma semana antes, o
presidente foi com gosto para a ribalta, propondo uma aliança mundial contra a
fome. Palavras bonitas, que não produzem um só sanduíche de mortadela.
Se Lula tivesse ido para a ribalta expondo um
dos aspectos essenciais do pacote, o dólar poderia ter batido a marca dos R$ 6,
mas seus críticos revelariam o real motivo da zanga. O governo quer isentar
quem ganha até R$ 5 mil do pagamento de Imposto de Renda. Para compensar a
perda de arrecadação, taxaria em no mínimo 10% as rendas superiores a R$ 600
mil. Essa mordida pegaria sobretudo quem ganha milhões no rentismo e, em alguns
casos, paga mixarias de impostos. Lula poupou sua retórica e terceirizou a tarefa
para o dialeto semimercadista de Haddad. Deu errado, e a Secom nada teve a ver
com isso.
Prova de que o governo está trumbicado está
no fato de, com a alta do dólar, o Planalto ter posto na mesa a velha carta da
reforma ministerial. Ela costuma aparecer na época das festas natalinas.
Estimula ambições, assusta ministros e acaba em mais do mesmo.
Lula 3.0 tem boas marcas de desempenho.
Desemprego e pobreza derrubados a índices inéditos não são pouca coisa. O
Programa Pé-de-Meia, do Ministério da Educação, estancará a evasão de jovens do
andar de baixo, que desistem do ensino médio.
Trumbicado, o PT insiste
na patranha dos bodes expiatórios. Paulo Pimenta seria o bode da casa,
mas Roberto
Campos Neto é o culpado de sempre. O Diretório Nacional do
partido chamou-o de “serviçal do mercado financeiro”. Ele pode até achar que
isso é um elogio, mas as altas dos juros foram decididas pelo voto unânime do
Copom, onde tem assento Gabriel
Galípolo, futuro presidente do Banco Central. Será divertido ver a
reação do PT no ano que vem, quando os juros subirem com Campos Neto na praia.
O governo não se trumbica por falta de
comunicação, mas por crise de identidade, e isso não há Olivetto que resolva.
Só a falta de identidade explica que uma ekipekonômika ensaie tungar o
salário-desemprego para cortar despesas enquanto finge que não vê os ministros
que complementam seus salários com assentos em conselhos. Essa seria uma
economia de grampos, mas revela a identidade dos adoradores de boquinhas.
Excelente coluna!
ResponderExcluirDestaco: "Para compensar a perda de arrecadação, taxaria em no mínimo 10% as rendas superiores a R$ 600 mil. Essa mordida pegaria sobretudo quem ganha milhões no rentismo e, em alguns casos, paga mixarias de impostos."
Será que isto explica por que o pessoal do dito Mercado financeiro se decepcionou tanto?
Ótima coluna !
ResponderExcluir😎
Está dito!
ResponderExcluirExcelente artigo, sem meias palavras.
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