Correio Braziliense
O acordo de livre comércio Mercosul-União
Europeia parece ter se tornado uma aposta ainda mais relevante para os dois
blocos diante da crescente fragmentação do comércio internacional
O aumento de 100% nas tarifas sobre produtos dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia), conforme ameaça feita pelo presidente eleito Donald Trump na rede social Truth Social, teria impactos significativamente indesejáveis na economia norte-americana, afetando consumidores e setores econômicos importantes dos Estados Unidos. Ainda que essa medida possa incentivar a produção doméstica e a redução do deficit comercial no curto prazo, no médio prazo, porém, poderíamos testemunhar aumento dos preços de itens essenciais, como eletrônicos, alimentos e energia, pressionando a inflação e o custo de vida, enquanto cadeias produtivas sofreriam com elevação dos custos de produção em setores-chave. Adicionalmente, esse "tarifaço" poderia enfraquecer a posição geopolítica e comercial dos EUA, criar tensões e até mesmo acelerar, em vez de arrefecer, a cooperação entre os países do Brics .
Como é sabido, o aumento de tarifas, em tese,
pode incentivar a produção doméstica nos EUA, estimulando indústrias a buscar
alternativas locais ou regionais, mesmo que isso demande restruturação de
cadeias produtivas em um prazo relativamente maior e a um custo mais alto.
Quanto ao saldo comercial, as tarifas têm um papel importante nesse objetivo,
mas também às custas de um aumento de preços aos consumidores e empresas.
Assim, nesse contexto, a economia
norte-americana sofreria com a elevação dos preços de itens essenciais,
repassando custos para os consumidores estadunidenses e pressionando a
inflação, o que impactaria o custo de vida. Da mesma forma, a medida anunciada
por Trump reduziria a competitividade global de empresas norte-americanas e
provocaria mudanças importantes nas cadeias de suprimentos globais, elevando os
custos de produção nos EUA, especialmente em eletrônicos (China), energia
(Rússia), metais, produtos agrícolas e fármacos (Brasil e Índia). Toda essa
dinâmica de desaceleração econômica e inflação (persistente em alguns setores)
dificultaria os esforços para a estabilização dos preços e geração de empregos,
promessas de campanha de Donald Trump.
Por fim, na dimensão geopolítica, Trump pode
desencadear retaliações comerciais recíprocas envolvendo as principais
correntes de comércio e investimento em nível global que poderiam isolar os
próprios Estados Unidos. Além disso, a medida fortaleceria a cooperação entre
os países do Brics , incentivando ações para reduzir a dependência dos EUA,
como o uso de moedas locais e sistemas de pagamento internacionais — um
contraponto ao dólar e ao SWIFT. No longo prazo, essa abordagem debilita ainda
mais a já enfraquecida capacidade dos EUA de liderar o sistema internacional,
fortalecendo a agenda multipolar, muito popular no Sul Global e que vem sendo
estrategicamente promovida pela China e pela Rússia.
Em um cenário de eventual recrudescimento das
relações Brasil-Estados Unidos, o Brasil se encontraria diante da necessidade
de buscar mercados alternativos para compensar a redução das exportações aos
EUA, fortalecendo, de forma pragmática, relações comerciais com parceiros na
Ásia, Europa e no próprio bloco Brics. Nesse sentido, o acordo de livre
comércio Mercosul-União Europeia, celebrado na semana passada, parece ter se
tornado uma aposta ainda mais relevante para os dois blocos diante da crescente
fragmentação do comércio internacional. Essa reconfiguração pode ainda acelerar
iniciativas para diversificar a economia e reduzir a dependência do mercado
norte-americano, mas exigiria tempo e investimentos significativos. Resta saber
se os atores nacionais estão dispostos a esperar. Do contrário, poderão formar
grande bloco de oposição ao governo federal.
A ameaça trumpista evidencia, assim, a
dificuldade do establishment norte-americano de lidar com um sistema
internacional repleto de fraturas e que desafia a declinante liderança dos
Estados Unidos. Diante desse cenário de riscos e oportunidades, os Brics e
demais países avaliam seus relativos graus de sensibilidade e vulnerabilidade
no sentido de calibrar suas ações para melhor defender e promover seus
interesses nacionais.
*Doutor em estudos estratégicos
internacionais (UFRGS) e professor de relações internacionais do IDP
" Fazer previsões oscila entre hubris e charlatanismo, mas elas são inevitáveis e devem ser vistas como chutes fundamentados. "
ResponderExcluirMarcus André Melo, na Folha de S. Paulo
😏
Gostei dessa parceiro , chute fundamentado em achismo, esse cara quis agradar o Lula de qualquer maneira Imagina as consequências pro Brasil com 100% de tarifa de Exportação pros Estados Unidos ?
ResponderExcluirEsse jornalista é uma piada
Só não falou o por que o Trump ameaçou com aumento de tarifa , e porque ele fica falando em acabar com o dólar para os negócios dos Bricks China e Rússia já pularam fora desse barco , ele está sozinho nessa aventura. Lembrando Quando no discurso da ONU desligaram o microfone dele e o lula ficou que nem um pateta falando pra ninguém