quarta-feira, 8 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Tragédia exige plano de longo prazo do Congresso

O Globo

Liberar recursos na emergência é essencial. Mas é preciso criar espaço fiscal para investir em prevenção

A resposta do Congresso à catástrofe ambiental, humanitária e material do Rio Grande do Sul tem sido até aqui positiva. Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acompanharam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao estado no final de semana. De lá para cá, os parlamentares se debruçaram sobre o pedido de decreto de calamidade pública válido até 31 de dezembro. É mesmo necessário evitar que amarras burocráticas dificultem a liberação de recursos em momento tão urgente.

A devastação provocada pelas chuvas levou Executivo e Legislativo a concordar em liberar recursos fora do limite imposto pelas regras fiscais. Não se trata de atropelo da lei. A Constituição e a legislação permitem abrir crédito extraordinário em situações de calamidade. As demandas dos gaúchos são tão dramáticas que atendê-las da forma mais ágil possível deve ser prioridade.

Vera Magalhães - O novo normal para os governos

O Globo

Não será mais possível a governantes locais e nacionais postergar ações que têm de ir além do emergencial

As medidas emergenciais até aqui anunciadas para a reconstrução do Rio Grande do Sul, devastado depois de uma semana de chuvas que atingiram todas as regiões do estado, são só o começo. Autoridades de Brasília e gaúchas reconhecem que ainda não têm sequer uma estimativa aproximada de quanto será necessário para enfrentar emergências que vão da destruição de toda a infraestrutura do estado a necessidades básicas da população, como abastecimento de água e moradia.

Excluir os gastos com a calamidade da meta fiscal é uma medida justificável e necessária. Espera-se que, para o Rio Grande do Sul, os efeitos da intempérie sem precedentes sejam comparáveis aos da pandemia em termos de colapso econômico e social. Para o resto do país, os reflexos devem se fazer sentir nas próximas semanas, com elevação do preço de alimentos, entre outras consequências.

Bernardo Mello Franco – Politizar é preciso

O Globo

Não é hora de procurar culpados. Não se deve politizar a tragédia. Os chavões se repetem desde o início das enchentes no Rio Grande do Sul. Ajudam a encobrir erros, diluir responsabilidades, proteger quem se omitiu.

Escolhas políticas estão na origem da emergência climática. Autoridades que negam a crise ajudam a agravá-la. Governantes que não investem em prevenção contribuem para ampliar os desastres.

O prefeito de Porto Alegre não aplicou um centavo no sistema contra enchentes em 2023. Sem manutenção, diques e comportas entraram em colapso. A água invadiu o centro histórico, tomou as ruas, deixou bairros submersos.

No domingo, Sebastião Melo orientou os donos de casas de praia a se refugiarem no litoral. A sugestão não contemplou as famílias mais pobres, condenadas a buscar abrigos e entrar nas filas de doações.

Zeina Latif - Governos gastadores ficam à mercê de rentistas

O Globo

O caminho para uma dívida menos onerosa e com perfil mais saudável depende de sua redução. E isso requer responsabilidade fiscal

A dívida mobiliária do governo federal voltou a crescer. Está em R$ 6,64 trilhões, o que representa 60% do PIB; cifra elevada na comparação com países parecidos. Isso significa que um grande volume de recursos é direcionado para financiar o governo, em detrimento do investimento privado.

A dívida elevada tende a ser mais cara, especialmente em economias não avançadas. Não só o espaço para redução dos juros básicos do Banco Central é menor, como o prêmio demandado por investidores é maior.

A decisão de quanto gastar é do governo, mas os juros dependem em grande medida da confiança dos investidores na qualidade da gestão fiscal.

Wilson Gomes - O fim da crítica política?

Folha de S. Paulo

O comentarista político é o único a quem não se permite reivindicar sua objetividade

Na crítica, o juízo de gosto jamais deve ser entendido como um juízo de valor. E vice-versa. Isso vale para qualquer atividade dessa natureza, tenha ela como objeto filmes, romances, artes plásticas ou até mesmo política.

Como todo apreciador de uma forma artística ou toda pessoa politicamente engajada, o crítico tem suas preferências e reconhece as obras e os projetos que melhor atendem às suas exigências estéticas ou morais. No entanto, a atividade analítica deve ser completamente diferente da experiência estética.

"Eu não gostei dessa obra" não deve ser confundido com "essa obra não presta". Afinal, há coisas de que pessoalmente não gosto, mas que podem ser sublimes em seu gênero; há soluções estéticas ou políticas que não aprovo, mas cuja genialidade não posso deixar de reconhecer. E é claro que adoro, como diria Machado de Assis, certas deliciosas vulgaridades, porque me falam à alma e à sensibilidade, não por seu elevado padrão estético ou político.

Bruno Boghossian - De quem é a culpa?

Folha de S. Paulo

Pesquisa apontou que população não faz avaliação 100% objetiva, mas também não é vítima cega de paixões políticas

Depois do furacão Katrina, pesquisadores mediram como os americanos distribuíam a culpa pela tragédia. O levantamento mostrou que o eleitor jogava mais responsabilidade em políticos do partido adversário, mas fazia acusações mais ponderadas quando tinha informações sobre o papel de cada autoridade.

A análise pode explicar como operam o partidarismo, a propaganda e a desinformação. Os cientistas políticos Neil Malhorta e Alexander Kuo apontaram que, nesses casos, o eleitor não faz uma avaliação totalmente objetiva, mas também não é uma vítima cega de suas paixões políticas.

Mariliz Pereira Jorge - O brasileiro mais brasileiro

Folha de S. Paulo

É comovente ver como o brasileiro é melhor quando é mais unido

Diante da calamidade que tomou conta do Rio Grande do Sul, tem aflorado o que o brasileiro tem de melhor, a solidariedade. As redes sociais estão inundadas de correntes de socorro, grupos de WhatsApp de amigos e de amigos de amigos engajados em torno de uma causa comum, ajudar o povo gaúcho.

O brasileiro tem sido mais brasileiro em sua essência, a de uma nação que se dá as mãos, que renova os laços que nos unem, que abraça a todos que nasceram, cresceram ou escolheram viver neste país que chamamos de nosso. Não somos apenas o retrato estereotipado da alegria, mas milhões de pessoas que doam tempo e recursos.

Vinicius Torres Freire - Os retirantes das enchentes

Folha de S. Paulo

Gaúchos ora fogem para o litoral, mas país prepara êxodos de terras devastadas

Talvez permaneça na lembrança a figura do retirante das secas do Nordeste. Na imagem mais comum ou mesmo na caricatura, eram pessoas que fugiam do desastre social carregando suas poucas coisas em sacos nas costas.

Por vezes, se tornavam pedintes em cidades maiores, quando não eram confinados em campos de concentração, ou pegavam um "pau de arara" a caminho do sul do país.

É como aparecem na tela de realismo quase socialista que Candido Portinari (1903-1962) pintou em 1944. Um velho com um cajado, um casal, uma mulher mais jovem e cinco crianças, todos esquálidos, parecem posar, bestificados, de pé sobre um chão esturricado, sob um céu de urubus.

Eram personagens dos romances da seca, no final do século 19 ou do começo do 20, e presença soturna e frequente na literatura que vai até os 1960.

Luiz Carlos Azedo - Despesas com a COP em Belém deixam Lula numa saia-justa

Correio Braziliense

Segundo o governador Helder Barbalho, a realização desses investimentos é fundamental para o sucesso da COP

Ao mesmo tempo em que negocia com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), um pacote de ajuda aos gaúchos flagelados pela chuva, que inclui a suspensão do pagamento das dívidas do Rio Grande do Sul, cujos serviços custam cerca de R$ 3,5 bilhões ao ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva liberou um investimento da Itaipu Binacional, a fundo perdido, para obras de infraestrutura de Belém da ordem de R$ 1,3 bilhão. A capital do Pará sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a COP 30, em 2025.

Esses recursos de Itaipu sempre foram destinados ao Paraná e ao Mato Grosso do Sul, porém, desde março, vinham sendo negociados entre o diretor-geral brasileiro da empresa, Enio Verri, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), para reforçar o pacote de investimentos na infraestrutura da cidade. Belém deve receber cerca de 50 mil pessoas durante a COP-30, a primeira a se realizar em plena Amazônia.

Fernando Exman - Atenção às propostas dos futuros candidatos

Valor Econômico

O dia 26 de setembro de 2020 foi a data limite do prazo, iniciado em 31 de agosto daquele ano, para que os partidos registrassem os nomes dos seus candidatos a prefeito e vereador. A última eleição municipal foi singular. Realizada em meio à pandemia, a disputa foi marcada pela polarização e o negacionismo de parte considerável do meio político e do eleitorado. Em Porto Alegre, não foi diferente.

O guichê da Justiça Eleitoral contabilizou 13 candidatos à prefeitura da capital gaúcha. Entre declarações de bens, fotografias, certidões criminais e comprovante de desincompatibilização de cargo público, todos eles também precisaram protocolar um arquivo com suas propostas para a cidade. Hoje, cerca de quatro anos depois, a leitura dos textos evidencia que não estava na prioridade de grande parte dos candidatos a elaboração de um plano municipal de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, a adaptação da cidade e o planejamento contra desastres ambientais.

Lu Aiko Otta - Camilo e Tebet em caminhos opostos

Valor Econômico

Debate dentro do governo sobre a redução de despesas obrigatórias como parte do ajuste das contas públicas não será tarefa fácil

Não será fácil à ministra do Planejamento, Simone Tebet, impulsionar o debate dentro do governo sobre a redução de despesas obrigatórias como parte do ajuste das contas públicas. Questionado pela coluna sobre o tema, o ministro da Educação, Camilo Santana, informou que caminha na direção contrária: quer mais verbas, e não desacelerar o crescimento dos recursos para sua pasta.

Em entrevista publicada na edição de segunda-feira (6) deste jornal, Tebet colocou sobre a mesa aquilo que lhe era muito cobrado: propostas para impulsionar o ajuste fiscal pelo lado das despesas.

Tiago Cavalcanti - Quem financia o mercado?

Valor Econômico

Além das reformas para melhorar a segurança jurídica, facilitando a recuperação de créditos em atraso, é necessário incentivar a competição no setor bancário e vigilância contra possíveis conluios

A atividade bancária e o setor financeiro são fundamentais para o progresso econômico e social de uma sociedade. Em particular, não há economia desenvolvida sem um setor financeiro eficiente e uma elevada proporção de crédito em relação à renda.

Apesar de correlação não implicar necessariamente em causalidade, a teoria econômica ajuda a entender o papel dos intermediários financeiros no desenvolvimento econômico.

O progresso das nações depende de inovações e investimentos, os quais têm retornos incertos. A capacidade de uma economia de financiar tais investimentos depende de como os intermediários financeiros transferem recursos de agentes econômicos que poupam seus recursos, não têm ideias inovadoras ou não desejam correr riscos, para os indivíduos e empresas que, no seu "espírito animal", produzem inovação e investem, aumentando a capacidade produtiva, gerando emprego e renda.

Martin Wolf - Percepção da economia é o desafio de Biden

Valor Econômico

Estilo retórico de Trump parece atrair mais os eleitores do que a realidade econômica

Os planos de Trump para um segundo mandato são os de um ditador. Esse desejo já ficou evidente em sua tentativa de anular o resultado da última eleição presidencial e na insistência para que a Grande Mentira de que venceu, se tornasse a Grande Verdade do Partido Republicano.

Além disso, ele disse recentemente à revista “Time” que construiria grandes campos de detenção para imigrantes sem documentação, mobilizaria o Exército dos Estados Unidos internamente, ordenaria aos procuradores dos EUA que processassem pessoas de quem ele não gosta, perdoaria os insurrecionistas do 6 de janeiro de 2020 e encheria sua administração de pessoas leais. Ele também lançaria dúvidas sobre as garantias de segurança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), abrindo assim a Europa ao seu amigo Vladimir Putin, e lançaria uma guerra comercial global.

Resumindo, o retorno de Trump ao poder nos EUA, o porta-estandarte da democracia liberal no mundo, poderia se mostrar o momento em que o despotismo arbitrário tornou-se, mais uma vez, a forma normal de governança humana. Isso ameaça tornar as eleições presidenciais daqui a seis meses vitais não só para o futuro dos EUA, como do mundo todo.

Marcelo Godoy - Lula e a ética da omissão

O Estado de S. Paulo

Quando a viúva de Rubens Paiva abraçou o general Cardoso, a República enterrou a ditadura

“A política é um esforço tenaz e enérgico para atravessar grossas vigas de madeira.” A frase inicial do último parágrafo de A Política como Vocação, de Max Weber, expõe a síntese entre convicção e responsabilidade. O autor prossegue: “É perfeitamente exato dizer – e a experiência histórica o confirma – que não se teria jamais atingido o possível, se não se houvesse tentado o impossível”.

Desde que assumiu a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva é acossado por integrantes da base petista e psolista em razão das políticas dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e José Múcio (Defesa). Weber diz que perde seu tempo quem busca mostrar aos apegados à ética da convicção que suas atitudes não têm outro efeito senão o de fazer aumentar as possibilidades da reação. E, quando os atos praticados em razão das convicções revelam consequências desagradáveis, seus apoiadores não se sentem responsáveis – tudo é sempre culpa de quem se lhe opõem, sejam pessoas, classes ou instituições. Enfim, não é preciso reconhecer a política como tragédia para evitar a ação pautada apenas nas convicções.

Paulo Delgado - Um tempo episódico da Justiça

O Estado de S. Paulo

Foi de grande importância para o crescimento das nações algum gracejo engenhoso, sem escárnio desumanizador, contra o mau exercício do poder

Por mais novidade que se busque ao escrever sobre juízes e suas funções, permanência e mudança prevalecem. A Justiça, num tempo de transição como o nosso, propenso a lendas e mitologias, faz a visibilidade de muitos transcender seu papel. Cada um de nós, por sua vez, é a memória dos tempos e atos que viveu. O juiz não deveria exagerar no dom de engenhoso construtor do destino do outro. Humanismo judicial, subjetivismo interpretativo, aderência circunstancial ao literal aumentaram a aceitação do caos. Quanto mais se exalta a alma da pessoa, mais perde a alma constitucional da função. Todavia, acreditar no propósito ético dos juízes, seu instinto para a boa-fé, é essencial.

Nicolau da Rocha Cavalcanti - Obrigado, Fernando Henrique

O Estado de S. Paulo

As duas décadas de existência do Ministério da Defesa reafirmaram aos militares o seu lugar na vida institucional do País

Com razão, muito se fala da atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) em defesa da democracia diante da recente intentona golpista. Sem a vigilância da Corte constitucional, não se sabe ao certo qual seria hoje o estado do nosso regime democrático. Mas outro fator, do qual se pouco fala, também foi decisivo para a preservação do Estado Democrático de Direito: a criação, em 1999, do Ministério da Defesa. E isso foi obra do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Antes, havia três ministérios militares – do Exército, da Marinha e da Aeronáutica –, o que conferia às Forças Armadas um peso político-institucional muito maior. Tanto é assim que, desde a Constituição de 1946, já se tentava reunir Exército, Marinha e Aeronáutica sob um mesmo ministério e não havia sido possível. A resistência era enorme.

Roberto DaMatta - Cobertos pelo manto de Madonna

O Globo

Ela é uma versão pós-moderna, globalizada, digitalizada e extravagante de uma Maculada Nossa Senhora. Uma entidade

Toda celebridade tem uma aura. Um nevoeiro a envolve, revelando sua distância dos comuns. Um manto a distingue e abriga seus seguidores — seus fanáticos fãs.

O show apoteótico de Madonna numa Copacabana que com ela rima admite invocar um manto porque, tal como uma deusa — que as virgens Imaculadas me perdoem —, Madonna é uma versão pós-moderna, globalizada, digitalizada e extravagante de uma Maculada Nossa Senhora. Uma entidade, reitero, que — livre como manda a lógica dos exitosos, santos, anjos e deuses — é absolutamente essencial para suportar este nosso vale de lágrimas.

Entrevista | Luiz Antonio Santini - Quais são os maiores desafios do SUS hoje

Por Helena Celestino / Valor Econômico

‘Por enquanto, o SUS está vivendo um gargalo, que pode se transformar numa represa’, diz o médico Luiz Antonio Santini, um dos autores de ‘SUS, uma biografia: Lutas e conquistas da sociedade brasileira’

A cena era surpreendente. Em plena Olimpíada, centenas de camas de hospital sendo empurradas palco adentro, com pacientes e médicos dançando em torno delas. Aconteceu em Londres, foi uma das imagens fortes da abertura dos Jogos Olímpicos de 2012. Era uma homenagem dos britânicos ao Sistema Nacional de Saúde, o NHS, um dos orgulhos do país. A coreografia foi tão aplaudida quanto as imagens da rainha Elizabeth e James Bond voando, lado a lado, pelos céus.

O NHS é como o SUS, só que menos abrangente. O Sistema Único de Saúde brasileiro foi inspirado no modelo britânico, mas saiu maior e mais inclusivo, dizem os sanitaristas históricos, aqueles que lideraram a luta para incluir na Constituição de 1988 o acesso universal e igualitário à saúde pública no Brasil.

Foi um marco civilizatório, dizem todos. Recentemente provou sua excelência ao salvar milhões de vidas durante a pandemia exercendo a autonomia em estados e municípios contra o negacionismo do governo Bolsonaro em relação a vacinas e à ciência. Saiu dos três anos da pandemia com prestígio alto, mas com graves sequelas: a Fiocruz estima que a fila para cirurgias tenha 1 milhão de pessoas, o cancelamento dos exames preventivos de câncer de mama e colo de útero chegou a 80% na pandemia e os transplantes renais caíram 30%. O subfinanciamento agravou-se, as tecnologias ficaram defasadas, a população a ser atendida aumentou.

“Por enquanto, o SUS está vivendo um gargalo, que pode se transformar numa represa”, alerta Luiz Antonio Santini, um dos médicos sanitaristas históricos, que lança “SUS, uma biografia: Lutas e conquistas da sociedade brasileira” (ed. Record, 350 págs., R$ 89,90), escrito com Clóvis Bulcão, historiador renomado.

Eles contam como a luta pelo SUS ficou colada aos movimentos contra a ditadura, pela anistia e a redemocratização. Esses temas reuniam pessoas vindas de várias correntes de pensamento, gente ligada às igrejas, à universidade, à saúde, à política. Alguns tornaram-se liderança, como Sergio Arouca, Hésio Cordeiro, José Ramos Temporão e, claro, Luiz Santini.

Vários políticos tiveram atuação destacada no Congresso, muitos médicos elegeram-se como deputados constituintes e levaram a questão para a Comissão da Constituinte. Chamavam-se de Partido Sanitário, para não serem misturados com nenhuma organização política. “O divisor de águas era ser democrata. A questão da saúde tornou-se uma questão de sociedade”, diz Santini.

Vitoriosos, a obrigação do Estado de prover a saúde foi inscrita na Constituição e as conquistas são muitas. Mas hoje o sanitarista diz que está na hora da refundação do SUS.

Trechos de entrevista de Santini, com participação de Bulcão:

terça-feira, 7 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Solidariedade a vítimas no RS é exemplo para o país

O Globo

Num Brasil polarizado, é auspicioso que lideranças políticas tenham deixado as desavenças de lado

O desastre que atinge o Rio Grande do Sul exige respostas à altura da tragédia. Com 336 dos 497 municípios gaúchos em estado de calamidade pública, centros urbanos submersos, cidades isoladas, infraestrutura comprometida e milhares de moradores sem água e luz, não pode haver espaço para burocracia ou desentendimentos que dificultem a assistência às vítimas e a reconstrução.

Por isso tem sido comovente o movimento de solidariedade que se espalhou pelo Brasil, com doações e iniciativas de toda sorte para levar alívio à população atingida. Foi também louvável a união de forças dos três Poderes para ajudar os gaúchos. No domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para o RS numa comitiva que incluiu os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, além de vários ministros de Estado.

Merval Pereira - Madonna e a polarização

O Globo

O recado explícito da cantora era outro, a favor das liberdades individuais, marca da sua carreira

Madonna deixou tontas tanto a direita quanto a esquerda brasileiras. A esquerda viu naquela multidão calculada oficialmente em 1,6 milhão de pessoas em Copacabana potenciais eleitores, ao mesmo tempo que vibrou com os arroubos sexuais de Madonna, vendo neles atitudes políticas progressistas que afrontavam os reacionários direitistas que se escandalizaram com a exibição.

A extrema direita viu na exuberância de Madonna um pretexto para atacar seus fãs, considerando-a representante demoníaca, líder de uma seita satânica que existe para destruir os valores do mundo ocidental. O uso do verde e amarelo, mais que uma singela homenagem ao país que tão bem a acolhe há mais de 30 anos, passou a ser o resgate de um símbolo nacional que havia sido sequestrado pela direita bolsonarista. O senador bolsonarista Jorge Seif foi a Copacabana com a mulher. Foi tão criticado que pediu desculpas.

Míriam Leitão - O risco climático está escalando

O Globo

O país precisa se unir em torno dos gaúchos, formular um plano de risco climático, e deter os projetos insensatos

O plano de gestão de risco climático tem que ser dinâmico, porque o clima continuará mudando. É com essa ideia que se trabalha no governo desde o ano passado. O presidente Lula já foi duas vezes ao Rio Grande do Sul, com os seus principais ministros ligados ao assunto, e o governo permanece em reuniões seguidas no gabinete de crise. A emergência é tentar ao máximo mitigar as perdas e as dores dos gaúchos, mas é preciso ir além disso porque o clima continuará superando os cenários. Nada impressiona, contudo, os ruralistas. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado colocou em pauta, para amanhã, uma proposta para reduzir a reserva legal na Amazônia com o relatório favorável do senador Marcio Bittar (União-AC).

Luiz Carlos Azedo - Tragédia mobiliza a União em socorro aos gaúchos

Correio Braziliense

Deputados relutam quanto ao redirecionamento de emendas ao Orçamento e o mercado sinaliza que o equilíbrio fiscal deve ser mantido, mesmo com a emergência

Como aconteceu no de 8 de janeiro de 2023, quando o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos e vandalizados bolsonaristas, que tomaram de assalto a Praça dos Três Poderes, o mundo político se uniu novamente para socorrer o Rio Grande Sul, que registra o maior desastre natural de sua história. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não somente mobilizou seus ministros como convidou os representantes dos demais Poderes para acompanhá-lo, domingo, num sobrevoo sobre Porto Alegre e outras cidades inundadas pelas águas do Guaíba.

Foi a segunda vez, desde o início da tragédia, que Lula viajou para o Rio Grande do Sul. Desta vez, convidou os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além da bancada federal gaúcha, para uma reunião com o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). O vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Édson Fachin, e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, também participaram da reunião. No encontro, do qual fez parte o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, houve uma espécie de pacto entre os poderes para socorrer os gaúchos com medidas emergenciais.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Deslizes infelizes no país das desigualdades

Valor Econômico

Nada mais trágico para a sociedade brasileira que a perda de reputação do Poder Judiciário

Dia 1º de maio, o site Metrópoles estampou a empolgação do presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Fernando Antônio Torres Garcia elogiou a proposta do Senado que turbina os salários de magistrados e promotores. Garcia recebeu R$ 87,7 mil líquidos em fevereiro. O teto do funcionalismo público é de R$ 44 mil.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio, apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco prevê um aumento de 5% a cada cinco anos nos salários de juízes e promotores. Segundo a Consultoria de Orçamento do Senado, o projeto é inconstitucional e pode ter um impacto de R$ 81 bilhões aos cofres públicos entre 2024 até 2026.

Andrea Jubé - Governo reage às chuvas, mas apanha nas redes

Valor Econômico

Mesmo depois de 2018 e 2022, o PT ainda não fez o dever de casa sobre as redes, mas há “esperança”

No fim de semana, dois eventos de grandes magnitudes movimentaram o noticiário, um pelo viés da catástrofe, outro pela euforia. Nas redes sociais, o cruzamento de ambos gerou turbulência política, obrigando o governo federal a travar duas batalhas: desmentir “fake news” no universo digital, e envidar esforços no mundo real para socorrer vítimas dos alagamentos no Sul.

De um lado, o agravamento das enchentes no Rio Grande do Sul comoveu o país. O Lago Guaíba subiu mais de 5 metros, provocando uma inundação sem precedentes em Porto Alegre - a cheia histórica do rio havia marcado 4,77 metros em 1941. Até ontem, havia 85 mortos, 134 desaparecidos, 364 dos 496 municípios gaúchos afetados, 873 mil pessoas atingidas.

Eliane Cantanhêde - A união faz a força

O Estado de S. Paulo

A tragédia no Sul conseguiu, e Madonna ilustrou, o que Lula quis e não fez: união nacional

A tragédia do Rio Grande do Sul, a maior da história do Estado, e o megashow da Madonna em Copacabana, o quinto mais concorrido do planeta, servem como lembrança de algo que há muito anda esquecido, ou desdenhado, no Brasil: a união faz a força de uma nação e a radicalização não leva a nada. Todos os lados se uniram para socorrer o Estado e para ver Madonna.

A crise entre os Poderes sucumbiu ao desastre do Sul, que uniu no mesmo avião e na mesma foto os presidentes Lula, Arthur Lira, da Câmara, e Rodrigo Pacheco, do Senado, além do vice-presidente do STF, Edson Fachin.

Simbologia: acima de ideologias, partidos e interesses, institucionais ou pessoais, está a responsabilidade pública, com Estados, municípios, cidadãos.

Carlos Andreazza - O negócio dos vetos

O Estado de S. Paulo

Transitando de vício em vício, País espera para ver que fim terão os vetos de Lula

Arthur Lira é semipresidencialista convicto. “Há quem defenda, como eu defendo, o regime de semipresidencialismo”, declarou. “O presidencialismo de coalizão não funciona mais, mas precisamos respeitar o modelo que cada governo escolhe.”

Está tudo aí, exposta a confusão conceitual derivada da mentalidade autoritária.

O semipresidencialismo de Lira é o da dinâmica do orçamento secreto – agora sob a fachada das emendas de comissão – sem a participação-concorrência do governo de turno. Não se trata de saudade de Bolsonaro, em que pesem as afinidades.

Saudade do modelo viciado que vigorou sob Bolsonaro, aí sim; aquele em que o parlamentarismo orçamentário do Lirão (quem dera houvesse um Centrão) controlava a corda e a caçamba, com Ciro Nogueira na Casa Civil dando fluência às ordens de pagamento determinadas pelo império alcolúmbrico.

Joel Pinheiro da Fonseca - O fim do debate público?

Folha de S. Paulo

Cada formador de opinião fala quase que unicamente para quem está do mesmo lado

Por mais que os progressistas desejem e sonhem com isso, os quase 50% dos votos válidos para Bolsonaro não desaparecerão tão cedo, e boa parte deles será transferida para algum candidato que tenha o apoio de Bolsonaro. Resta saber se será tão extremista quanto ele ou se será mais moderado.

Independente de quem seja, a própria discussão sobre se é possível alguém próximo de Bolsonaro ser menos extremista do que ele já salientou um fato inescapável: a polarização continuará dando as cartas no debate público. Ou seja, a visão do outro lado como irremediavelmente maléfico —ou, na hipótese mais caridosa, burro— veio para ficar. Qualquer reação que não seja o combate irrestrito a tudo que o outro polo representa é tida por suspeita.

Dora Kramer – Zangado

Folha de S. Paulo

Lula destrata os auxiliares para não assumir o próprio BO da má articulação

Dizem que o presidente Luiz Inácio da Silva não é mais o mesmo. Depende do ponto de referência. A mim soa muito parecido com o figurino pré-Lulinha paz e amor feito sob medida para ultrapassar a barreira de três derrotas e ganhar a eleição de 2002.

A zanga que distribui a torto e a direito agora lembra o personagem criado por Laerte Coutinho para o jornal dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) na década de 1980. João Ferrador, sempre amofinado, cobrava dos patrões condições dignas de trabalho com o bordão "hoje eu não tô bom".

Alvaro Costa e Silva - Madona, vaticínios e boatos

Folha de S. Paulo

Show de Madonna derrubou o vaticínio dos profetas de sofá

Falar mal do Rio é um esporte, já disse alguém. A prática envolve não apenas os odientos, os ressentidos, os invejosos e os críticos acerbos (estes exercendo seu sagrado direito) como os cariocas da gema e os que escolheram viver aqui.

As razões são óbvias e bastantes. É só olhar o governador Cláudio Castro, que no ano eleitoral de 2022 aumentou em 22% os gastos com pessoal e hoje pressiona a União e o STF para conseguir mais dinheiro. Nem a humildade de apresentar-se com o pires na mão ele tem; como um chantagista, ameaça não pagar salários. "Quem mandou a população votar nele?", ouço o leitor perguntar. Como se somente o Rio elegesse maus políticos. Como se isso não fosse uma vocação nacional. A lista de nulidades eleitas é extensa, a começar pelo hoje inelegível.

Roger Cohen - Qual o tamanho do perigo com a ascensão da extrema direita na Europa?

The New York Times / O Estado de S. Paulo

Partidos anti-imigração com raízes fascistas - e um compromisso incerto com a democracia - são agora a corrente principal

Jordan Bardella, 28 anos, é o novo rosto da extrema direita na França. Comedido, de corte limpo e criado nos subúrbios do norte de Paris, ele recheia seus discursos com referências a Victor Hugo e acredita que “nenhum país tem sucesso negando ou tendo vergonha de si mesmo”.

Essa frase, em um comício recente na cidade de Montbéliard, no leste do país, provocou um coro de “Jordan! Jordan!” de uma multidão que havia feito fila por horas para vê-lo. Gritos de “Patrie” - pátria - encheram o salão. A Bardellamania está no ar.

Bardella, filho de imigrantes italianos e que abandonou a faculdade e se filiou ao partido Frente Nacional (agora Reagrupamento Nacional) aos 16 anos, é o protegido de Marine Le Pen, a eterna candidata presidencial francesa de extrema direita. Moderado no tom, se não no conteúdo, ele também é a personificação da normalização - ou banalização - de um partido que já foi visto como uma ameaça quase fascista à República.

Em toda a Europa, a extrema direita está se tornando a direita, na ausência de qualquer mensagem convincente dos partidos conservadores tradicionais. Se “extrema” sugere algo fora do comum, tornou-se um termo errôneo. Os partidos de uma direita anti-imigração não apenas cresceram, mas também viram as barreiras que antes os mantinham afastados desmoronarem à medida que eram absorvidos pelo arco das democracias ocidentais.

Na Itália, a primeira-ministra Giorgia Meloni, que tem raízes políticas em um partido neofascista, agora lidera o governo mais direitista da Itália desde Mussolini. Na Suécia, o governo de centro-direita depende dos Democratas da Suécia, outro partido com origens neonazistas, em rápido crescimento, para sua maioria parlamentar. Na Holanda, Geert Wilders, que chamou os imigrantes marroquinos de “escória”, venceu as eleições nacionais em novembro à frente de seu Partido da Liberdade, e os partidos de centro-direita concordaram em negociar com ele para formar uma coalizão de governo.

Pedro Doria - Moderados?

O Globo

Caiado é um líder com relevância que representa o Centro-Oeste desde a Constituinte. Quem lhe dá relevância é a população de sua terra

Na semana passada, Joel Pinheiro da Fonseca fez uma provocação em sua coluna na Folha de S.Paulo. É possível existir um “bolsonarismo moderado”? Boa parte da repercussão se deu onde costuma ocorrer o debate público hoje: nas redes. Não é um debate sem editor, embora muitos considerem ingenuamente que, nas redes sociais, porque todo mundo publica, todo mundo pode vir a ser lido. Que nada. Há um editor, o algoritmo de inteligência artificial. O caso de como repercutiu a coluna de Joel dá boa mostra de como o algoritmo interfere na conversa que uma sociedade tem sobre o que é de seu interesse.

Mas, antes de tudo, porque também esta coluna pode repercutir nas redes, e porque quem bate boca nas redes mal passa do primeiro parágrafo: não, um bolsonarismo moderado não é possível por definição. É um oximoro, uma contradição em termos. Tendo escrito uma história do Integralismo e, por isso, tendo lido bem mais Plínio Salgado do que é saudável numa vida, dá para afirmar com tranquilidade. O Brasil ideal na cabeça de Jair Bolsonaro é rigorosamente o mesmo ideal de país do líder máximo do movimento fascista brasileiro dos anos 1930.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

País precisa se preparar para eventos climáticos extremos

Valor Econômico

Deficiências que se tornaram habituais serão ainda mais nocivas com a mudança de qualidade dos fenômenos causados pelo aquecimento global

O Rio Grande do Sul vive nova catástrofe climática, pouco tempo depois de um destrutivo ciclone extratropical em junho e de enchentes em setembro que deixaram 54 mortos. Desta vez, uma zona de alta pressão, com bloqueio de ar quente no Centro do país, impediu a chegada de frentes frias ao Sudeste que, sem poder avançar, estacionaram no Sul, provocando dilúvios. No Estado, as chuvas afetaram principalmente a região Central e dos Vales, com 332 cidades atingidas. Em Porto Alegre, o rio Guaíba ultrapassou o recorde de 1941, quando atingiu 4,7 metros de altura. O Centro histórico de Porto Alegre está debaixo de água. Havia 78 mortos e 105 desaparecidos no início da noite de ontem.

O Rio Grande do Sul pode ser um exemplo de que os fenômenos climáticos adversos ganharam em intensidade e frequência, algo já visto com preocupante ritmo em todos os países com a piora do aquecimento global. No Brasil, há pouco uma seca devastadora fez desaparecer provisoriamente alguns rios na maior bacia fluvial do planeta, a Amazônica, enquanto o Pantanal vem sendo devastado por incêndios de grande extensão por dois anos consecutivos.

Três Poderes anunciam socorro a vítimas no RS

Andrea Jubé, Beth Kaike e Victoria Neto / Valor Econômico

Pacote contempla novas regras para transferência de recursos federais, renegociação da dívida do Estado e linhas de crédito especiais

O governo federal, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) começaram a articular ações emergenciais para vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. O pacote, anunciado no domingo (5), deverá contemplar regras para transferência de recursos federais fora das restrições fiscais, renegociação da dívida do Estado com a União, liberação de emendas parlamentares e linhas de crédito especiais ao agronegócio e a empresas afetadas pela catástrofe.

No domingo, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou, diante de autoridades locais e federais, que o Estado vive um “cenário de pós-guerra”, e que será necessário um “Plano Marshall” para reconstruir tudo, em alusão ao plano de reconstrução da Europa pós-Segunda Guerra, financiado pelos Estados Unidos. Alertou que limitações, como as regras fiscais, dificultam a utilização de recursos extraordinários no socorro à população.

Leite fez o apelo diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcou ontem em Porto Alegre com uma comitiva de ministros, com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, o vice-presidente do STF, Edson Fachin, e representantes das Forças Armadas.

O Estado enfrenta a maior enchente de sua história. Os temporais já deixaram 78 mortos confirmados, 105 desaparecidos e 175 pessoas feridas, de acordo com boletim da defesa civil divulgado na noite de domingo. Outros quatro óbitos estão sendo investigados.

Bruno Carazza - Quem se importa com as mortes no RS?

Valor Econômico

Tragédia de 2023 pouco mobilizou políticos gaúchos e o governo federal

No Brasil, as tragédias se sucedem, trazendo morte, sofrimento e prejuízos, principalmente para os mais pobres. Na maioria das vezes, poucas lições extraímos com o drama humano - e menos ainda mudamos nosso comportamento.

A situação vivida atualmente no Rio Grande do Sul foi bola cantada por especialistas em meteorologia e meio-ambiente, triste reprise das chuvas e inundações sofridas em meados do ano passado. A classe política, porém, ignorou os alertas.

Na mensagem que enviou a proposta para o orçamento de 2024 à Assembleia Legislativa, o governador Eduardo Leite (PSDB) mencionou a destruição e as mortes provocadas em diversos municípios do Estado em 2023, e propôs que todos os gaúchos unissem seus esforços para “que todos os atingidos tenham de volta a esperança no futuro”. Palavras quase protocolares, diante do pouco que se propôs de mudanças.