Folha de S. Paulo
Marina Colasanti não reprovava as mulheres
atreladas ao fogão. Só exigia que lutassem por orgasmos
Marina Colasanti morreu nesta terça (28), aos 87 anos.
Muita coisa deve estar saindo sobre ela como a mulher que, em veículos de
grande circulação, revirou a cabeça das leitoras nos anos 1970 e 1980. Eu
próprio escrevi um dia sobre a enorme influência de Marina sobre elas: "Não se tratava
de arrancar as mulheres do fogão e plantá-las em escritórios. Mas, as que
preferissem ficar no fogão deveriam exigir, pelo menos, grandes e regulares
orgasmos —e, se não os tivessem, que tomassem providências". De onde tirei
isso? De uma conversa com a própria Marina, com aquele seu misto de doçura e
autoridade.
O que me fascinava nela era o background que a tornara quem era: "Marina fez
parte da revolucionária geração de garotas da praia do Arpoador, no Rio, que,
em fins dos anos 1950, varavam Ipanema na garupa das lambretas, pegavam jacaré
com os rapazes (um deles, seu irmão Arduino) e desconfiavam do casamento
tradicional. Queriam trabalhar fora, morar sozinhas, seguir carreiras modernas
e não deixavam que a culpa imposta pelos padrões interferisse em sua vida
amorosa. À sua maneira, já eram feministas —sem ideologia, sem rancor e sem saber."
Foi essa experiência que a levou a colaborar na histórica revista Senhor,
ajudar Millôr a botar na rua os oito números do tabloide Pif-Paf, fechado pela
ditadura em 1964, e passar onze anos como colunista do Jornal do Brasil. E,
depois, sua longa carreira na revista Nova, respondendo às cartas das leitoras
e lhes dizendo o que elas precisavam ouvir.
De ascendência europeia numa época difícil, a Segunda Guerra,
Marina sabia também costurar, bordar, tricotar e
cozinhar. E nunca se sentiu "menor" por isso. "Ao
contrário", me falou. "Em emergências, frito até bolinhos."
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