Folha de S. Paulo
Presidente antecipa 2026 e quebra regra
básica do manual da política
É raro, senão inédito, que um presidente da
República abra
oficialmente a temporada da
sucessão ou reeleição com dois anos de mandato pela frente.
Reza o manual que isso antecipa o
"fim" da gestão em curso, alimenta disputas internas, dá mais espaço
para a oposição atuar sem ser acusada de só querer atrapalhar o governo devido
a interesses de palanque e deixa à vontade os governistas de ocasião que por
conveniência ainda não tenham explicitado a intenção de, adiante, pular do
barco.
Além disso, para um governo que tem atraído desconfiança, essa antecipação estimula suspeitas bastante fundadas de que não se possa esperar nos próximos dois anos quaisquer ações de caráter impopular, a despeito de serem necessárias.
Luiz Inácio da Silva (PT), como temos
visto neste terceiro mandato, anda menos disposto a seguir os ditames da
cartilha política tradicional. Portanto, pode ser que sua celebrada intuição
fina o tenha aconselhado a agir diferente. A motivação por ora não está clara.
O que lhe disse o anjo da guarda vamos
conseguir desvendar ao longo do andar da carruagem, mas é possível fazer alguma
suposição a partir da declaração feita na mesma reunião ministerial em que deu
a largada para 2026.
Aventou ali a hipótese de não concorrer à
reeleição devido a problemas de saúde ou ao imponderável. A decisão, disse,
está "nas mãos de Deus". Conhecendo a avaliação de Lula a
respeito de si, sabemos a quem ele se refere quando alude ao divino.
Nessa perspectiva, talvez esteja repetindo o
jogo feito em outras ocasiões em que disseminava dúvida sobre se disputaria a
próxima eleição a fim de alimentar no PT, temeroso da derrota, a unidade em
torno dele e desestimular outras candidaturas no partido.
Na atual conjuntura e na condição de
presidente, ele corre o risco de jogar com cartas descartadas do baralho pela
passagem do tempo e mudança nas circunstâncias, pois Lula, o PT, a oposição e
os anseios dos brasileiros não são mais os mesmos. Diante disso, a intuição
pode não bastar.
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