Valor Econômico
Genial/Quaest representa para o governo o retrato de uma área devastada depois de uma tempestade
A pesquisa Genial/Quaest representa para o governo o retrato de uma área devastada depois de uma tempestade. O dado mais impressionante não é a queda da aprovação abaixo da reprovação pela primeira vez desde o início do governo (47% a 49%). Nem a avaliação de bom e ótimo em apenas 31%. Chama mais a atenção a redução da aprovação em todas as fortalezas do voto lulista: Nordeste (67% para 60%), Mulheres (54% para 49%), ensino fundamental (60% para 57%), renda até dois salários mínimos (63% para 56%).
A queda nesses segmentos foi mais expressiva
do que a observada onde Lula tradicionalmente é mais impopular: Sudeste (44%
para 42%), homens (49% para 45%), ensino superior completo (41% para 40%),
renda acima de cinco mínimos (manteve-se em 39%).
Isso é um sinal de que o desastre de
comunicação da iniciativa da Receita Federal de fiscalizar as transações pelo
Pix, capitalizado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), ultrapassou as
fronteiras da oposição bolsonarista. Outros dois pontos baixos do governo Lula
não tiveram esse condão. Em abril de 2023, a taxação sobre compras
internacionais, a famosa “taxa das blusinhas”, não arrastou para baixo sua
popularidade. Em fevereiro de 2024, a comparação feita pelo presidente da
guerra de Gaza com o Holocausto impactou na população evangélica.
O foco do incêndio se alastrou com o mato
seco da inflação de alimentos, percebida por 83% dos pesquisados, cinco pontos
percentuais a mais do que no levantamento de dezembro. Este percentual ficou na
faixa de 70% ao longo de todo 2024, o que não é trivial. Em junho de 2023 a
inflação de alimentos era sentida por 46%. Não há detalhamento dessa questão em
pesquisas anteriores, o que é sugestivo da menor importância do tema no início
do atual governo.
As últimas ações do governo federal indicam
antes mesmo da pesquisa e da polêmica sobre o Pix extrema preocupação com o
impacto da inflação na popularidade. Há bastante desnorteio, vide o balão de
ensaio sobre “intervenção” nos preços, e o sentido de urgência deve aumentar
nos próximos dias. No dia 1º de fevereiro o ICMS sobre a gasolina deve subir R$
0,10 por litro e o do diesel, R$ 0,06. É aumento contratado desde outubro, por
decisão do Conselho Nacional de Política Fazendária, mas que tem seu impacto político
amplificado pelo momento. É combustível para o fogo se alastrar.
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