Folha de S. Paulo
O comprometimento com diversidade e inclusão
mostrou-se sujeito a pressões políticas e tendências do mercado
Reconhecimento, justiça e desenvolvimento são
os pilares da Segunda Década
Internacional para os Afrodescendentes (2025-2034), reeditada pela
Assembleia geral das Nações Unidas, em dezembro, para promover a efetividade de
direitos humanos.
Receio que a iniciativa esteja fadada ao fracasso. Não só porque uma década (ou duas, no caso) é pouco para deslindar o trágico legado dos séculos de escravização africana. Mas também porque as principais causas da insuficiência da Primeira Década (2015-2024) —falta de investimentos, baixo incentivo institucional e pouco compromisso— não foram resolvidas.
Para completar, o comprometimento com
diversidade, equidade e inclusão mostrou-se sujeito a pressões políticas e
tendências do mercado. E o cenário global mudou. Nos Estados
Unidos, por exemplo, o retrocesso nos chamados programas DEI (de
diversidade, equidade e inclusão) cresceu desde que a Suprema Corte (de maioria
conservadora) proibiu, em 2023, o uso de critérios raciais em processos de
admissão acadêmica. Na Universidade Harvard, a decisão resultou no menor número
de alunos negros matriculadas na faculdade de direito desde o Movimento pelos
Direitos Civis, na década de 1960.
A iminência do governo Trump também alimenta
a ideia equivocada de que ter sucesso depende só de esforço individual,
desconsiderando a importância das ações afirmativas para reparar injustiças e
combater desigualdades históricas.
Nesse sentido, nos últimos dias a Meta (empresa
dona do Instagram, Threads e Facebook)
anunciou o fim de ações de diversidade, equidade e inclusão, e o McDonald’s
noticiou a reversão de práticas voltadas à diversidade nos EUA, por exemplo.
Na prática, o que temos em lugar do
reconhecimento é a desconsideração da herança africana. Onde deveria prevalecer
a justiça, há discriminação. E a desigualdade vigora sobre o desenvolvimento
(que implica oferta de oportunidades). É difícil acreditar no êxito de qualquer
iniciativa para promover equidade e justiça racial sem o engajamento das
empresas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.